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Cemaden discute a contribuição da Ciência de Desastres para mitigação e adaptação às mudanças climáticas
“Multidisciplinaridade da Ciência de Desastres” e “Desastres e Mudanças Climáticas” foram os temas debatidos pelos pesquisadores e gestores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden)- unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI)- no evento promovido pela Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais – Rede Clima, na última terça-feira (12 de abril), transmitido pelo Canal YouTube da Rede Clima.
A contribuição e os desafios da Ciência de Desastres e sobre os eventos extremos, mitigação e adaptação às mudanças climáticas foram apresentados pelo diretor do Cemaden, Osvaldo Moraes e pelo coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden, climatologista José Marengo.
Também participou, como palestrante, o professor Renzo Taddei, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que discorreu sobre as “Ciências Sociais na Questão de Desastres”. O evento teve a mediação do vice-reitor da Universidade Federal de Pernambuco, Moacyr Araújo, coordenador-geral da Rede Clima.
Contribuição e desafios da Ciência dos Desastres frente aos eventos climáticos extremos
O diretor do Cemaden, Osvaldo Moraes, discorreu sobre a Ciência de Desastres e sua contribuição, explanando que a ciência atua não apenas na informação e conhecimento de ameaças da natureza, mas indica como as pessoas devem se organizar para minimizar os impactos. Para isso, a ciência pode contribuir para subsidiar ações, desde a mitigação do desastre até a recuperação, envolvendo diversas áreas do conhecimento científico. Abordou sobre os desafios dessa ciência, como, por exemplo, a complexidade da metodologia científica, as informações de Bancos de Dados, dados sobre a percepção do risco pela população afetada, a necessidade de unificação das terminologias aplicadas nessa ciência, além dos esforços para a capacitação dos recursos humanos. “Ciência de Desastres é uma área de múltiplos conhecimentos, que envolvem problemas complexos, desde os sistemas naturais e os sociais, como também, o desenvolvimento de tecnologias e ferramentas”, destaca Moraes.
Com base nos principais resultados estabelecidos pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) dos Grupos I e II, o climatologista do Cemaden, José Marengo, analisou as conclusões mais importantes, entre elas, como as atividades humanas estão afetando o clima, resultando em eventos extremos. Esses eventos extremos - como ondas de calor, chuvas intensas e secas - estão mais frequentes e severos. No Painel mais recente, do Grupo II, a abordagem foi focada nos riscos e desastres que aumentaram nas últimas décadas. No período de 1970 a 2019, ocorreram 44% dos desastres, responsáveis por 31% das perdas de vida e econômicas. “Os eventos extremos estão aumentando em frequência e severidade. Associados ao aquecimento global, às mudanças climáticas e a alta vulnerabilidade e exposição, esses eventos extremos afetam, mundialmente, milhões de pessoas todos os anos”, enfatiza Marengo. “As pesquisas estão ajudando os tomadores de decisão para enfrentar os eventos climáticos extremos, os quais podem levar a desastres naturais.”, afirma o climatologista, apresentando os tipos de desastres no País, além de mostrar as secas regionais e a análise de ações de mitigação e de adaptação. “As medidas e estratégias para as secas devem ser fortalecidas em nível nacional e internacional”, ressalta Marengo.
“A governança realizada pelas instituições é crítica e determinante para desenvolver a capacidade adaptativa”, observa Marengo, alertando sobre algumas medidas para a questão das secas - consideradas de “adaptação” - são muitas vezes paliativas do momento e não vão resolver os problemas futuros. Mostrou, também, casos de anomalias de precipitação, como o evento ocorrido na Bahia (novembro e dezembro de 2021), e a minimização dos impactos pelo monitoramento e alerta do Cemaden, associado às ações da Defesas Civil. “Vulnerabilidade e exposição, acompanhadas de chuvas mais intensas, poderão ser maiores no futuro, caso não sejam feitas ações para reduzir essa vulnerabilidade e exposição aos riscos de desastres.”, alerta Marengo.
Ciências Sociais e Comportamentais e a justiça climática
O professor e pesquisador da Unifesp, Renzo Taddei discorreu sobre as Ciências Sociais e as pesquisas sobre desastres, nos estudos da forma de organização das comunidades, importantes para as análises sobre vulnerabilidades e exposições aos riscos de desastres. Incluiu as abordagens sobre as Ciências Comportamentais, no contexto da ação social e do comportamento individual e coletivo, para os estudos sobre as tomadas de decisão das pessoas em situação de perigo. Reforçando as citações do climatologista José Marengo, sobre a equação dos desastres - na composição de ameaças, vulnerabilidades e exposição - destacou os estudos das dimensões socioculturais, sobre quem são as pessoas afetadas, o que pensam, como se organizam e os recursos que possuem. “No contexto da ação social e comportamento coletivo, não há um referencial absoluto de ideias e valores no que diz respeito ao risco”, explica Taddei, considerando que um comportamento aparentemente ilógico, pode ser perfeitamente racional dentro de outro sistema de valores e ideias. “E isso, pode ser estudado cientificamente.”, destaca o professor da Unifesp. Destacou a clareza das citações do Relatório do IPCC de que “as desigualdades entendidas como impedimento à sustentabilidade”. Os inúmeros pontos citados no Relatório do IPCC mostram o que precisa ser feito, mas não indica como deve ser feito. E isso, demandará uma agenda de pesquisas.”, ressalta Taddei.
As apresentações e discussões na íntegra estão disponibilizadas no Canal do YoTube da Rede Clima, acessado pelo link:
https://www.youtube.com/watch?v=EBJK331lpko
Fonte: Ascom/Cemaden