Analisar o processo de reconstrução e recuperação em desastres, apresentando os problemas enfrentados pelas pessoas que sofreram perdas familiares, de moradias e de trabalho – com abordagens sob a perspectiva da Sociologia dos Desastres – é o foco do estudo realizado pelo pesquisador e sociólogo Victor Marchezini, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e pelo pesquisador Henrique Almeida Forini.
O artigo intitulado “Dimensões sociais da resiliência a desastres”, publicado na Revista de Desenvolvimento Regional (Redes), do programa de pós-graduação da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), aponta caminhos metodológicos e teóricos para a compreensão do conceito de resiliência, apresentando novas propostas para elaboração de políticas públicas, que possam atuar além da reconstrução material. O estudo teve como base a análise das experiências vividas pelas vítimas e desabrigados após as inundações ocorridas em Ilhota (SC), no ano de 2008, e em São Luiz do Paraitinga(SP), no ano de 2010.
A pesquisa identificou três aspectos fundamentais de resiliência que podem orientar as estratégias de desenvolvimento socioeconômico em áreas atingidas em desastres: a família e/ou grupo doméstico, a casa e o trabalho.
“As características individuais, os impactos materiais e emocionais, as relações de vínculos familiares e sociais durante e após as inundações são elementos que devem ser mais analisados nos processos de reconstrução e recuperação em desastres”, enfatiza o pesquisador do Cemaden, Victor Marchezini.
A pesquisa apresenta as dificuldades das pessoas para a nova inserção na sociedade, desde as relações familiares, a problemática da moradia até a falta de trabalho, devido ao colapso sofrido pelo setor econômico na região da ocorrência dos desastres. “No caso de Ilhota/SC, uma das grandes dificuldades foi restabelecer as atividades econômicas na área rural, desde a produção até a distribuição dos produtos agrícolas.”, afirma Marchezini e explica : “ Para os trabalhadores da região que ficaram desabrigados, isto é, perderam suas casas, a política pública de reconstrução das moradias deveria vir acompanhada de uma política pública de recuperação e geração de empregos, pois a decisão de onde morar também estava vinculada à oportunidade de trabalhar.”.
No caso de São Luiz do Paraitinga/SP, o pesquisador explica sobre a importância do restabelecimento das atividades turísticas, uma das principais do município. Foi um desafio que envolveu diversos atores governamentais e não governamentais para além, é claro, das dimensões psicossociais de recuperação frente aos eventos traumáticos. Nesse munícipio, a cultura teve um papel central na resiliência local. “De forma interessante, a reconstrução frente ao desastre foi uma oportunidade de geração de empregos locais e de recuperação de parte do setor de serviços. É claro que esse é um processo de recuperação em longo prazo”, afirma Marchezini.
“É importante realizar pesquisas para conhecer esses desafios e pensar como eles devem ser considerados para inserção nas políticas públicas de assistência social e recuperação socioeconômica de áreas atingidas pelos desastres.”, aponta o sociólogo.
O artigo “Dimensões sociais da resilência a desastres” está disponibilizado pelo endereço : https://online.unisc.br/seer/index.php/redes/article/view/13000
Fonte: Ascom/Cemaden