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Intercâmbio de experiências e conhecimentos sobre redução do risco de desastres marca a abertura de evento envolvendo sete países
A coordenadora de Relações Institucionais e diretora-substituta do Cemaden, Regina Alvalá, destacou a importância dessa reunião para debater sobre os desafios do conhecimento e desenvolvimentos em gestão de risco e desastres no Brasil. Participaram da abertura, o ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações e diretor do Parque Tecnológico de São José dos Campos, Marco Antonio Raupp, a representante do Ministério das Relações Exteriores, Lucianara Fonseca, o secretário de Urbanismo e Sustentabilidade, representando o prefeito de São José dos Campos, Felício Ramuth e o climatologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC).
Conhecer as ações significativas desenvolvidas por cada país para a avaliação de ameaças, vulnerabilidades e redução de risco de desastres – além da troca de experiências sobre as estratégias utilizadas para a gestão de risco de desastres – foram os destaques na abertura do 1° Workshop Brasileiro para Avaliação de Ameaças, Vulnerabilidades, Exposição e Redução de Risco de Desastres – BRAHVE, debates que se iniciaram nesta terça-feira (06) e se estenderão até o dia 8 de junho .
A abertura do 1° Workshop Brasileiro para Avaliação de Ameaças, Vulnerabilidades, Exposição e Redução de Risco de Desastres – BRAHVE foi feita pela coordenadora de Relações Institucionais e diretora-substituta do Cemaden, Regina Alvalá. Ao dar as boas-vindas aos participantes vindos de várias regiões do Brasil e de países como a Argentina, Colômbia, Costa Rica, Espanha, México e Estados Unidos, a diretora-substituta destacou a importância dessa reunião para debater sobre os desafios do conhecimento e desenvolvimentos em gestão de risco e desastres no Brasil.
“Nestes três dias de evento, abrem-se oportunidades para as discussões temáticas e articulações para formatar parcerias entre representantes de instituições nacionais e internacionais.”, afirma Regina Alvalá. “Os debates definirão estratégias para avançar nas áreas de pesquisa e indicadores de risco, alcançar as metas do Marco de Sendai, na diminuição de riscos e na implementação de um Banco de Dados no Brasil sobre desastres.”, complementa.
O evento está ocorrendo no Parque Tecnológico de São José dos Campos (SP). Organizado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) – do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, reúne cerca de 300 participantes, entre cientistas, pesquisadores, profissionais que atuam na gestão de risco de desastres, Defesas Civis e representantes de diversas instituições acadêmicas e de pesquisa.
O climatologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas ( INCT -MC) destacou, durante a abertura do workshop, a importância da reunião com outros países para a construção de uma interface entre conhecimento científico e o conhecimento dos desastres. “Esse encontro é um ambiente propício para o avanço das ciências. Serve como um dos balizadores para a identificação de quais conhecimentos e pesquisas são importantes.”
A representante do Ministério das Relações Exteriores, Lucianara Fonseca, da Divisão de Temas Sociais, fez uma rápida consideração sobre a perspectiva internacional de esforços para as ações do Marco de Sendai. “ Faz parte desses esforços a implementação do Marco de Sendai para o desenvolvimento sustentável, abrangendo o social, ambiental e econômico. Esses fatores envolvem a interdisciplinaridade com as áreas de saúde, inovação e a questão de pobreza.”, afirma Lucianara Fonseca.
Participaram também, na abertura do evento, o secretário de Urbanismo e Sustentabilidade, representando o prefeito de São José dos Campos, Felício Ramuth e o ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações e diretor do Parque Tecnológico de São José dos Campos, Marco Antonio Raupp.
Cerca de 300 pessoas de sete países participam do Workshop discutindo gestão de risco de desastres no auditório do Parque Tecnológico de São José dos Campos (SP)
Gestão de risco e gestão de conhecimento
Na apresentação institucional do Cemaden, o coordenador-geral de Operações e Modelagens, meteorologista Marcelo Seluchi fez um breve histórico sobre o Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) organização científica-política da ONU. Apresentou, também, dados científicos sobre o aquecimento global e as relações das mudanças climáticas com as ocorrências de eventos extremos, enfatizando sobre a tendência de se agravar no futuro. Seluchi demonstrou, pelos dados históricos, que os países em desenvolvimento, sobretudo os mais pobres, são os mais impactados.
“Essa situação preocupante é refletida pelas dificuldades (vulnerabilidades) destes países para lidar com os eventos extremos, exposição ao risco, alta densidade demográfica e outros fatores socioeconômicos.”, enfatizou Seluchi, relacionando a gestão de risco e a gestão de conhecimento, onde o conhecimento técnico-científico é fundamental para balizar as diferentes ações de gestão de risco de desastres naturais. Finalizou com explicações sobre a elaboração dos alertas e o plano estratégico do Cemaden para redução do risco de desastres.
Lançamento do novo site do Cemaden Educação e da Campanha #AprenderParaPrevenir
Lançamento do novo site do Projeto Cemaden Educação e da Campanha #AprenderParaPrevenir
Durante a sessão de apresentação dos objetivos do evento, feita pela pesquisadora do Cemaden, Viviana Muñoz, foi apresentada a nova plataforma virtual Projeto Cemaden Educação (http://educacao.cemaden.gov.br/ ), pela coordenadora do projeto, Rachel Trajber. “O site traz conteúdos pedagógicos, informativos e interatividade para a educação em redução de riscos de desastres.”, afirma a pesquisadora. Ela explica que a nova plataforma oferece maior facilidade para navegação dos usuários, como comunidades escolares, defesas civis e todos interessados em redução de riscos de desastres (RRD) a partir da abordagem da ciência cidadã.
