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Degradação por anos na Amazônia agrava o aquecimento global, aponta estudo de grupo internacional de cientistas
Com base em centenas de estudos analisados por mais de 30 cientistas do mundo, considerando as décadas de degradação da Amazônia, um estudo complexo envolvendo a biogeoquímica do clima aponta que a floresta da Amazônia pode estar fazendo o inverso de sua função original em absorver o gás carbônico da atmosfera. Ao invés disso, é possível que esteja emitindo mais gases efeitos estufa e aquecendo o planeta.
Apesar da gravidade do impacto negativo no clima global, os cientistas consideram que é possível reverter os danos, desde que sejam adotadas ações imediatas para conter o desmatamento da Amazônia, reduzir a construção de barragens e aumentar os esforços de restauração da floresta.
Publicada neste mês pela Revista Frontiers In Forests And Global Change, a pesquisa realizada por um grupo internacional de cientistas teve o apoio da National Geographic Society. Desenvolvido por meio de uma colaboração da sociedade civil e cientistas, o estudo teve a coautoria do climatologista José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden)- unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
Estudo integra a biogeoquímica do clima na Bacia Amazônica
Os estudos foram além do que se faz em pesquisa climática, geralmente, centrada na ciclagem e armazenamento do carbono e suas implicações para o clima global. Os cientistas consideraram, também, os resultados mais abrangentes e significativos do clima biofísico da Bacia Amazônica, compostos por diversos tipos de gases (como os compostos orgânicos voláteis biogênicos, ozônio, aerossóis, evapotranspiração, dióxido de carbono), a medição da radiação solar, entre outros, e suas respostas dinâmicas aos impactos locais (provocados pela urbanização, pelo fogo, desmatamento, mudanças no uso da terra, desenvolvimento de infraestrutura, mudanças nos padrões de chuva provocadas pelo desmatamento, tempestades e aumento do calor).
Além das análises das alterações e impactos locais, consideraram, também, os impactos globais provocados pelo aquecimento, pela seca e alguns relacionados ao aquecimento no Oceano Atlântico tropical e ao El Niño.
Foram sintetizados fontes e fluxos dos principais agentes de alterações e o impacto demonstrado e esperado das mudanças globais e locais. Incluíram, nessa análise, os fatores derivados das ações humanas nas alterações da Bacia Amazônica.
Impactos climáticos
“Atualmente, não há informações suficientes para estimar o impacto total do processo climático, como por exemplo, cobertura das nuvens ou resposta de evapotranspiração ao aquecimento sazonal e seca.”, afirma o cientista José Marengo, do Cemaden. Reforça, entretanto, que a contabilidade atual do uso da terra está focada em impactos diretos ao clima. Também aponta que as secas, relacionadas ao El Niño (como a de 1998 e 2016), ou ao aquecimento do Atlântico tropical (2005), ou ambos (2010), impactam a resposta fisiológica das florestas amazônicas (diminuindo a disponibilidade de absorção de CO 2 atmosférico ), além de impactar na biodiversidade e aumentar o risco de incêndios.
Marengo explica que a variabilidade interanual da precipitação está se intensificando e se reflete em secas severas (como em 1998, 2005, 2010 e 2016) e inundações (1999, 2009, 2012 e 2014). “As mudanças anuais projetadas nas chuvas ao longo do século XXI indicam que estações secas mais longas irão atrasar o início da estação chuvosa e levar à seca no leste e sul da Amazônia.”, afirma o cientista.
A pesquisa liderada por Kristofer Covey, professor no Skidmore College (Estados Unidos) foi publicada com o título “Carbon and Beyond: The Biogeochemistry of Climate in a Rapidly Changing Amazon” (Além do Carbono: a Biogeoquímica do Clima na rápida mudança da Amazônia) e está disponível na íntegra, acessando a Revista Frontiers In Forests And Global Change pelo link:
https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/ffgc.2021.618401/full
Fonte: Ascom/Cemaden