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Pesquisador do Cemaden aponta metodologias para antecipar alerta em eventos meteorológicos severos
Conhecer o perfil das nuvens e as características da estrutura de precipitação – analisando os dados do radar e não apenas as imagens – são os pontos principais para o desafio da previsão e monitoramento de tempestades severas, as quais podem resultar em granizo, rajadas de vento, inundações, enchentes, enxurradas, raios e tornados. Essa foi a conclusão do pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), meteorologista Vinicius Banda Sperling, com base nos estudos de tempestades que geraram alagamentos ocorridas no estado de São Paulo no período chuvoso de 2014, 2015 e 2018 e uma tempestade severa ocorrida em Campinas/SP em 2016. Os estudos fazem parte da linha de pesquisa do Cemaden, que trata sobre “Extremos Meteorológicos e Climatológicos Aplicados a Desastres Naturais”.
As tempestades severas estudadas resultaram em alagamentos e enxurradas, deixando regiões intransitáveis, principalmente na Região Metropolitana de São Paulo, causando transtornos não somente na mobilidade urbana, como danos pelas quedas de árvores, impactos nas construções (como destelhamento e inundação) e impactos no sistema de energia elétrica.
“A previsão de tempestades não é resolvida por modelos que conseguem prever apenas os ‘fatores ou ingredientes’ para a formação de tempestades.”, destaca o pesquisador Sperling. Ele explica que a quantificação e precisão da chuva, velocidade do vento e formação de granizo ainda continuam um desafio na previsão meteorológica das tempestades severas. “É importante conhecer as características da estrutura da precipitação para esses eventos de curta duração , de forma a auxiliar os tomadores de decisões.”
Análise da tempestade ocorrida em São Paulo, em março de 2018, e de granizo em Campinas, ocorrido em junho de 2016
Analisando a chuva intensa do dia 20 de março de 2018, na capital de São Paulo, iniciada às 15h30min (horário local), foram registradas as ocorrências de enxurradas e alagamentos na zona norte da cidade de São Paulo, após 40 minutos do início da chuva.
O pesquisador utilizou as imagens do radar meteorológico do DECEA, localizado em São Roque/SP, que cobre uma área de 500 km de diâmetro. Com as oito varreduras volumétricas do radar, entre as 15h30min e 16h40min (horário local), os dados do radar informaram o ciclo dos hidrometeoros dentro das nuvens (como a quantidade integrada de água líquida, a formação de gelo) e, posteriormente, a identificação dos limiares destas variáveis associadas às tempestades que geraram alagamentos. Os “limiares de disparos” para eventos de alagamentos em São Paulo foram baseados na análise do histórico de 12 eventos de alagamentos.
“ Com informações obtidas pelo radar e o conhecimento dos limiares de disparo de eventos de alagamentos, é possível fazer um modelo de sistema de alerta automatizado”, destaca o pesquisador. Informou que com os dados obtidos nesse dia 20 de março, a nuvem de tempestade tinha 120 km² de área e, em 10 minutos, passou a ter 276 km², ou seja, mais que dobrou a área da tempestade em apenas 10 minutos, sugerindo um rápido crescimento da nuvem.
Na análise da tempestade severa ocorrida em Campinas (SP), no dia 5 de junho de 2016, próximo a um shopping da cidade, era meia-noite (horário local), quando os dados do radar registraram um grande disparo de água ascendente e transformação em gelo e, após 10 minutos, a atividade elétrica dentro da tempestade triplicou. Às 00h30min (horário local), ou seja, meia hora após a rápida intensificação da tempestade, já estava caindo granizo e fortes ventos foram observados na cidade, com um registro de 226 raios em apenas 4 minutos.
O pesquisador explica que acompanhando a formação e a evolução das nuvens pelos dados do radar meteorológico, como os perfis de refletividade das imagens desse radar, pode-se obter análises desde a ascensão da água nas nuvens, a transformação em gelo e a ocorrência de descargas elétricas, até o início da chuva na superfície.
“Com a análise dos dados brutos dos radares, é possível trabalhar com uma previsão antecipada, adiantando o alerta de risco de enxurradas e alagamentos, para o caso de alagamento em São Paulo, desde 24 até 46 minutos de antecedência.”, explica o pesquisador Vinícius Sperling e complementa: “Conhecendo as características físicas dos sistemas precipitantes (por meio do radar), podemos utilizar ‘limiares de disparo’ para eventos de alagamentos e enxurradas.” Destacou que, geralmente, os eventos de alagamentos/enxurradas ocorrem em uma janela de tempo entre a iniciação e a maturação das tempestades.
O coordenador-geral de Operações e Modelagens do Cemaden, meteorologista Marcelo Seluchi, que acompanhou o desenvolvimento da pesquisa, considera que essas análises devem ser aprofundadas e discutidas junto aos especialistas de T.I, de modelagens de radar e da Sala de Situação do Cemaden. “ Esses parâmetros analisados são importantes e devem entrar na plataforma SALVAR do Cemaden para aprimorar as decisões de emissão de alertas de riscos hidrológicos.”, afirma Seluchi.
(Fonte: Ascom-Cemaden)