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Cemaden apresenta estudos sobre impactos do aquecimento global no Brasil
No cenário de alta emissão de gases de efeito estufa, com 70% de probabilidade do Brasil sofrer um aquecimento superior a 4ºC antes do fim deste século, ocorrerá resultados catastróficos e impactos no país para a saúde humana, agricultura, biodiversidade e energia. A pesquisa foi coordenada pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, em parceria com a Embaixada do Reino Unido no Brasil. Os coordenadores da pesquisa foram os pesquisadores e climatologistas, José Marengo do Cemaden/MCTI e Carlos Afonso Nobre, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Os estudos foram apresentados durante o Workshop do lançamento do Relatório final do Projeto Riscos de Mudanças Climáticas Extremas no Brasil e Limites à Adaptação, ocorrido na Embaixada Britânica, em Brasília, no último dia 2 de março. Nos estudos, são apontados que o aquecimento no país afetará a saúde humana, causará aumento de eventos extremos, redução de água e energia para a população, além dos impactos sobre a produção de alimentos.
Para este projeto, os pesquisadores avaliaram estudos já publicados recentemente sobre impactos do aquecimento no Brasil, seguindo metodologia do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Em geral todos os setores apontam a reduzida literatura existente acerca do impacto de um aumento igual ou superior a 4ºC de temperatura média no Brasil. Maiores riscos e impactos são normalmente observados em cenários climáticos mais pessimistas, como as projeções do cenário mais extremo usado pelo IPCC no seu quinto relatório. Este cenário é chamado de RCP 8.5, que mostra aquecimento global de até quase 6º C até o ano de 2100.
“As mudanças climáticas precisam ser compreendidas pelos formuladores de políticas como uma questão de gestão de riscos.”, afirma o pesquisador José Marengo. Para ele, minimizar os riscos significa influenciar de forma rígida e urgente a formulação de políticas que priorizem a mitigação. ”O estudo empresta conceitos de análise de risco para estudar cenários de aumentos de temperatura acima de 4ºC.”
Impactos no Brasil com o aumento da temperatura em 4ºC
Na agricultura- Um aquecimento igual ou superior a 4°C significa uma maior evapotranspiração e uma maior demanda do que temos no sistema de água. Com um aumento de fenômenos extremos como as inundações e secas em lugares e momentos diferentes. Sendo importante reduzir a nossa vulnerabilidade e cultivar alimentos com menos água.
Em uma análise do risco de perda de produtividade com possibilidade maior de 20%, para diferentes culturas (algodão, arroz, café, cana-de-açúcar, feijão, girassol, milho e soja) para um cenário atual (base 1976-2005), em 2020, 2050 e 2070 em uma situação de aquecimento igual ou superior a 4°C para todos os municípios do Brasil.
Setor saúde humana – Evidência sobre doenças transmitidas por água e alimentos contaminados com ênfase na leptospirose e diarreia: Leptospirose: os municípios do estado do RS e SC poderão experimentar um aumento de mais de 150% nos casos de leptospirose decorrentes do aumento da precipitação. Municípios com alto risco e vulnerabilidade para inundações poderão apresentar aumento dos casos da doença.
Nas condições sociodemográficas, com problemas de saneamento e serviços de atenção básica à saúde, cerca de 34% dos municípios e 64% da população infantil da região Norte poderão apresentar aumento de 50% dos casos de diarreia até 2099.
Na região Norte e Nordeste, aproximadamente 80% dos municípios apresentam vulnerabilidade muito alta para condições de saúde, representando cerca de 40% da população infantil e idosa da região que poderão estar expostas a um aumento médio de 5°C na região Nordeste e 7°C na região Norte no cenário RCP 8.5 no período de 2071-2099.
Setor biodiversidade- Impacto de um aumento igual ou superior a 4 °C na temperatura média pode levar a:
-savanização e empobrecimento de florestas se verifica para aumento superior a 2oC em 2070 e que se agrava com o aumento da temperatura;
-aumento no percentual de risco de extinção de espécies de ate 15,7%, e América do Sul é o continente mais suscetível à extinção de espécies;
-extinção e mudanças no padrão de distribuição de espécies nativas de valor comestível e cultural no cerrado, causariam problemas socioeconômicos em 2080.
-impacto socioeconômico também se daria pela redução nas populações de espécie de abelha nativa da Mata Atlântica, essencial à polinização tanto de espécies agrícolas como de espécies nativas, que já se verificaria em 2030 e se agravaria até à extinção em 2050 e 2080,
-em 2100, o Brasil perderia 200 dias por ano para o crescimento de plantas, causando impactos de grande magnitude tanto para a biodiversidade, a produtividade de ecossistemas e a economia. Para espécies florestais na Amazônia e Mata Atlântica, o cenário seria particularmente grave.
-Em 2100, a perda de biodiversidade nas costas tropicais, inclusive brasileira, será significativa gerando impactos sobre a alimentação e economia.
Setor Energia – A vulnerabilidade do setor elétrico brasileiro a cenários de temperaturas extremas dependerá da própria trajetória de evolução deste sistema no futuro. A demanda por eletricidade pode mais do que dobrar no país até 2050, e pra atender essa demanda adicional, na ausência de esforços de mitigação o sistema energético brasileiro poderia se tornar mais carbono intensivo devido à penetração de carvão e gás natural na geração elétrica.
Em cenários de mitigação, fontes renováveis, como eólica e solar, tornam-se mais importantes, além de fontes fósseis acopladas com captura e armazenamento de carbono.
Do ponto de vista qualitativo e partindo de um impacto negativo quantificado sobre as hidrelétricas brasileiras para um cenário RCP 8.5 (aquecimento maior do que 4 °C para o ano de 2100 ), o déficit no atendimento da demanda elétrica no país se torna praticamente inevitável em um cenário de clima extremo até 2040. Temperaturas maiores podem, também, estressar o sistema elétrico pelo lado da demanda, dada a maior demanda por eletricidade para lidar com temperaturas ambientes mais elevadas.
O Relatório final do Projeto Riscos de Mudanças Climáticas Extremas no Brasil e Limites à Adaptação será transformado em livro. Participaram da pesquisa o Instituto Alberto Luiz Coimbra (COPPE-UFRJ), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS).