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NOTA TÉCNICA SOBRE ANÁLISE DAS CONDIÇÕES DE SECAS E PREVISÕES HIDROLÓGICAS PARA A REGIÃO DO PANTANAL
1. SUMÁRIO EXECUTIVO
Na presente Nota Técnica apresenta-se a situação da seca no Pantanal entre dezembro de 2023 e maio de 2024. O período foi marcado por chuvas irregulares e déficit hídrico, resultando em seca severa ou extrema em grande parte da região, especialmente no período supracitado. A seca afetou significativamente as áreas agroprodutivas, principalmente os minifúndios. A situação hidrológica é crítica, com seca excepcional registrada nas estações fluviométricas de Ladário e de Porto Murtinho desde janeiro de 2024. A previsão para o trimestre MAIO-JUNHO-JULHO de 2024 indica alta probabilidade de fogo no Pantanal, especialmente no Mato Grosso do Sul.
1. VARIABILIDADE DAS CHUVAS NOS ÚLTIMOS CINCO ANOS NA BACIA DO ALTO PARAGUAI
Na Figura 1 apresentam-se as anomalias de chuvas em relação à média histórica do período, com valores negativos (vermelho) indicando chuvas abaixo do normal e valores positivos (azul) indicando chuvas acima do normal. Observa-se um padrão de déficit de chuvas em quase todos os anos analisados, com exceção de 2022/2023, que apresentou 76 mm acima da média. Nos demais anos, as anomalias foram negativas, com destaque para 2020/2021, que registrou o maior déficit do período (-311 mm), seguido por 2023/2024 (-277 mm). O verão de 2024 foi marcado por chuvas irregulares na Bacia do Alto Paraguai, com precipitação abaixo da média em janeiro, fevereiro e maio, e acima da média em março e abril.
2. ÍNDICE INTEGRADO DE SECAS (IIS) NA ESCALA DE 1 MÊS
O Índice Integrado de Seca (IIS) do CEMADEN/MCTI combina informações sobre o déficit de chuvas, a umidade do solo e o estresse hídrico da vegetação para avaliar a intensidade da seca em uma determinada região. As análises do Índice Integrado de Seca (IIS) em curto prazo (1 a 3 meses) são relevantes para avaliar os impactos do déficit hídrico, tanto na vegetação (relacionado ao potencial de risco de fogo) quanto na produção agrícola, especialmente em cultivos de ciclo curto. Essas informações são importantes para a tomada de decisão em relação ao manejo agrícola e à prevenção de incêndios florestais.
O Índice Integrado de Seca (IIS-1) na escala de 1 mês para a região de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, incluindo o Pantanal, de dezembro de 2023 a maio de 2024 é apresentado na Figura 2. Observa-se que as condições de secas foram heterogêneas na região, no período avaliado, com destaque para o mês de dezembro de 2023, com grande parte da região classificada como em condição de "Seca Severa" ou "Seca Extrema". Em abril, em razão dos acumulados de chuvas registrados, houve uma pequena melhora, com algumas áreas passando para a classificação de "Seca Moderada". Em maio, a situação se agravou novamente, com a "Seca Extrema" se expandindo e cobrindo quase toda a região, em razão do déficit de chuvas no mês.
A Bacia do Alto Paraguai (BAP, linha azul na Figura 2) apresenta como característica marcante a divisão entre áreas de planalto, mais altas, onde ocorrem predominantemente as formações de Cerrado, e áreas de planície, mais baixas e alagáveis. Essa característica do relevo exerce forte influência na dinâmica hidrológica da região, afetando a ocorrência de secas e cheias. Os mapas do IIS mostram que as secas têm sido mais intensas nas áreas de planalto da BAP. Tal condição tem contribuído para a queda dos níveis dos rios da bacia, uma vez que o planalto desempenha um papel crucial na manutenção da disponibilidade hídrica, abrigando as nascentes de muitos rios e contribuindo para a recarga dos aquíferos.
3. ÍNDICE INTEGRADO DE SECAS (IIS) NA ESCALA DE 3 MESES
Considerando a escala de três meses, que compila as condições de seca de março a maio, o Índice Integrado de Seca (IIS-3) apresenta áreas com seca moderada e severa predominantemente no sul do Mato Grosso do Sul e no norte do Mato Grosso (Figura 3). A previsão do IIS-3 para o mês de junho indica que a situação de seca na região Centro-Oeste deve persistir, com potencial agravamento em algumas áreas (norte do Mato Grosso do Sul).
3.1. ÁREAS POTENCIALMENTE AGROPODUTIVAS
A evolução temporal do número de municípios em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul com áreas agroprodutivas potencialmente afetadas pela seca entre dezembro de 2023 e maio de 2024 é apresentada na Figura 4. Em dezembro, 95 municípios (43% do total) nos dois estados já apresentavam pelo menos 40% de suas áreas agroprodutivas impactadas. A situação se agravou em maio de 2024, quando esse número aumentou para 118 municípios (54% do total).
O impacto da seca em imóveis rurais de diferentes portes (minifúndios, pequenos e médios) entre dezembro de 2023 e maio de 2024 é ilustrado na Figura 5. Com exceção do mês de abril, a seca afetou a maioria das propriedades em todos os meses analisados, independentemente do tamanho. Os minifúndios foram os mais afetados, com grande parte deles apresentando mais de 80% da área impactada em dezembro de 2023, março e maio de 2024. A irregularidade das chuvas no verão-outono de 2024 intensificou a seca, resultando em picos de impactos em dezembro, março e maio, quando houve um aumento no número de imóveis com maior área afetada.