Também pelo Projeto Cemaden Educação, foi lançada a 2ª edição da Campanha #AprenderParaPrevenir , convidando as escolas a se engajarem na Redução de Riscos de Desastres (RRD). Nesta 2ª edição, a campanha abre espaço para que escolas e defesas civis, de todo o país, divulguem suas ações educativas com as comunidades escolares em duas categorias: projetos realizados ou novas propostas.
Mais informações sobre a campanha – e formulário para as inscrições previstas no período de 6 de junho até o dia 29 de setembro de 2017 estão disponibilizadas no link:
http://educacao.cemaden.gov.br/aprenderparaprevenir2017
Na programação, estão previstas três mesas-redondas para discutir riscos de desastres na América Latina, Marco de Sendai, Cidades Resilientes , Mudanças climáticas, metodologias de avaliação, entre outros temas.
Palestra e discussões da mesa-redonda sobre gestão de risco na América Latina
Na palestra de abertura, o pesquisador da Colômbia, Andrés Velásquez, diretor do Observatório Sismológico Del Sur Occidente, abordou o tema desastres e seus conceitos na antiguidade e o conceito atual. Fez uma reflexão sobre a estreita interação entre as variáveis ambientais, socioeconômicas e históricas, relacionando o conceito de desastres equivalente ao de perdas humanas significativas. Abordou, também, os aspectos do Acordo do Marco de Sendai e o entendimento do envolvimento dos governantes centenas de países.
Sobre a concepção de desastre como um impacto ou dano sobre uma pessoa, Velásquez classifica os riscos de intensivos e extensivos, abordando os parâmetros de governança, identificação de conhecimento e de risco e os preparativos de resposta. Considerando os objetivos a alcançar, o pesquisador enfatiza : “Parte importante deste workshop são os indicadores que serão discutidos nas reuniões. Todos os elementos que surjam nas discussões irão construir os indicadores sobre riscos de desastres.”
Na exposição da mesa-redonda para conhecer, avaliar e compreender as dimensões e os paradigmas históricos da gestão de risco de desastres, a pesquisadora Jesica Viand da Universidade de Buenos Aires (Argentina) apresentou um breve histórico sobre as etapas e fases sobre o sistema federal de Emergência e Direção Nacional de Proteção Civil. Destacou a incorporação, neste ano, da política RRD – redução de riscos de desastres, envolvendo diversos ministérios do governo argentino. Informou sobre a implementação do mapeamento das áreas de risco , da implantação do Centro de Monitoramento, Análises e Alertas e a construção do sistema de alerta e sistema provincial de emergência. “Houve um avanço na incorporação de ações e entidades de segurança, faltando a continuidade de alguns programas.”, destaca entre suas considerações. E deixa uma pergunta: “Como entidades científicas, poderemos impulsionar e sustentar a gestão de risco?”, desafia a pesquisadora Jesica Viand.
Cientistas e pesquisadores do Brasil, Argentina, Colômbia, Costa Rica, Espanha, México e Estados Unidos participam das discussões, na abertura do evento, sobre as dimensões e a gestão do risco de desastres.
Enfatizando a abordagem sobre percepção de risco, o cientista Carlos Nobre destaca que houve uma mudança na percepção e na valorização da percepção de risco. Ainda assim, enquanto a avaliação do risco é científica, na valorização da vida humana, ainda existem dificuldades na preparação para os desafios futuros, que envolvem as próximas gerações.
Nas abordagens sobre mudanças climáticas, aquecimento global, redução de florestas ilhas urbanas de calor, Nobre chama a atenção que, na elaboração de estratégias, devem ser levados em consideração os efeitos localizados, tanto quanto os efeitos mundiais: “ Os limites absolutos da elevação da temperatura chegarão ao ponto de não ser mais possível ter as condições adaptação ao ambiente, afetando a agricultura, a saúde e à vida humana.” , alerta Nobre.
Sobre as estratégias para a construção de uma cultura de redução de riscos de desastres no Brasil, o pesquisador Airton Bodstein de Barros, professor titular da Universidade Federal Fluminense, faz uma abordagem sobre o conhecimento do risco, a identificação e avaliação das ameaças e suas consequências. “O ser humano assume a ausência da cultura de prevenção de risco. É essencial criar uma cultura da percepção de risco para a identificação da ameaça e desenvolver a prevenção do risco.”, afirma o pesquisador.
Entre as estratégias para o desenvolvimento da percepção de risco, Bodstein cita a criação de qualificação para gestores, estimular a gestão de risco em 27 estados brasileiros, organizar eventos científicos e o fortalecimento da Associação Brasileira de Riscos de Desastres para o trabalho de núcleos temáticos.
Numa abordagem mais reflexiva, filosófica e política sobre as crises de esgotamento nas propostas civilizatórias, a pesquisadora Norma Valencio, vice-coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais em Desastres (NEPED), da Universidade Federal de São Carlos, faz um alerta sobre a negação profunda no campo científico sobre os efeitos concentrados e “desbalanços” de poder, principalmente, na obtenção de recursos para pesquisas. Cita os desafios, inclusive, em sua área de dedicação nos trabalhos voltados a desastres. Lembra a importância das abordagens sobre os desafios contemporâneos para a formulação e implementação de políticas de redução de desastres, entre outros temas de sociologia dos desastres.
Destacando a distinção entre eventos e desastres, reconhece a contribuição e capacidade técnica do Cemaden, enfatizando a importância dos enfoques não ficarem concentrados apenas na ciência. “Precisamos ter a coragem de questionar os aspectos qualitativos e aprofundar nas raízes históricas sociais sobre o tema ‘desastre’, enfatiza a pesquisadora Norma Valencio.