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Lideranças religiosas visitam o Cemaden para informações sobre mudanças climáticas e prevenção de desastres
Uma comitiva com 41 lideranças de entidades religiosas de vários estados brasileiros e integrantes da “Iniciativa Inter-Religiosa pelas Florestas Tropicais (IRI-Brasil)” esteve, nesta terça-feira (30), na sede do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) - unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) – no Parque Tecnológico de São José dos Campos (SP), com o objetivo de receber informações científicas sobre mudanças climáticas, riscos de desastres e ações de prevenção de desastres geo-hidrológicos.
Criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2018, a “Iniciativa Inter-Religiosa pelas Florestas Tropicais (IRI-Brasil) integra vários grupos religiosos de evangélicos, católicos, espíritas, judaicos, budistas e de matriz africana, dentre outros. A IRI-Brasil visa o engajamento em ações de preservação ambiental, mitigação e adaptação às mudanças climáticas. No ano passado, quatro comitivas de lideranças religiosas de vários estados do Brasil estiveram em visita informativa ao Cemaden , entre os meses de maio e agosto de 2022.
Palestras e programação
A comitiva foi recepcionada pela representante da direção do Cemaden, pesquisadora Sílvia Saito, que fez a apresentação institucional, atividades desenvolvidas, vulnerabilidades e monitoramento geo-hidrológico, de secas, reservatórios. Falou sobre áreas de riscos e vulnerabilidades e o monitoramento do Cemaden nos 1.038 municípios mapeados com áreas de risco, em todo o território nacional. “Além do Cemaden e das entidades parceiras, a prevenção e gestão de risco envolvem todos nós”, destaca a pesquisadora.
O coordenador-geral substituto de Operação e Modelagem do Cemaden, pesquisador e meteorologista Giovanni Dolif abordou, em palestra, sobre os desastres geo-hidrológicos, eventos extremos e prevenção e áreas de riscos de desastres. No período da tarde a comitiva visitou a Sala de Situação do Cemaden e recebeu informações do pesquisador Dolif sobre o sistema de monitoramento e emissão de alertas, bem como respondeu as perguntas feitas pelos participantes sobre monitoramento.
As causas dos desastres climáticos foram abordadas pelo coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden, climatologista José Marengo, “As mudanças climáticas são processos naturais que já ocorreram no passado. Porém, as atividades humanas estão acelerando os processos dessas mudanças do clima, provocando eventos extremos”, explica Marengo, enfatizando a urgência de ações para a diminuição dos impactos ou mitigação das mudanças climáticas.
Conforme Marengo, entre os efeitos socioeconômicos da mudança climática estão: custos de adaptação pela subida do nível do mar; perda da capacidade de trabalho devido o calor; conflitos bélicos pelos recursos escassos; agravamento do acesso à água em determinadas áreas e deslocamento de populações. Também citou como efeitos da mudança climática a queda na produtividade agrícola; aumento dos preços dos alimentos; aumento da pobreza provocada pelos fenômenos meteorológicos extremos e a propagação de doenças, devido ao aumento de temperatura.
A coordenadora do Programa Cemaden Educação, pesquisadora e antropóloga, Rachel Trajber, falou sobre percepção de riscos, prevenção de desastres e as atividades desenvolvidas pelo Cemaden Educação, no trabalho de parceria com as escolas, Defesas Civis e comunidades nas áreas de risco.
Na parte da tarde, a equipe do Cemaden Educação - integrada pelas pesquisadoras Patrícia Mitsuo, Carolina Esteves, Priscila Françoso, Jeniffer de Souza Faria e o pesquisador Antonio Guerra – coordenou a oficina "Prevenção e enfrentamento de desastres" com os participantes. Utilizando metodologias e técnicas de elaboração de planos de trabalho para a redução de risco de desastres. Dividido em grupos, os participantes elaboraram e desenvolveram propostas de ações estratégicas, direcionadas às áreas de risco em suas localidades, dentro da Campanha “AprenderParaPrevenir”.
IRI no Brasil
A Iniciativa Inter-religiosa pelas Florestas Tropicais no Brasil (IRI-Brasil) é uma plataforma de apoio às lideranças religiosas para que possam ampliar sua contribuição voltada à preservação do equilíbrio climático, à conservação e ao uso sustentável das florestas, além da proteção dos povos indígenas e das comunidades locais.
