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Estudo inédito do Cemaden aponta crescentes impactos socioambiental e econômico, provocados pela seca do Pantanal
A seca do Pantanal – ocorrida entre 2019 e 2020 – foi a pior dos últimos 50 anos, aumentando a extensão e propagação das queimadas no bioma. O mês de abril de 2020 foi o mais seco registrado nos últimos 120 anos. Essas secas, aliadas à alta temperatura, afetaram o funcionamento hidroclimatológico das regiões, aumentaram o risco de incêndios, diminuíram os níveis dos rios, impactando os seres humanos e a biodiversidade. O estudo realizado por pesquisadores e bolsistas DTI e PCI do Cemaden/MCTI e por estudantes do Programa de Pós-graduação em Desastres Naturais da Unesp-Cemaden foi publicado, hoje, pela revista científica internacional Frontiers.
Para compreender melhor os aspectos hidroclimáticos da atual seca no Pantanal brasileiro e seus impactos nos sistemas naturais e humanos, foi realizada um estudo científico pelos pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden)- unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) – e pelos estudantes da disciplina 03 – Secas, Aridificação e Desertificação: Detecção, impactos, Vulnerabilidade e Adaptação, do Programa de Pós-graduação em Desastres Naturais da Universidade Estadual Paulista (Unesp-Cemaden). A pesquisa aponta que, com a seca, os incêndios se propagaram e afetaram a biodiversidade natural, os setores de agronegócio e da pecuária, além do transporte das pessoas e produtos agrícolas e minerais pela hidrovia.
O estudo intitulado “Extreme Drought in the Brazilian Pantanal in 2019–2020: Characterization, Causes, and Impacts” (Seca Extrema no Pantanal Brasileiro em 2019-2020: Caracterização, Causas e Impactos) foi divulgado nesta terça-feira (23 de fevereiro) na publicação internacional científica da Revista Frontiers in Water– Seção Água e Hidrocomplexidade.
Desde 2019, o Pantanal tem sofrido uma longa seca que causou um desastre para a região, com incêndios subsequentes abrangendo centenas de milhares de hectares. O estudo aponta que essa seca foi provocada pela falta de chuvas – durante os verões de 2019 e 2020 – causada pela redução do transporte de ar quente e úmido do verão da Amazônia para o Pantanal. Houve uma predominância de massas de ar mais quentes e mais secas.
Impactos no Pantanal e nas bacias hidrográficas
No mês de abril do ano passado, o Pantanal teve a pior seca registrada nos últimos 120 anos e o pior registro de incêndios no bioma nos últimos 50 anos. À medida que os dias quentes e secos avançam, o Pantanal brasileiro e o sul da Amazônia sofrem mais pressão dos incêndios, aumentando os impactos socioambientais e econômicos.
“As temperaturas mais altas e a redução das chuvas aumentam o deficit hídrico previsto nas áreas central e oriental das Bacias Paraná e Paraguai, durante a primavera e verão.”, destaca o coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden, José A. Marengo, coordenador da pesquisa. Ele explica que isso pode afetar o pulso do rio Paraguai. “As maiores anomalias projetadas para os meses da estação seca (de junho a agosto) ocorrem pelas taxas de precipitação, relativamente baixas durante esses meses.”, explica Marengo.
A pesquisa utiliza uma ampla gama de fontes de dados, tanto observacionais (como os níveis do rio Paraguai na estação Ladário), dados de chuva em grade e índices de teleconexões atmosféricas para identificar mudanças na circulação durante eventos de seca. Além disso, índices derivados de fontes de sensoriamento remoto foram usados para caracterizar o estresse hídrico e a seca na região do Pantanal. “Neste estudo, demos enfoque à seca meteorológica, que é causada por um prolongado deficit de chuvas, muitas vezes potencializado por outras condições meteorológicas, como altas temperaturas, altas taxas de evapotranspiração e ventos dessecantes na região do Pantanal. Essa seca foi considerada a pior em 50 anos.”, afirma o climatologista José Marengo, do Cemaden.
Em dezembro de 2020, a seca extrema nos estados brasileiros de Mato Grosso (MT) e Mato Grosso do Sul (MS) afetou 4,17 milhões de pessoas (76% da população de MT e MS). Um total de 218 municípios (quase 100%) foram afetados pela seca.
A pesquisa foi realizada pelos pesquisadores do Cemaden: José Marengo, Ana Paula Cunha, Adriana Cuartas, Karinne Leal, Elisangela Broedel, Marcelo Seluchi e Fabiani Bender e pelos pesquisadores do Programa de Pós-graduação da Unesp-Cemaden: Camila Michelin, Cheila Baião, Eleazar Ângulo, Elton Almeida, Marcos Kasmierczak, Nelson Mateus e Rodrigo C. Silva.
O estudo na íntegra intitulado “Extreme Drought in the Brazilian Pantanal in 2019–2020: Characterization, Causes, and Impacts”, publicado na plataforma científica Frontiers, pode ser acessado pelo link:
https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/frwa.2021.639204/full
Fonte: Ascom/Cemaden