4. ANÁLISE HIDROLÓGICA
O Índice Padronizado Bivariado Precipitação-Vazão (TSI), permite a caracterização das secas hidrológicas pela análise conjunta tanto da precipitação quanto da vazão nas bacias hidrográficas. De acordo com o TSI na escala temporal de 12 meses (Figura 6), as bacias afluentes às estações fluviométricas de medições de Ladário e Porto Murtinho, localizadas às margens do rio Paraguai, encontram-se em condição de seca hidrológica excepcional (TSI-12 = 3.42 e TSI-12 = -3.45, respectivamente). Destaca-se que ambas as regiões apresentam seca hidrológica excepcional, intensidade mais crítica, desde janeiro de 2024.
Em Ladário, localizado no noroeste do Estado do Mato Grosso do Sul, foi registrado, no mês de maio, um incremento do nível médio do rio comparativamente ao mês anterior (21 cm), como pode ser observado na Figura 7. O atual nível médio mensal do rio em Ladário (144 cm) configura uma situação bastante crítica, com valor correspondente a apenas 37% da média histórica de maio (384 cm). Ressalta-se que, a estação de Ladário é uma das referências para acompanhar o comportamento do nível do Rio Paraguai, por estar localizada na região central do Pantanal e gerando dados desde 1900. Neste local, para que seja considerada situação de "cheia", de acordo com relatório final do Programa de Ações Estratégicas para o Gerenciamento Integrado do Pantanal e da Bacia do Alto Paraguai (ANA/GEF/PNUMA/OEA), o nível do rio precisa atingir no mínimo 400 cm. Adicionalmente, em Porto Murtinho, localizada na região oeste do Estado do Mato Grosso do Sul, também foi registrado um aumento do nível médio do rio em maio quando comparado ao mês anterior, de aproximadamente 19 cm (Figura 7). No entanto, o atual nível médio em Porto Murtinho (223 cm), é equivalente a apenas 46% do esperado para o período (489 cm), configurando uma situação bastante crítica.
Ressalta-se, também, que a Agência Nacional de Águas (ANA) declarou, no dia 14 de maio de 2024, situação crítica de escassez quantitativa dos recursos hídricos na região hidrográfica do Paraguai, que terá vigência até 31 de outubro de 2024, podendo ser prorrogada caso a situação de escassez persista. A escassez hídrica nessa região pode provocar impactos significativos para os usos da água, especialmente no abastecimento de cidades como Cuiabá, no Mato Grosso, e Corumbá, em Mato Grosso do Sul. Além disso, atividades como navegação, turismo, pesca e geração de energia também podem ser afetados.
5. PREVISÃO DE PROBABILIDADE DE FOGO
Na Figura 8 apresenta-se a previsão da probabilidade de fogo para a região do Pantanal para o trimestre MAIO-JUNHO-JULHO de 2024. No Mato Grosso, grande parte do estado apresenta níveis de alerta (54 municípios) e de atenção (72 municípios), além de 3 municípios em alerta alto, indicando uma alta probabilidade de fogo. A área em alerta abrange 391.147 km², enquanto a área em alerta alto abrange 19.845 km².
A situação é mais crítica no Mato Grosso do Sul, com grande parte do território em situação de atenção e de alerta. As áreas em alerta e em alerta alto abrangem um pouco mais de 100 mil km², incluindo 23 municípios e 1 município, respectivamente.
Em relação à área do Bioma Pantanal, que abrange áreas de ambos os estados, a situação é de atenção e de alerta em todo o território.
6. VARIABILIDADE DA TEMPERATURA MÉDIA DA SUPERFÍCIE
As anomalias de temperatura média (TMED) no Pantanal entre dezembro de 2023 e maio de 2024 mostram um padrão de aquecimento gradual, com algumas flutuações. Nos meses de dezembro de 2023 a abril de 2024, predominam anomalias positivas de TMED, com valores entre 2,0 e 3,0 °C acima da média em grande parte da região. No mês de março de 2024, observa-se um aumento nas anomalias de TMED, com valores predominantemente entre 3,0 e 4,0 °C acima da média. Este é o mês mais quente do período analisado. Especialmente no período de dezembro a março, o calor acima da média, associado também com as condições de seca em parte da região, podem ter contribuído para a redução dos níveis dos rios.
Elaborado por:
Ana Paula Martins do Amaral Cunha
Luz Adriana Cuartas
Lidiane Cristina Oliveira Costa
Elisangela Broedel
Márcia Guedes
Revisado por:
Regina Célia dos Santos Alvalá
Na presente Nota Técnica apresenta-se a situação da seca no Pantanal entre dezembro de 2023 e maio de 2024. O período foi marcado por chuvas irregulares e déficit hídrico, resultando em seca severa ou extrema em grande parte da região, especialmente no período supracitado. A seca afetou significativamente as áreas agroprodutivas, principalmente os minifúndios. A situação hidrológica é crítica, com seca excepcional registrada nas estações fluviométricas de Ladário e de Porto Murtinho desde janeiro de 2024. A previsão para o trimestre MAIO-JUNHO-JULHO de 2024 indica alta probabilidade de fogo no Pantanal, especialmente no Mato Grosso do Sul.