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Impactos na agricultura, na hidrelétrica e ecossistemas causados pela seca na Bacia Paraná-Prata: a pior desde 1944
As atuais condições de seca na Bacia do Paraná-Prata são as piores desde 1944. Embora esta área seja caracterizada por uma estação chuvosa com pico no período de outubro a abril, o ano hidrológico 2020-2021 foi muito deficiente em chuvas. A situação estendeu-se até o ano hidrológico 2021-2022. A seca provocou impactos em diferentes setores socioeconômicos, além de afetar gravemente os ecossistemas, atingindo o sudeste do Brasil, norte da Argentina, Paraguai e Uruguai, onde as chuvas foram abaixo do normal.
O Relatório Técnico com os dados científicos foi publicado pela Joint Research Centre (JRC), serviço de ciência e conhecimento da Comissão Europeia. A pesquisa tem como título “ Extreme and long-term drought in the La Plata Basin: event evolution and impact assessment until September 2022 ” (Seca extrema e de longa duração na Bacia do Prata: evolução e impacto do evento avaliação até setembro de 2022). O trabalho científico teve a participação de pesquisadores do Brasil, pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden)- unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI)- em parceria com pesquisadores internacionais das seguintes instituições: EC-JRC - Joint Research Centre da Comissão Europeia; CIMA Research Foundation (ambas da Itália); SISSA- Sistema de Informações sobre Secas para o Sul da América do Sul (integrada por diversas instituições de países da América do Sul, inclusive o Cemaden) e a WMO- World Meteorological Organization (Organização Meteorológica Mundial- agência das Nações Unidas (ONU).
Seca de vários anos, desde meados de 2019, e seus impactos
Uma seca de vários anos afeta a Bacia do Prata, desde meados de 2019. A falta de chuvas, principalmente na parte superior da bacia, levou a uma diminuição considerável da vazão dos rios Paraguai e Paraná.
Chuvas abaixo do normal foram dominantes no sudeste do Brasil, norte da Argentina, Paraguai e Uruguai, sugerindo um início tardio e uma monção sul-americana mais fraca e a continuação de condições mais secas desde 2021. As monções são um fenômeno climático que provoca fortes chuvas e longas secas, durante diferentes períodos do ano, demarcando um tipo de variação climática.
Devido à sua prolongada duração e severidade, esta seca já teve inúmeros impactos em diferentes setores socioeconômicos e também afetou gravemente os ecossistemas. Isso inclui incêndios florestais, redução no rendimento agrícola e no transporte fluvial nos rios Paraguai e Paraná, além da significativa redução na produção de energia hidrelétrica. Os impactos regionais nos ecossistemas e na biodiversidade são graves, especialmente no Pantanal, uma das maiores áreas úmidas das Américas.
Em 2021, a seca da Bacia Paraná-Prata causou danos à agricultura e reduziu a produção agrícola, incluindo soja e milho, com efeitos nos mercados agrícolas globais. A situação da seca continuou em 2022 na região do Pantanal.
Ainda em 2021, as regiões sul e sudeste do Brasil enfrentaram suas piores secas em nove décadas, levantando o espectro de um possível racionamento de energia, devido à dependência da rede de usinas hidrelétricas.
“As condições meteorológicas e secas estiveram presentes na região no final de setembro de 2022, com anomalias de precipitação abaixo da média”, destaca o climatologista José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden. Explica que a anomalia da umidade do solo e as condições da vegetação são piores na parte inferior da Bacia do Prata. “Por outro lado, as partes superior e central da bacia apresentam recuperação parcial e temporária”, complementa Marengo.
Previsões conforme simulações
Os sistemas de modelagem sazonal prevêem, consistentemente, anomalias negativas de precipitação sobre a Bacia Paraná-Prata como uma resposta às anomalias negativas das temperaturas da superfície do mar no Pacífico tropical, associadas à condição de La Niña. Há grandes chances de que condições de La Niña prevaleçam pela terceira primavera e verão consecutivos (a última vez foi em 1998-2001). Da mesma forma, modos plurianuais a decadais de variabilidade climática estiveram em uma fase que favorece a seca na Bacia do Prata no período 2019/2020 até o atual momento.
Participaram da elaboração do relatório os pesquisadores do Cemaden/MCTI: o climatologista José Antonio Marengo- coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento, a hidróloga Luz Adriana Cuartas, o físico Osvaldo Luiz Leal- diretor do Cemaden e o meteorologista Marcelo Enrique Seluchi- coordenador-geral de Operação e Modelagem.
O acesso ao conteúdo da publicação do Relatório Técnico “ Extreme and long-term drought in the La Plata Basin: event evolution and impact assessment until September 2022 ” está abaixo :
Fonte: Ascom/Cemaden