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Situação Atual e Projeção Hidrológica para o Sistema Cantareira 02/04/2025 Ano 11 Nº 103
Esta edição do boletim traz um resumo da situação referente ao mês de março de 2025, e projeções hidrológicas de abril a setembro de 2025. Ao final de março, os reservatórios do Sistema Cantareira estavam com 58% de seu volume útil, uma queda de 2% em comparação ao mês anterior. Adicionalmente, esse valor é inferior ao registrado no mesmo período de 2024, quando o armazenamento alcançou 78%. Com a situação atual de armazenamento, os reservatórios do Sistema Cantareira encontram-se na faixa de operação “Atenção” (armazenamento entre 40% e 60%)[1], cuja máxima vazão de extração para o atendimento da demanda hídrica da região metropolitana de São Paulo é 31 m³/s. Em março de 2025, a média de extração para o abastecimento da região metropolitana de São Paulo foi, de aproximadamente, 32 m³/s. Ainda em março, a contribuição do reservatório da Usina Hidrelétrica (UHE) Jaguari, localizado na bacia do rio Paraíba do Sul, para o reservatório do rio Atibainha, que faz parte do Sistema Cantareira, foi cerca de 5,5 m³/s. É importante destacar que essa contribuição, proveniente da interligação entre os sistemas, ficou desativada por um longo período e voltou a operar em maio de 2024, conforme a Resolução Conjunta ANA 1.931/17.
A precipitação e a vazão registradas no Sistema Cantareira, no mês de março foram equivalentes a 57% e 43% da média histórica do mês, respectivamente. Atualmente, o Sistema Cantareira encontra-se classificado em seca hidrológica variando entre intensidade moderada e severa, de acordo com o Índice Padronizado Bivariado Precipitação-Vazão (TSI) nas escalas temporais de 6 e 12 meses, respetivamente. Em comparação com o mês anterior, a situação da seca hidrológica no Sistema Cantareira apresentou intensificação, particularmente na escala temporal de 12 meses. Embora na escala de 6 meses a condição de seca tenha permanecido na mesma faixa de classificação do mês anterior, o valor numérico do TSI tornou-se menos negativo.
Com relação às projeções hidrológicas a partir do modelo PDM/CEMADEN (Probability-Distributed Model/CEMADEN) (Tabela 01), as simulações indicam que, no cenário hipotético de precipitação na média histórica, a vazão afluente média aos reservatórios do sistema Cantareira, no próximo trimestre oscilará em torno de 31 m³/s, o que corresponde a 87% da média histórica deste período. Ainda, considerando o cenário de precipitações na média histórica, o modelo hidrológico projeta um armazenamento no sistema, no final de junho, de 57%, na faixa de operação “Atenção”. Para um horizonte de tempo maior, entre abril e setembro de 2025, o modelo indica vazão média de 26 m³/s, correspondente a 90% da média histórica, e armazenamento no final de setembro de 2025, de 48%, na faixa de operação “Atenção”.
Ressalta-se que esses cenários podem ser modificados de acordo com mudanças na vazão de interligação com a bacia do rio Paraíba do Sul, bem como as extrações do Sistema a serem praticadas pelo operador, nos próximos meses.

- Tabela 01. Projeções de vazões médias entre o período de abril a setembro de 2025 e volume armazenado no final de junho e setembro de 2025, considerando cinco cenários de precipitação: 50% e 25% abaixo da média histórica, na média histórica e 25% acima da média histórica e cenário crítico. As faixas de operação do reservatório estão de acordo com a resolução conjunta da ANA/DAEE Nº 925/2017. Nessas simulações, foi considerado o aporte de 5,13 m3/s proveniente da interligação do Sistema Paraíba do Sul para Sistema Cantareira, de acordo com a Resolução conjunta ANA 1.931/17.
[1] De acordo com a Resolução conjunta ANA/DAEE Nº 925/2017.
Situação atual do Sistema Cantareira
A precipitação acumulada durante a estação chuvosa de outubro de 2024 a março de 2025, baseado nas redes pluviométricas que cobrem as sub-bacias de captação do Sistema Cantareira (Figura 1), incluindo 26 pluviômetros do CEMADEN e 7 pluviômetros do DAEE/ SAISP[2], foi 1052 mm (10782 mm). Esse valor corresponde a 94% (96%2) da média histórica desse período (1119 mm). No mês de março de 2025, último mês chuvoso desta temporada, a precipitação acumulada foi 98 mm (1062 mm), equivalente a um valor de, aproximadamente, 57% (61%2) da média histórica para este mês (173 mm).

- Figura 1: Mapa de localização das sub-bacias de captação do Sistema Cantareira incluindo Jaguari-Jacareí, Cachoeira, Atibainha, Paiva Castro (contornos em preto), juntamente com a localização dos pluviômetros operantes nesta região, sendo 21 do CEMADEN (pontos verdes) e 7 do DAEE/ SAISP (pontos magentas).
O Sistema Cantareira encontra-se classificado em seca hidrológica variando entre intensidade moderada e severa, de acordo com o Índice Padronizado Bivariado Precipitação-Vazão (TSI) para as escalas temporais de 6 e 12 meses (TSI-6 = -1,03 e TSI-12 = -1,51, respectivamente) (Figura 2a e 2b). Ainda de acordo com o TSI, em comparação com o mês anterior, a situação da seca hidrológica no Sistema Cantareira apresentou intensificação, particularmente na escala temporal de 12 meses. Embora na escala de 6 meses a condição de seca tenha permanecido na mesma faixa de classificação do mês anterior, o valor numérico do TSI tornou-se menos negativo. Destaca-se que, embora a bacia tenha apresentado condições de normalidade em alguns períodos desde a crise hídrica de 2014, como entre maio de 2016 e maio de 2017 e entre março de 2023 e fevereiro de 2024, o Sistema Cantareira enfrentou, nos demais períodos após 2014, uma condição de seca, com intensidade variando de fraca a excepcional.

- Figura 2. Índice Padronizado Bivariado Precipitação-Vazão (TSI) para o Sistema Cantareira, nas escalas temporais de 6 (a) e 12 (b) meses, entre janeiro de 1981 a março de 2025. A linha vermelha pontilhada indica o limiar entre uma condição de seca hidrológica fraca e moderada à excepcional.
A média de vazão afluente aos reservatórios do Sistema Cantareira (Sistema Equivalente + Paiva Castro), entre os meses chuvosos de outubro de 2024 a março de 2025, de acordo com dados da SABESP[3] e da ANA[4] foi, de aproximadamente, 33 m3/s. Esse valor corresponde a 67% da média histórica (49 m3/s). Para o mesmo período, a extração total média dos reservatórios foi 35 m³/s, enquanto a média de extração de água do Sistema Cantareira para o elevatório Santa Inês (Qesi), que abastece a região metropolitana de São Paulo, foi 30 m³/s.
Ainda em março, o aporte médio da interligação alcançou 5,5 m³/s. É importante ressaltar que a operação da interligação, suspensa desde 27 de dezembro de 2022, quando os reservatórios do Sistema Cantareira estavam com apenas 39% de sua capacidade total, foi retomada em 17 de maio de 2024, mantendo uma média mensal de 7,5 m³/s até novembro de 2024, de acordo com o Ofício OA 008/2024.
O Sistema operou no dia 31 de março de 2025 com, aproximadamente, 58% do volume útil total, na faixa de operação “Atenção” (nível de armazenamento entre 40% e 60%), de acordo com o estabelecido pela Resolução conjunta ANA/DAEE Nº 925/2017. O volume atual no Sistema Cantareira representa uma queda de 2% em relação ao final do mês anterior, quando o Sistema também estava classificado na faixa de operação "Atenção". Adicionalmente, o nível atual é inferior ao registrado no mesmo período de 2024, quando alcançou 78% e se enquadrava na faixa de operação "Normal" (nível de armazenamento entre 60% e 100%). Em comparação com o período pré-crise, em março de 2013, quando o volume era de 62%, a situação atual de armazenamento no Sistema Cantareira também representa uma condição ligeiramente pior (Figura 3).
[2] DAEE / SAISP: Departamento de Águas e Energia do Estado de São Paulo / Sistema de Alerta a Inundações de São Paulo.
[3] SABESP: Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo/Situação dos Mananciais.
[4] ANA: Agência Nacional de Águas.
Previsão de chuva
A região da bacia de captação do Sistema Cantareira se encontra na etapa final do período chuvoso. Contudo, nos próximos dias a passagem de uma frente fria relativamente intensa deverá provocar chuvas generalizadas e volumosas na faixa leste de São Paulo, incluindo a bacia do Cantareira. Especificamente para os próximos 10 dias (Figura 4), as previsões do modelo GEFS/NOAA (50x50 km) indicam probabilidade de chuva, com acumulados totais superiores à média histórica da época. Para a segunda semana (Figura 5), são esperadas precipitações relativamente menos volumosas, provavelmente com acumulados totais próximos à média histórica desta época, que já é menor.

