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Pesquisadoras do Cemaden desenvolvem método integrativo para estimar populações expostas em áreas de riscos de desastres
Áreas suscetíveis e áreas de risco a inundações e deslizamentos em Caraguatatuba, SP. Em amarelo e laranja, áreas de risco; em azul, suscetibilidade alta a inundações; em rosa, suscetibilidade alta a deslizamentos.
Até 2050, praticamente dois terços da população mundial viverá em áreas urbanas. O aumento da intensidade e frequência de eventos extremos, gerado a partir dos impactos das mudanças climáticas, vem transformando as cidades em áreas vulneráveis, principalmente devido à expansão urbana desordenada, com ocupações inadequadas, loteamentos clandestinos e assentamentos precários em áreas impróprias, suscetíveis a riscos geológicos e hidrológicos.
Para prevenir e minimizar os riscos de desastres associados a eventos climáticos extremos, é fundamental o avanço do conhecimento para apoiar a implementação de ações e políticas públicas voltadas à resiliência urbana dos municípios brasileiros e o planejamento das cidades.
Nesse contexto, as pesquisadoras Fabiana Lourenço e Silva Ferreira, Rita Marcia da Silva Pinto Vieira, Daniela Ferreira Ribeiro e Silvia Midori Saito, do Centro Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, (Cemaden), unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), e Brenda Chaves Coelho Leite, professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP), desenvolveram uma metodologia para estimar a porcentagem da população exposta em áreas de riscos de desastres, a partir da identificação das áreas urbanizadas localizadas em regiões com alta suscetibilidade a inundações e deslizamentos, nas quais a população pode estar exposta aos efeitos de eventos extremos. Para isso, utilizaram uma abordagem estratégica, que integra informações provenientes de diversas bases de dados em escalas espaciais distintas.
Os resultados acabam de ser publicados em capítulo do livro “Cidades e a emergência climática: pesquisas e respostas”, lançado pela editora Annablume. O livro é resultado da interação de grupos de pesquisa do Centro de Síntese Cidades Globais, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA UPS) e teve apoio da Associação de Engenheiros da SABESP (AEASABESP). A organização é de Laura S. Valente de Macedo, Maria Cecilia Lucchese e Marta Arantes Godoy.
O trabalho intitulado “Estimativa da população exposta a risco de ameaças naturais em municípios brasileiros: um método integrativo para a redução de riscos” utilizou como área de estudo o município de Caraguatatuba, localizado na Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte. A região apresenta um histórico de desastres, cujo mais catastrófico ocorreu em 1967, desencadeado por um considerável volume de chuvas que assolou o município durante um intervalo de 48 horas. Segundo o IBGE, Caraguatatuba apresentou um crescimento populacional de 33,75% em relação ao Censo de 2010, passando de 100.840 habitantes em 2010 para 134.875 em 2022. O município caracteriza-se por apresentar 39,42% de seu território urbanizado, com 9,4% de suas vias públicas urbanizadas, sendo que 69% dessas vias possuem arborização e 88%, rede de esgoto sanitário.
O percentual estimado de população exposta no município estudado, definido a partir do mapeamento de áreas urbanizadas, coincidentes com as áreas mapeadas com alta suscetibilidade a deslizamentos e inundações, no município de Caraguatatuba, foi de 6,63%, enquanto o percentual de população estimada em áreas de risco foi de 2,98%. Esses resultados permitem estimar, com base nos dados do Censo de 2010, que o percentual de pessoas expostas em áreas de risco e em áreas com alta suscetibilidade a deslizamentos e inundações é de 9,61% ou 9.687 pessoas.
O método de cálculo proposto pelas autoras simplifica a realidade e utiliza dados públicos e sem restrições. O mapeamento de áreas urbanizadas, em áreas com alta suscetibilidade a inundações e deslizamentos pode auxiliar na identificação áreas com potencial para se tornarem futuras áreas de risco dentro do município e contribuir para o mapeamento de novas áreas de risco, deflagradas a partir de processos de expansão urbana.
As pesquisadoras sugerem a aplicação do método proposto em diferentes municípios, em trabalhos futuros, visando avaliar a adaptabilidade e a eficácia do método em contextos diversos. Além disso, recomendam a integração das informações geradas com bancos de dados de ocorrências de desastres, com o objetivo de enriquecer e validar as conclusões obtidas. Outra vertente promissora envolve a inclusão de dados sobre cobertura e uso do solo. Essa expansão das informações contribuirá para a validação e complementação dos dados referentes às áreas de risco nos municípios, possibilitando também uma compreensão mais holística e aprofundada dos contextos de risco, enriquecendo a análise e ampliando as possibilidades de intervenções preventivas e de mitigação.