O facilitador nacional do IRI-Brasil, Carlos Vicente, coordena o organiza os grupos religiosos para as conversas junto aos cientistas, visando compartilhar conhecimentos e ações para preservação ambiental, mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Ele pontua a importância da visita ao Cemaden e das informações científicas recebidas pelas lideranças religiosas. Primeiro, destaca o reconhecimento do papel das lideranças religiosas de todas as tradições e de todas as espiritualidades, que têm na tradição a formação de valores, na conscientização da população e mobilização para a ação, visando a melhoria de vida de todos. Em segundo, por compartilhar a importância do papel da Ciência, como utilidade pública, buscando gerar proteção e melhoria da vida das pessoas, no caso do Cemaden, na prevenção de riscos de desastres.
“Juntar a importância da instituição e dos cientistas com o diálogo junto às lideranças religiosas pode nos ajudar a acelerar o processo de desenvolvimento sustentável, de proteção da população e de preservação ambiental.”, afirma Carlos Vicente. “O diálogo entre os cientistas e religiosos é absolutamente fundamental, vencendo e afastando a onda de negacionismo científico. Valorizar a Ciência é importante, pois é a base para os trabalhos de desenvolvimento sustentável, conscientização da urgência de ações para a crise climática.”, afirma. Enfatizou que o diálogo entre cientistas e líderes religiosos possibilita, também, o conhecimento do trabalho nas comunidades locais. "A união com as lideranças religiosas permitirá uma atuação junto às comunidades, levando as informações científicas e intermediando o espaço com as instituições governamentais”afirma. Por final, destaca que a visita permite resgatar o senso de orgulho do Brasil, ao ver instituições do porte do Cemaden e do Inpe. “Por sucessivos governos e sucessivos períodos de nossa história, foi se construindo as instituições de altíssimo nível, comprometidas com o interesse público e com o bem estar da população. Resgatar esse sentimento de orgulho é muito importante para que se continue dando apoio às instituições, possibilitando obter mais recursos humanos e de equipamentos pelos investimentos governamentais, para o melhor serviço à sociedade e ao País.”, destacou Carlos Vicente.
Fazem parte do IRI: representantes da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); Confederação Israelita do Brasil (CONIB); Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC); Religiões pela Paz Brasil; Religiões pela Paz América Latina e Caribe; Instituto de Estudos da Religião (ISER); Confederação Israelita do Brasil; Aliança Cristã Evangélica Brasileira; Federação Espírita Brasileira; Perifa Sustentável; Mesquita Brasil; e União Nacional Islâmica.
Neste ano (2023), na primeira visita, a comitiva foi concentrada por entidades evangélicas de várias igrejas e instituições. Vieram representantes de diversas regiões brasileiras: Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Maranhão, Rio Grande do Norte, Bahia, Pernambuco, Tocantins, Distrito Federal, Goiás, Espírito Santo e São Paulo.
Em julho, está agendada a vinda de comitiva de católicos, prevendo a terceira visita constituída por grupos de lideranças de religiosos espíritas, judaicos, budistas e de matriz africana, entre outros, para receberem as mesmas informações sobre mudanças climáticas e prevenção de desastres.
ONU e as ações para o meio ambiente
O representante do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente no Brasil, Gustau Máñez, integrante da comitiva do IRI, afirmou ser importante a visita ao Cemaden, oportunidade de aproximar as lideranças religiosas com a realidade dos eventos climatológicos. “ O Brasil é muito religioso. A lideranças religiosas têm uma ampla proximidade com as comunidades, principalmente, as que estão em áreas de risco. Isso permitirá que se articule ações para mitigar os impactos e prevenir os riscos dos desastres, integrando as comunidades aos recursos naturais das florestas, possibilitando tornarem-se resilientes. “, afirma o representante do Programa da ONU para o Meio Ambiente, enfatizando a importância da aproximação entre Ciência e Religião.
Máñez afirma que a união entre a Ciência e a religiosidade permitirá vincular e articular os temas com ações direcionadas à redução dos riscos de desastres ambientais. “Essa união entre cientistas e religiosos permitirá levar o conhecimento científico sobre riscos e vulnerabilidades até as comunidades. Essa integração de dados e informações do Cemaden permitirá uma atuação mais direta na redução de impactos ambientais junto às comunidades.”
Em abril deste ano, o Cemaden recebeu da Coordenação das Florestas e Clima do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) o reconhecimento pela contribuição e apoio pela parceira com o IRI-Brasil . Na mensagem, o agradecimento foi pelos esforços de conscientização da crise do desmatamento de florestas tropicais no Brasil e seus impactos associados aos desastres deflagrados por extremos hidrometeorológicos, direcionados a mais de 100 líderes religiosos que visitaram o Cemaden em 2022.
Fonte: Ascom/Cemaden
Fotos Ascom/Cemaden:
Fotos IRI-Brasil: