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2015 é um ano crucial para o nosso futuro
As mudanças climáticas constituem uma séria ameaça aos esforços para o desenvolvimento sustentável e para a redução da pobreza. A continuidade da trajetória atual de aquecimento deixará um legado ao planeta, de irreversível transformação, com temperaturas excedendo amplamente os 2ºC e potenciais impactos devastadores. Se atuarmos rápida e corajosamente, podemos começar imediatamente a descarbonizar a economia global e limitar as mudanças climáticas.
Para isso, porém, as lideranças políticas de todos os países devem agir, resolutamente este ano, para garantir um melhor futuro para as gerações vindouras e para todas as demais espécies.
E por essas razões é que nós, da Earth League (Liga da Terra)–uma rede internacional de cientistas de mudanças globais–estamos lançando hoje a “Declaração da Terra”, um conjunto de oito ações essenciais as discussões da Cúpula do Clima (COP21), em Paris, no mês de dezembro. São elas:
1. Limitar o aquecimento global abaixo de 2ºC, sendo este o limite máximo de aquecimento para evitar o risco de mudanças climáticas perigosas.
2. O máximo que a humanidade pode emitir no balanço global de carbono—isto é, o limite de emissões futuras de dióxido de carbono—deve ficar abaixo de 1 trilhão de toneladas (1000 Gt CO2) para termos uma chance razoável de ficarmos abaixo da linha de 2º C.
3. Ações de descarbonização profunda, de início imediato, para que atinjamos uma sociedade de “zero-carbono” em meados do século, ou um pouco depois, é condição chave para prosperidade futura.
4. Todos os países devem desenvolver planos de descarbonização de suas economias. Os países ricos e as indústrias modernas podem e devem assumir a responsabilidade de descarbonizar bem antes de meados do século.
5. Devemos desencadear uma onda de inovação climática para o bem global e permitir o acesso universal às soluções de tecnologia já existentes.
6. As mudanças climáticas já estão acontecendo. Nós precisamos aumentar, de forma maciça, o apoio público para as estratégias de adaptação e medidas de redução de perdas e danos nos países em desenvolvimento.
7. Devemos proteger sumidouros de carbono e ecossistemas vitais, nossos melhores amigos na luta contra as mudanças climáticas.
8. Os governos precisam dar apoio suplementar aos países em desenvolvimento para que possam lidar com as mudanças climáticas, em um nível pelo menos comparável àqueles da assistência global ao desenvolvimento.
O Brasil tem se destacado, mundialmente, na redução de 36% das emissões nos últimos anos, cortando suas emissões brutas de 2,36 Gton CO2 equivalente em 2005 para 1,52 Gton CO2 equivalente em 2012, de acordo com as estimativas do MCTI. Isso ocorreu, principalmente, pela redução de cerca de 80% dos desmatamentos da Amazônia e, em menor grau, pela redução também no bioma cerrado.
O Plano de Agricultura de Baixo Carbono (ABC) sinaliza caminhos para a sustentabilidade da agricultura brasileira, na direção de redução das emissões, diminuição da pressão sobre ecossistemas e, ao mesmo tempo, aumento de produtividade, equação esta que fecha com a intensa utilização de conhecimento, tecnologias e inovação no campo e que pode levar ao desmatamento (quase) zero.
No setor de energia, a descarbonização passa pelo aumento da eficiência energética e da utilização maciça de energias renováveis — notadamente energias eólica e solar — na matriz elétrica brasileira. China e Índia têm planos de acrescentar enormemente estas formas de energia renovável, nos próximos 10 anos, e o Brasil deve seguir o exemplo.
O Brasil — potência ambiental — deve apoiar e defender, na COP21, um acordo ambicioso, equitativo e cientificamente embasado, limitando o aquecimento a 2ºC.
Carlos A Nobre
Climatologista, com doutorado pelo MIT, é Diretor do CEMADEN-MCTI e membro da Earth Legue