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Conhecimentos tradicional e local, além de ações participativas, colaboram para a compreensão dos efeitos iniciais das mudanças climáticas
Um estudo divulgado pela revista científica Current Opinion in Environmental Sustainability, da Elsevier, mostra que a integração dos múltiplos sistemas de conhecimento (científico, tradicional e local) ajuda a compreender os efeitos lentos das mudanças climáticas na América Latina e Caribe, permitindo a avaliação do impacto e do risco, necessários para o planejamento de curto e longo prazo.
Intitulado “Multiple knowledge systems and participatory actions in slow-onset effects of climate change: insights and perspectives in Latin America” (Múltiplos sistemas de conhecimento e ações participativas em efeitos lentos das mudanças climáticas: insights e perspectivas na América Latina), o artigo científico teve como coautor o pesquisador e sociólogo Victor Marchezini, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden)- unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
O artigo compartilha os resultados de uma revisão sistemática de literatura sobre múltiplos sistemas de conhecimento - científicos, tradicionais e locais - sobre os efeitos de início lento da mudança climática na América Latina e no Caribe, mostrando como e por que devem ser integrados à adaptação às mudanças climáticas.
Liderado pelo pesquisador Allan Iwama, atualmente pesquisador do Observatório de Territórios Sustentáveis e Saudáveis da Fundação Osvaldo Cruz (OTSS-Fiocruz) e professor visitante na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o estudo contou com a participação de representantes de vários países do continente americano. Além do Cemaden (Brasil), a publicação contou com pesquisadores da Universidad de Los Lagos e Universidad de Concepción (Chile), CIAD (México), Universidade de Massachusetts (Estados Unidos) e Universidade de York (Canadá).
Victor Marchezini, pesquisador do Cemaden, considera que o reconhecimento da heterogeneidade cultural do conhecimento tradicional (por exemplo, conhecimento dos povos indígenas e nativos) e do conhecimento local, podem ser vinculados a ações práticas para se adaptar aos efeitos do clima e às mudanças globais. “A integração do conhecimento tradicional e local com o conhecimento científico na avaliação de impacto e risco pode ser necessária para desenvolver o planejamento de curto e longo prazo”, explica Marchezini.
“Quando nos referimos aos efeitos de início lento das mudanças climáticas, nos concentramos em compreender a contribuição do conhecimento tradicional e local sobre as ameaças associadas ao aumento da temperatura global, a perda da biodiversidade terrestre e marinha, a degradação do solo e das florestas, elevação do nível do mar, desertificação, salinização do solo, redução das geleiras e acidificação dos oceanos”, explica o pesquisador Allan Iwama, líder do estudo. “Essas ameaças, ao contrário de eventos climáticos extremos (como enchentes, tempestades, secas severas, ondas de calor, ciclones tropicais) demoram muito mais para explicitar seus efeitos e, portanto, são mais difíceis de identificar e enfrentar”, destaca o pesquisador.
Iniciativas na América Latina e Caribe
A pesquisa mostra que a integração do conhecimento tradicional e local com o conhecimento científico é fundamental e necessária para a coprodução de observações sobre as mudanças climáticas.
Segundo o pesquisador Iwama, as iniciativas que colocam essa integração de múltiplos saberes entre seus objetivos, permitem reconhecer as vivências locais e cotidianas dos efeitos das mudanças climáticas percebidas pelas pessoas em seus territórios, além de conscientizar a população diretamente afetada sobre a possibilidade de enfrentamento dos efeitos negativos das mudanças climáticas. Da mesma forma, permite o desenvolvimento de um planejamento territorial, no curto e no longo prazo, pertinente e capaz de enfrentar processos de transformação ambiental em larga escala.
Dentre as iniciativas destacadas no artigo estão:
- Sistema de Observação e Monitoramento da Amazônia Indígena (SOMAI) - http://www.somai.org.br/#!/,
- Cemaden-Educação - http://educacao.cemaden.gov.br/
- Projeto Glaciares no Peru - https://www.proyectoglaciares.pe/,
- LICCION (Rede de Observação de Indicadores Locais de Impactos das Mudanças Climáticas) - https://licci.eu/liccion /
O trabalho liderado pelo pesquisador Allan Iwama é resultado do projeto CoAdapta | Litoral, apoiado pela ANID/FONDECYT 3180705 no Chile; Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), pelo do Programa de Pós-Graduação em Informação Ciência (PPGCI), desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)] e a rede Queen Elizabeth Scholhars para Economia Ecológica, Governança Comum e Justiça Climática.
O artigo na íntegra está disponibilizado no endereço :
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1877343521000208
Fonte:Ascom/Cemaden