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Mudanças climáticas e distúrbios humanos ameaçam a capacidade de remoção de carbono pelas florestas na Amazônia
Um trabalho científico aponta que está comprometida a capacidade ideal da captura de carbono realizada pela floresta amazônica, ao analisar a quantificação das variadas e complicadas taxas de crescimento das florestas secundárias tropicais. Essas florestas – também conhecidas como capoeiras – referem-se à regeneração e ao crescimento em áreas desmatadas. Como estão em fase de crescimento e acúmulo de biomassa, as florestas secundárias são consideradas importantes, tendo um papel crucial na absorção em até 20 vezes mais rápida do gás carbono da atmosfera, do que a absorção feita pelas florestas antigas. Já as florestas em crescimento antigo estão em situação incerta e, potencialmente, ameaçadas devido às mudanças climáticas, fogo e desmatamento.
O estudo publicado, nesta semana, na Revista Nature Communications, foi realizado pelo consórcio internacional de cientistas do Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) (ambas unidades de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações -MCTI) e das Universidades britânicas de Bristol, Cardiff e Exeter (Reino Unido).
Os cientistas alertam que a taxa de captura dos gases efeito estufa não está dentro dos padrões ideais, devido aos variados elementos direcionadores de influências e impactos no ambiente (denominados de drivers, na linguagem científica), além dos distúrbios que afetam o crescimento das florestas secundárias tropicais da Amazônia. Por isso, os pesquisadores fazem outro alerta para a necessidade emergencial de limitar a perturbação do processo de crescimento da floresta provocado pelo fogo (induzido pelas ações do homem) e pelo desmatamento em florestas antigas e secundárias.
Os dados analisados por imagens de satélite e com modelagens de cálculos e simulações mostram que são maiores em 60% as taxas de remoção de carbono realizada pelas florestas secundárias jovens (com menos de 20 anos de crescimento) na área oeste da Amazônia, comparadas às taxas da área leste.
Redução da taxa de crescimento das florestas antigas e secundárias
Os distúrbios que impactam as florestas reduzem as taxas de crescimento de 8% até 55%. O estoque secundário de carbono florestal de 2017, de 294 Tg C, poderia ser 8% maior, evitando repetidos incêndios e desmatamentos. Manter a área de floresta secundária de 2017 tem potencial para acumular ~19,0 Tg C ano−1 até 2030, contribuindo com ~5,5% para a meta de redução de emissões líquidas do Brasil para 2030.
Os autores enfatizam que, preservando o estoque florestal de crescimento antigo restante e gerenciando de forma sustentável florestas secundárias, será possível manter e aumentar o sumidouro de carbono deste bioma de forma global, ajudando a alcançar seu potencial de mitigação climática. Concluíram que o Brasil possui um grande potencial para mitigar as emissões de carbono atmosférico do País, por meio do crescimento das florestas secundárias na Amazônia Brasileira. Contudo, essa solução baseada na natureza pode ser ameaçada pelas mudanças climáticas e por distúrbios florestais associados a atividades humanas na região.
O estudo intitulado “Large carbon sink potential of secondary forests in the Brazilian Amazon to mitigate climate change” (https://doi.org/10.1038/s41467-021-22050-1) liderado pela pesquisadora Viola Heinrich – doutoranda da Universidade de Bristol,foi resultado de seu intercâmbio acadêmico de seis meses no INPE. A pesquisadora do Cemaden, Liana Anderson, é coautora desse estudo.
A visita científica à Divisão de Observação da Terra e Geoinformática foi supervisionada pelo pesquisador e chefe da divisão Luiz Aragão. A realização da pesquisa contou com a colaboração dos pesquisadores doutorandos do curso de Sensoriamento Remoto e pós-doutorandos do laboratório TREES- coliderado por Liana Anderson, do Cemaden – e incluiu Ricardo Dalagnol, Henrique L. G. Cassol, Catherine Torres de Almeida, Celso H. L. Silva Junior, e Wesley A. Campanharo
O artigo completo está disponibilizado no link:
https://www.nature.com/articles/s41467-021-22050-1
O vídeo sobre o artigo está disponível no link:
https://youtu.be/TJYRMfXYeCI versão em Inglês e
https://youtu.be/k9HeA1ua0sw versão em português