- Figura 4. Previsão de precipitação acumulada em milímetros (mm) nos próximos 3 (esquerda) e 10 (direita) dias para a bacia de captação do Sistema Cantareira, segundo a previsão do modelo numérico GENS/NOAA. A área da bacia de captação do Sistema Cantareira é indicada no centro da figura com linha preta espessa.

- Figura 5. Previsão de precipitação em milímetros (mm) acumulados (esquerda) e sua respectiva anomalia em relação aos valores climatológicos (direita) para a segunda semana de acordo com o modelo numérico GENS/NOAA.
Projeções de vazão afluente para os próximos meses
A Figura 6 apresenta as médias mensais de vazão afluente observada e, na sequência, projeções de vazão usando a média dos membros de previsão (01 a 10 de abril de 2025) e, a partir do dia 11 de abril foram considerados cinco cenários hipotéticos de precipitação: média histórica (1981-2024), 25% acima da média, 25% e 50% abaixo da média histórica e cenário crítico (abril a setembro de 2024).As simulações indicam que, no cenário de chuva na média histórica, a vazão afluente média, correspondente ao próximo trimestre (maio a junho) será em torno de 31 m³/s, o que representa 87% da média histórica para este período. Para os cenários de precipitações 25% e 50% abaixo da média histórica, as simulações projetam vazões da ordem de 25 m3/s (69%) e 19 m3/s (54%), respectivamente. No cenário de precipitação crítica, ocorrido em 2024 (27% da média histórica), o modelo hidrológico aponta vazão média em torno de 19 m3/s, correspondente a 54% da média do período. Adicionalmente, em um cenário de chuvas mais otimista, 25% acima da média histórica, o modelo indica vazão média de 37 m3/s, equivalente a 104% da média histórica deste período. Destaca-se que, com exceção do cenário de chuvas 25% acima da média, o modelo hidrológico projeta vazões inferiores à média histórica para todos os demais cenários de precipitação durante o período.
Considerando um horizonte de tempo maior, entre os meses secos de abril a setembro de 2025, de acordo com as projeções, para o cenário de chuva na média histórica, a vazão afluente ficará em torno de 26 m³/s, equivalente a 90% média histórica para este período. Nos cenários de precipitações 25% e 50% abaixo da média histórica, as simulações apontam vazões da ordem de 19 m³/s (67%) e 14 m³/s (49%) da média, respectivamente. No cenário de precipitação crítica igual ao ocorrido em 2024 (35% da média histórica), o modelo hidrológico aponta vazão média em torno de 15 m3/s, correspondente a 53% da média do período. Em um cenário de chuvas 25% acima da média histórica, o modelo projeta uma vazão média vazão de 33 m³/s, caracterizando um valor de 12% acima da média histórica deste período. Um resumo de tais valores também podem ser visualizado na Tabela 1.

