Notícias
Pesquisa do Cemaden analisa estudos científicos que utilizaram metodologias forenses em desastres
Um estudo científico publicado no periódico internacional Journal of Disaster Risk Science, Editora Springer, intitulado “A Systematic Review of Forensic Approaches to Disasters: Gaps and Challenges” (Uma revisão sistemática das abordagens forenses em desastres: lacunas e desafios), identificou a necessidade de um esforço transdisciplinar para abordar outros componentes que criam os riscos de desastres, como: as desigualdades e racismo como causas básicas da vulnerabilidade, as pressões dinâmicas associadas à expansão urbana, aspectos de governança, como a falta de mecanismos para participação popular na gestão de risco de desastres.
A publicação tem a participação do sociólogo Victor Marchezini, pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) – unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A pesquisa foi liderada pelo doutorando Adriano Mota Ferreira, como parte de sua tese no Programa de Pós-Graduação em Desastres, parceria entre Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Cemaden/MCTI.
Abordagens forenses para desastres
Os pesquisadores analisaram os contextos interdependentes e interligados para diferentes tipos de ameaças, citados nos estudos científicos. Enfatizaram a análise dos aspectos físicos e demográficos, sociais, econômicos e políticos.
O trabalho científico teve o objetivo de realizar uma análise qualitativa desses estudos forenses, concentrando-se em cinco questões principais: as metodologias aplicadas; as abordagens forenses utilizadas nas fases de gestão de risco de desastres; as ameaças (inundações, deslizamentos, entre outras) abordadas nos diferentes estudos; se as metodologias envolvem participação social e quais tipos de participação; e, por fim, se houve referências ao planejamento urbano nos artigos analisados.
As metodologias forenses em desastres ganharam notoriedade em 2010, quando o Programa Científico Internacional “Integrated Research on Disaster Risk” (IRDR), apoiado pelo International Science Council (ISC) e pelo Escritório das Nações Unidas para Redução de Risco de Desastres (United Nations Office for Disaster Risk Reduction-UNDRR), lançou o projeto Forensic Investigations of Disasters-FORIN (Investigação Forense de Desastres). O intuito do projeto, atualizado em 2016, é examinar as causas profundas da vulnerabilidade (desigualdade de renda, racismo, falta de acesso a poder político) e os fatores de risco de desastres (como ineficiência do planejamento territorial, expansão urbana, desmatamento, falta de saneamento básico etc.) para compreensão de como e o porquê é construído, socialmente, o risco de desastre.
A pesquisa liderada pelo doutorando Adriano Mota Ferreira, do Programa de Pós-Graduação em Desastres (ICT/Unesp-Cemaden), teve a participação de Victor Marchezini, sociólogo no Cemaden/MCTI, Tatiana Sussel Gonçalves Mendes, docente do Programa de Pós-Graduação em Desastres (ICT/Unesp-Cemaden), de Miguel Trejo-Rangel, pós-doutorando na Unidade Irlandesa de Análise e Pesquisa Climática da Universidade de Maynooth, e Allan Iwama, da Universidade Federal da Paraíba.
Mota Ferreira, que tem bolsa doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), explica que “os estudos analisados abordaram diferentes tipos de ameaças, riscos, aspectos físicos e demográficos, sociais, econômicos e políticos de extrema importância para o entendimento dos desastres, enquanto processos que se desenvolvem ao longo do tempo”.
Resultados e necessidades de futuras pesquisas
Dentre os 156 artigos listados a partir dos critérios de busca, 19 artigos revisados apresentaram metodologias forenses, sendo 11 classificados como metodologias forenses específicas em desastres, como a FORIN, que concentrou a maior parte dos estudos. Os artigos consideram as diferentes fases do ciclo da gestão de riscos de desastres e pelo menos a metade deles está vinculada com multiameaças, ou seja, quando eventos perigosos podem ocorrer simultaneamente. Entretanto, foram identificadas algumas lacunas de metodologias participativas nas investigações forenses de desastres. Sobre este último ponto, o pesquisador Miguel Trejo-Rangel, destaca a importância da participação social nas pesquisas em desastres. “O papel da sociedade é fundamental na redução dos riscos de desastres e deve ser considerada tanto na gestão como nos estudos que tenham como objetivo pesquisar as causas de fundo dos desastres”.
Victor Marchezini, que teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - Fapesp (processo 2018/06093-4) para o desenvolvimento da pesquisa durante o pós-doutorado, destaca que a metodologia de investigação forense de desastres tem potencial para aplicação em pesquisas e para subsidiar políticas públicas de redução de risco de desastres. “Precisamos entender os desastres como resultados de processos sociais que se acumulam e se intensificam no território, sendo que os modelos insustentáveis de crescimento econômico catalisam o desmatamento, a expansão urbana e outros fatores de risco que contribuem para os desastres”, argumenta o sociólogo.
O artigo intitulado “A Systematic Review of Forensic Approaches to Disasters: Gaps and Challenges” (Uma revisão sistemática das abordagens forenses em desastres: lacunas e desafios) está disponível no endereço:
https://link.springer.com/article/10.1007/s13753-023-00515-9
Fonte: Ascom/Cemaden