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Método de pesquisa-ação participativa permitiu estudantes incubarem planos para redução do risco de desastres
O método participativo engajou alunos de pós-graduação e alunos do ensino médio na pesquisa-ação junto às comunidades de áreas de risco e às entidades que trabalham para a redução de risco de desastres. As atividades possibilitaram reflexões, discussões, coleta de dados e incubação de planos para potencializar a redução de risco de desastres no município de São Luiz do Paraitinga (SP).
Um artigo científico publicado no jornal internacional Disaster Prevention and Management, da Editora Emerald Publishing (Reino Unido), mostra a importância de conectar estudantes de pós-graduação e de ensino médio para promover a incubação de planos de redução de riscos de desastres (RRD). A publicação tem a participação do sociólogo Victor Marchezini, pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) – unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
A pesquisa foi realizada em São Luiz do Paraitinga (SP), cidade que sofreu impactos socioambientais e econômicos, pela grande inundação no ano de 2010. Os pesquisadores facilitaram um mapeamento participativo – em conjunto com métodos secundários, como discussões e apresentações – no ano de 2019, na Escola Estadual Monsenhor Ignácio Gióia.
O artigo mostra que o mapeamento participativo foi um método de comunicação apropriado para promover o pensamento crítico, discussão e formulação de ideias de incubação para a redução de risco de desastres (RRD).
Os pesquisadores e estudantes de pós-graduação das instituições e universidades foram os facilitadores e incentivadores da participação de 22 alunos do ensino médio para a realização do mapeamento participativo, com a finalidade de identificar as áreas propensas a inundações e deslizamentos no município de São Luiz do Paraitinga (SP). Após essa ação, os alunos foram convidados a propor e planejar medidas de RRD (redução do risco de desastres), em colaboração com parceiros locais no município.
Publicado com o título “Dando voz aos que não tem voz: conectando alunos de pós-graduação com alunos do ensino médio mediante incubação de planos de redução de riscos de desastres e mapeamento participativo” (Giving voice to the voiceless: connecting graduate students with high school students by incubating DRR plans through participatory mapping), o estudo foi liderado por Miguel Angel Trejo-Rangel, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Sistema Terrestre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (PGCST/INPE).
O estudo ainda teve a participação de Adriano Mota Ferreira, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Desastres; da Universidade Estadual Paulista (UNESP-Cemaden/MCTI), do pesquisador do Cemaden, Victor Marchezini; de Daniel Andres Rodriguez, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); de Melissa da Silva Oliveira, graduanda da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), que fez sua iniciação científica no Programa PIBIC/Cemaden; e de Daniel Messias dos Santos, professor da Escola Estadual Monsenhor Ignácio Gióia.
Pesquisadores explicam a importância da inclusão do jovem na elaboração de planos e ações
O método de pesquisa-ação participativa é focada na reflexão, coleta de dados e ação, inserindo a participação de outros interessados para o sistema de apoio aos alunos envolvidos no projeto (como por exemplo, professores, líderes comunitários, instituições locais e organização não-governamental). Esse sistema pode ajudar na orientação, recursos e implementação de ação e propostas.
“O objetivo desta pesquisa foi facilitar um espaço onde os jovens pudessem comunicar e participar ativamente na geração de planos de RRD (redução do risco de desastres), explica Miguel Trejo, doutorando de pós-graduação do INPE, destacando essa participação sendo de grande relevância à implementação de métodos participativos, tais como o mapeamento participativo. “A partir disso, os atores locais utilizaram suas capacidades e as ferramentas para preparar seu próprio futuro e o da cidade onde eles moram, a fim de lidar com os desastres”, enfatiza Trejo.
O pesquisador do Cemaden, Victor Marchezini, que também é docente do Programa de Pós-Graduação em Desastres- uma iniciativa entre a Unesp e o Cemaden/MCTI - explica que a atividade, realizada em outubro de 2019, fez parte da disciplina de Sociologia dos Desastres.
“Os (as) alunos(as) de pós-graduação aprenderam os conceitos e as metodologias. Foram preparados por meio de oficinas de mapeamento participativo coordenada pelo pesquisador Miguel Trejo, doutorando do INPE, quando foi realizada a pesquisa de campo em São Luiz do Paraitinga.", explica Marchezini e complementa: “Esses estudantes de pós-graduação foram os facilitadores da oficina com os alunos do Ensino Médio, com a supervisão dos(as) professores (as) da Escola Monsenhor Ignácio Gióia, além da participação da Defesa Civil Municipal e a ONG Akarui, que opinaram sobre os resultados da atividade”, informa o pesquisador do Cemaden.
Adriano Mota Ferreira, um dos discentes da pós-graduação, foi um dos facilitadores da oficina sobre mapeamento participativo. “É fundamental que haja a interação entre os alunos de ensino fundamental, médio, graduação e pós-graduação nas práticas de RRD. Esse contato possibilita o diálogo sobre o território de ambos, trazendo diferentes vivências e saberes a serem ‘mapeados’ em prol da comunidade”, afirma Ferreira.
Daniel Messias, coautor do artigo e professor da Escola de Ensino Médio, reforça a importância da participação e protagonismo do jovem na elaboração de planos de redução de risco de desastres. “Imaginar uma comunidade com áreas de risco, a qual precise mapear suas vulnerabilidades, suas áreas de ação, seu envolvimento em ações coletivas durante um desastre e que não veja nos jovens um protagonismo para essas ações – quer na identificação dos riscos, no mapeamento ou nas ações – seria como desperdiçar o talento.”, afirma o professor e destaca :” O jovem é a dinâmica que a prevenção exige.”
Cinco projetos de redução de riscos de desastres elaborados pelos estudantes do ensino médio
O artigo científico apresenta um total de cinco projetos de redução de riscos de desastres, elaborados por grupos de estudantes de Ensino Médio da Escola Monsenhor Ignacio Gioia, em São Luiz do Paraitinga (SP). Entre as ideias sugeridas estão: a criação de um comitê de comunicação intermunicipal, planejamento territorial que integre áreas expostas a riscos de desastres, um plano de RRD, um aplicativo para comunicar ações de resposta, assim como um plano de preparação direcionado para os moradores. Além do artigo, os autores, em parceria com os(as) professores(as) da escola, já facilitaram um seminário para compartilhar os resultados preliminares desta pesquisa.
O acesso ao artigo “Dando voz aos que não tem voz: conectando alunos de pós-graduação com alunos do ensino médio mediante incubação de planos de redução de riscos de desastres e mapeamento participativo” (Giving voice to the voiceless: connecting graduate students with high school students by incubating DRR plans through participatory mapping) está disponibilizado no endereço:
https://www.emerald.com/insight/content/doi/10.1108/DPM-03-2021-0100/full/html
Fonte: Ascom/Cemaden