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Indicadores de desenvolvimento sustentável podem contribuir para avaliar a redução do risco de desastres
Uma pesquisa - realizada por cientistas de nove países - aponta que a falta de dados sobre desenvolvimento sustentável na estrutura do Marco de Sendai inviabiliza a eficácia do monitoramento e mensuração das metas de redução do risco de desastres nos países. Incluir as causas sociais, econômicas e políticas nessa avaliação ajudaria a aumentar as ações voltadas à redução de risco de desastres.
Apesar do desenvolvimento social ser o foco do Marco de Sendai, a mensuração do progresso global na redução de risco de desastres (RRD) tem avaliação centrada apenas nas ameaças ou perigos ou avaliações pontuais sobre vulnerabilidades. Sem integrar as causas básicas do risco de desastres nessa avaliação de progresso em RRD, como a desigualdade de renda e de acesso aos recursos, a eficácia do cumprimento dos objetivos do Marco de Sendai pode ficar prejudicada.
Essa é a conclusão do artigo científico divulgado no jornal internacional International Journal of Disaster Risk Science, da Editora Springer. Publicado com o título “O que medimos importa: a falta de dados sobre desenvolvimento no monitor de metas do Marco de Ação de Sendai para Redução do Risco de Desastres” (What We Measure Matters: The Case of the Missing Development Data in Sendai Framework for Disaster Risk Reduction Monitoring), o artigo oferece uma reflexão coletiva e um mapeamento exploratório sobre a relação, potencial e efetiva, entre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e os indicadores de monitoramento das metas do Marco de Sendai para Redução do Risco de Desastres (SFDRR, em sua sigla em inglês).
A publicação tem a participação de Victor Marchezini, sociólogo e pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) – unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), entre os 11 cientistas de nove países que participaram da pesquisa.
Desigualdades e injustiças sociais aumentam a vulnerabilidade humana aos desastres
A pesquisa analisou os 246 indicadores dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável -ODS (agrupados nos 17 objetivos e 169 metas) e 38 indicadores de redução de risco de desastres do Marco de Sendai (SFDRR), com o objetivo de identificar como os indicadores dos ODS podem contribuir e melhorar a medição de progresso em redução de risco de desastres (RRD).
Os autores apontam que o Marco de Sendai para Redução de Risco de Desastres 2015-2030 se distanciou claramente da ideia de “risco de desastre” como um fenômeno natural, e deu um passo adiante ao reconhecer as desigualdades e injustiças como as causas básicas da vulnerabilidade humana às ameaças e aos desastres. Também indicam a necessidade de agir sobre essas causas, como instabilidade política, desigualdade social, priorização do lucro a curto prazo e a todo custo, com modelos de crescimento econômico que ignoram os riscos de desastres.
“Apesar do compromisso global em implementar as metas do Marco de Sendai para RRD (redução dos riscos de desastres), seus avanços não desafiaram seriamente os modelos de crescimento econômico vigentes – essencialmente neoliberais, extrativistas e opressivos - principais obstáculos para a redução efetiva dos riscos de desastres”, aponta Ksenia Chmutina, pesquisadora da Universidade Loughborough (Reino Unido), que liderou o estudo. Ela explica que esses modelos de crescimento econômico produzem, em muitos casos, os riscos de desastres no território.
Os (as) autores destacam que a medição de progresso das metas do Marco de Sendai para RRD segue centrada nos eventos de desastre e nas ameaças (chuvas, enchentes, deslizamentos, secas etc.), ignorando, quase por completo, as variáveis relacionadas aos ODS.
“A implementação do Marco de Sendai não tem mostrado um aumento significativo da vontade política para eliminar os investimentos ‘cegos ao risco’ em prol de modelos de desenvolvimento que se fundamentam no conhecimento do risco (risk-informed)”, afirma Victor Marchezini, pesquisador do Cemaden/MCTI e um dos coautores do estudo.
Marchezini relembra que crescimento econômico é uma variação interna do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto desenvolvimento implica redução da desigualdade e da miséria, exercício da cidadania, meio ambiente sadio e melhoria das condições de vida da população de um país.
Para Claudia Gonzalez-Muzzio, especialista em gestão de riscos de desastres no Chile e uma das coautoras do estudo, “medir a RRD sem considerar indicadores que apontem para a produção dos riscos de desastres no território nos manterá em um círculo vicioso, pelo qual só tende a piorar”.
Autores e acesso ao artigo científico
A pesquisa foi liderada por Ksenia Chmutina, da Universidade Loughborough (Reino Unido) e teve a participação de Jason von Meding, da Universidade da Flórida (Estados Unidos); de Vicente Sandoval, da Centro de Pesquisa em Desastres, da Universidade de Berlim (Alemanha); de Michael Boyland, do Stockholm Environment Institute Asia (unidade da Tailândia); de Giuseppe Forino, da Universidade de Nottingham (Reino Unido); de Wesley Cheek, da Universidade Ritsumeikan (Japão); de Darien Alexander Williams, do Massachusetts Institute of Technology (MIT) (Estados Unidos); de Claudia Gonzalez-Muzzio, do Ámbito Consultores (Chile); de Isabella Tomassi, da École Normale Supérieure de Lyon (França); de Holmes Páez, da Pontificia Universidad Javeriana (Colômbia), e de Victor Marchezini, pesquisador no Cemaden/MCTI (Brasil).
O acesso ao artigo “O que medimos importa: a falta de dados sobre desenvolvimento no monitor de metas do Marco de Ação de Sendai para Redução do Risco de Desastres”” (What We Measure Matters: The Case of the Missing Development Data in Sendai Framework for Disaster Risk Reduction Monitoring) está disponibilizado gratuitamente no endereço:
https://link.springer.com/article/10.1007/s13753-021-00382-2
Fonte: Ascom/Cemaden