- Figura 6. Histórico (linhas contínuas) e simulação de vazão média mensal (em m³/s) afluente ao Sistema Cantareira (linhas tracejadas) considerando a previsão e cinco cenários de precipitação: 50% (verde) e 25% abaixo da média histórica (azul claro); na média histórica (cinza) e 25% acima da média histórica (azul escuro) e cenário crítico (laranja). As linhas espessas representam as vazões médias mensais observadas, de acordo com a SABESP: média histórica (preto); mínimos mensais (marrom); série de outubro de 2023 a setembro de 2024 (magenta); e série de outubro de 2024 a março de 2025 (roxo).
Projeções de volume armazenado para os próximos meses
A Figura 7 apresenta as projeções da evolução do volume útil armazenado nos reservatórios do Sistema Cantareira utilizando: (i) previsão e projeções de vazão afluente; (ii) vazão de extração para a estação elevatória Santa Inês (Q esi) de acordo com as regras condicionais estabelecidas pela Resolução conjunta ANA/DAEE Nº 925/2017 (foram aplicados valores médios entre as faixas); (iii) aporte médio de 5,13 m3/s proveniente da interligação entre o Sistema Paraíba do Sul e o reservatório Atibainha durante os meses de abril a setembro de 2025, conforme a Resolução Conjunta ANA 1.931/17 e; (iv) vazão defluente (Q jusante) para as bacias do PCJ (rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí) de 4,9 m³/s e 9,4 m³/s para estação chuvosa e seca, respectivamente, valores médios referentes ao período de 2023/2024.
Considerando um cenário hipotético de precipitação na média histórica, por exemplo, as projeções indicam que, os reservatórios estariam, no final do próximo trimestre (junho de 2025), na faixa de operação “Atenção” (armazenamento entre 40% e 60%), com 57% do seu volume útil” (Tabela 01). Adicionalmente, nos cenários de precipitação 25% e 50% abaixo da média, os reservatórios continuariam, no final de junho, na faixa de operação “Atenção”, com 52% e 48% do volume útil, respectivamente. Para o cenário de precipitação crítica, igual ao ocorrido em 2024, o volume projetado pelo modelo hidrológico no final de junho é de 48% da capacidade total do sistema, também na faixa de operação “Atenção”. Em contrapartida, no cenário de chuvas mais otimista, 25% acima da média histórica, o modelo indica que os reservatórios estariam no final de junho de 2025 na faixa de operação “Normal” (armazenamento entre 60% e 100%), alcançando um valor de 61% da capacidade total.
Considerando um horizonte de tempo maior, para o cenário hipotético de precipitação na média histórica, as projeções indicam que, os reservatórios estariam no final do horizonte de projeções (30 de setembro de 2025), na faixa de operação “Atenção”, com 48% do seu volume útil. Em contrapartida, nos cenários de precipitação 25% e 50% abaixo da média, os reservatórios estariam, ao final de setembro, nas faixas de operação “Alerta” (armazenamento entre 30% e 40%) e “Restrição” (armazenamento entre 20% e 30%), com 37% e 29% do volume útil, respectivamente. No cenário de precipitação crítica, o volume projetado pelo modelo hidrológico no final de setembro é de 31% da capacidade total do Sistema, também na faixa de operação “Alerta”. Considerando um cenário de chuvas mais otimista, 25% acima da média histórica, o modelo indica que os reservatórios estariam até o final do horizonte de projeções na faixa de operação “Atenção”, alcançando um valor de 56% da capacidade total, em 30 de setembro.
Salienta-se que, para o cenário de precipitação igual a média histórica, entre abril e setembro de 2025, o volume armazenado no Sistema Cantareira, no final do horizonte de projeção (setembro), estaria na mesma faixa de operação que à atual, porém em um patamar ligeiramente inferior comparativamente ao registado no mesmo período de 2024 (51%, faixa de operação “Atenção”).
É importante destacar que, esses cenários podem ser modificados de acordo com mudanças na vazão de interligação com a bacia do Rio Paraíba do Sul, bem como as extrações do Sistema a serem praticadas pelo operador, nos próximos meses.

- Figura 7. Projeções de armazenamento do Sistema Cantareira (linhas tracejadas) para cinco cenários de precipitação: 50% (verde) e 25% (azul claro) abaixo da média histórica, na média histórica (cinza) e 25% acima da média histórica (azul escuro) e cenário crítico (laranja). Nessas simulações foi considerada uma vazão média de aporte da interligação com a bacia do rio Paraíba do Sul de 5,13 m³/s, entre abril e setembro de 2025, de acordo a Resolução conjunta ANA 1.931/17. A linha magenta mostra a evolução do armazenamento observado do Sistema Cantareira de outubro de 2023 a setembro de 2024 e a linha roxa no período outubro de 2024 a março de 2025. As faixas coloridas referem-se às faixas de operação do reservatório de acordo com a resolução conjunta da ANA/DAEE Nº 925/2017.
