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Estudos analisam gases na atmosfera da Amazônia para entender os efeitos do uso e cobertura do solo na região
Método para identificação de trajetórias de massas de ar na Amazônia é desenvolvido por pesquisadores, com o objetivo de subsidiar o entendimento do balanço do carbono (e os efeitos dos gases estufa) que ocorrem na região, identificando os processos de interação entre o meio ambiente e a atmosfera.
Utilizar dados de coleta de ar de aeronaves que sobrevoam cinco localidades da Amazônia oriental e ocidental foi a técnica adotada por pesquisadores do Projeto CARBAM (Variação Interanual do Balanço de Gases de Efeito Estufa na Bacia Amazônica e seus Controles sob Aquecimento e Variação Climática) para identificar o perfil atmosférico das aeronaves e determinar fluxos de gases de efeito estufa em escalas regionais, no período de 2010 a 2018. O objetivo é analisar os efeitos das mudanças de uso e cobertura do solo na região e o balanço dos gases na atmosfera.
As variações mais acentuadas das concentrações dos gases na região amazônica ocorreram em períodos trimestrais, principalmente, nos 1º e 4º trimestres, onde registrou-se de 83 a 93% dessa concentração de gases para todos os locais pesquisados. Nos 2º e 3º trimestres, foram registrados de 57 a 75%. As diferenças entre os trimestres são mais evidentes no leste da Amazônia, do que no lado ocidental. Para os pesquisadores, esses resultados podem ajudar a resolver espacialmente a resposta das emissões de gases de efeito estufa à variabilidade climática sobre a Amazônia.
“As concentrações de diferentes gases que observamos na atmosfera são uma consequência de todos os processos de interações entre a biosfera e atmosfera (emissão e absorção de gases) que ocorreram no caminho destas massas de ar.”, explica a pesquisadora e coautora do estudo, Liana Anderson, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden)- unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
A pesquisadora do Cemaden explica que o entendimento da localização por onde as massas de ar viajaram traz informações importantes sobre o que está ocorrendo na paisagem. “No caso, como nas áreas em que há predomínio de queimadas e incêndios florestais, em determinado período do ano, são contabilizadas nas amostragens coletadas pelas aeronaves.”, destaca a pesquisadora.
O pesquisador Henrique Cassol, pós-doutorando do projeto e líder do estudo, explica que “ A coleta de gases em altitudes intermediárias (como nos sobrevoos) preenchem uma lacuna na escala de observação entre os dados medidos na superfície por inventários florestais, por exemplo, e os dados meteorológicos registrados por satélite”. Destaca que esse processo ajuda a entender melhor o papel da Amazônia no balanço do carbono regional.
Coautor do estudo, o pesquisador Luiz Aragão, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), comenta que, para reduzir as emissões de gases de efeito estufa no Brasil, é necessário conhecer a contribuição de cada componente da superfície terrestre, incluindo os fluxos naturais e aqueles modificados pelo homem, por meio do desmatamento e queimadas.
Padrão de circulação das massas de ar entre as estações chuvosa e seca
As massas de ar que carregam umidade são as mesmas que carregam os gases de uma região para outra. O padrão de circulação das massas de ar nas diferentes áreas ocorre, preferencialmente, da costa nordeste, vindo do Atlântico, transpassando a Amazônia, em direção aos Andes. “Observamos que a variabilidade deste padrão de circulação é menor entre os anos estudados, do que entre os trimestres, por conta do movimento anual de outras células de circulação atmosférica de grande escala, como a flutuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT)”, informa o pesquisador Cassol.
Nos 1º e 4º trimestres do ano (durante a estação chuvosa), a densidade de trajetórias ponderadas das massas de ar dentro da Amazônia é em média de 90%, enquanto no 2º e o 3º trimestres (durante a estação seca) essa densidade de trajetórias varia de 57-75%. Devido à proximidade com a costa Atlântica, a densidade de trajetórias oriunda de outros biomas na Amazônia oriental é maior do que na costa ocidental, o que pode significar uma contribuição maior desses biomas nas medições dos gases.
Projeto CARBAM – balanço de carbono na Amazônia
O Projeto CARBAM ( projeto Temático) tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp/processo Fapesp 2016/02018-2)
A pesquisadora Luciana Gatti, coordenadora do projeto CARBAM, destaca que o trabalho permitiu calcular as médias ponderadas de precipitação, temperatura, área queimada, variações nos índices de vegetação sob as regiões de influência . “Com todos esses dados, pôde-se comparar com os fluxos de carbono, calculados pelo método de Integração de coluna dos perfis verticais.”
Os estudos na íntegra do Projeto CARBAM estão disponibilizados no link:
https://www.mdpi.com/2073-4433/11/10/1073
Fonte: Ascom/Cemaden