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Pesquisadores analisam a inclusão de pessoas com deficiência visual nas discussões sobre redução do risco de desastres
Um artigo elaborado por pesquisadores da UFMT e do Cemaden/MCTI - em parceria com três instituições de Mato Grosso, que trabalham com pessoas com deficiência visual – faz diversas reflexões sobre as vulnerabilidades desse grupo. A finalidade é promover um diálogo entre pessoas com e sem deficiência, instituições públicas e gestores da defesa civil, além dos formuladores de planos de redução de risco de desastres (RRD).
Para a compreensão das dimensões da vulnerabilidade das pessoas com deficiência visual e a inclusão desse grupo nos planos de Redução de Risco de Desastres (RRD), foi realizada uma pesquisa qualitativa e exploratória em Cuiabá, estado de Mato Grosso.
A pesquisa contou com a participação do pesquisador Victor Marchezini, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden)- unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
O artigo foi publicado no último dia 11 de fevereiro, no International Journal of Disaster Risk Science, da editora Springer Nature, com o título: “(In)visibilities About the Vulnerabilities of People with Visual Impairments to Disasters and Climate Change: A Case Study in Cuiaba´, Brazil” [(In)visibilidades sobre as Vulnerabilidades das Pessoas com Deficiência Visual aos Desastres e Mudanças Climáticas: Um Estudo de Caso em Cuiabá, Brasil].
A pesquisa sobre como incluir as pessoas com deficiência visual na discussão de Redução de Risco de Desastres (RRD) e de mudanças climáticas foi liderada pela pesquisadora Giselly Gomes, do Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte, da Universidade Federal de Mato Grosso (GPEA/UFMT) e do Instituto dos Cegos do Estado de Mato Grosso ( ICEMAT), do pesquisador Victor Marchezini , do Cemaden, do Programa de Doutorado em Ciências do Sistema Terrestre, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e do Programa de Pós-Graduação em Desastres Naturais, ICT/Unesp-Cemaden; e da pesquisadora Michele Sato, da Universidade Federal de Mato Grosso (PPGE/UFMT).
Ações identificadas que devem ajudar a inclusão de debates e planos
Ao redor do mundo existem cerca de 1 bilhão de pessoas com algum tipo de deficiência, segundo relatório produzido pela Organização das Nações Unidas(ONU), sendo que 46% têm acima de 60 anos e, dentre as crianças, uma em cada dez convivem com ela. No Brasil, 23,9% da população - 45,6 milhões de pessoas - possuem algum tipo de deficiência, de acordo com Dados do Censo Demográfico 2010, do IBGE. Deste conjunto, 6,5 milhões possuem algum tipo de deficiência visual. Em Cuiabá, são cerca de 17 mil pessoas.
Há o reconhecimento de que a sociedade cria barreiras incapacitantes à inclusão do grupo, como a inacessibilidade das edificações, políticas discriminatórias, preconceito, falta de suporte, dentre outros. Isso se aplica também à área de gestão de risco de desastres, em que se constata: falta de dados, informação e conhecimento sobre pessoas com deficiência; exclusão dos estágios de gestão de risco de desastres (prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação); inacessibilidade das medidas de preparação para emergências e alertas; e estigma e discriminação.
Realizado em Cuiabá, o estudo envolveu diversas instituições em um método de mapeamento da exposição das pessoas com deficiência visual frente a deslizamentos e inundações. O método proposto combinou os mapas de risco de inundação e de deslizamentos fornecidos pela defesa civil municipal e pela CPRM. Também incluiu os dados georreferenciados das instituições que lidam com as pessoas com deficiência visual e as moradias. Além disso, realizou entrevistas para ouvir as opiniões do grupo sobre suas vulnerabilidades e capacidades no enfrentamento e prevenção do risco de desastre. Por fim, analisou iniciativas de educação inclusiva para reduzir as barreiras incapacitantes na redução de risco de desastres.
A pesquisa envolveu uma tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFMT, o Cemaden, a Defesa Civil Municipal de Cuiabá (NUPDEC/Cuiabá), o Instituto de Cegos do Estado de Mato Grosso (ICEMAT), o Centro de Apoio e Suporte à Inclusão da Educação Especial (CASIES) e a Associação dos Cegos de Mato Grosso (AMC)
“É fundamental compreender as dimensões social, econômica, ambiental, política, técnica e institucional, que tornam as pessoas vulneráveis”, afirma a pesquisadora Giselly Gomes, autora principal do artigo. Ela destaca que poucos estudos analisaram a deficiência visual e a redução do risco de desastres nos países da América Latina e Caribe. “O artigo reflete a inacessibilidade entre as pessoas com deficiência visual e visa compreender o contexto dessas vulnerabilidades, que inviabiliza a participação desse grupo no debate de redução de risco de desastres e adaptação a mudanças climáticas”, afirma Marchezini e complementa: “Compreender essas dimensões da vulnerabilidade e capacidades das pessoas com deficiência visual é uma questão importante para reduzir a cultura de desastres negligenciados.”
O artigo completo “(In)visibilidades sobre as Vulnerabilidades das Pessoas com Deficiência Visual aos Desastres e Mudanças Climáticas: Um Estudo de Caso em Cuiabá, Brasil” está disponibilizado no link:
https://link.springer.com/article/10.1007/s13753-022-00394-6
Fonte: Ascom/Cemaden