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MONITORAMENTO DE SECAS E IMPACTOS NO BRASIL – JULHO/2021
Sumário
O Índice Integrado de Seca (IIS) para o mês de julho, quando comparado ao do mês de junho, aponta a intensificação das condições de seca em grande parte do Brasil, principalmente no Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Bahia.
De acordo com a avaliação dos impactos da seca em áreas de atividades agrícolas e/ou pastagens (agroprodutivas), 1.277 municípios apresentaram pelo menos 40% de suas áreas de uso impactadas no mês de julho. Os estados de São Paulo e Minas Gerais foram os que tiveram o maior número de municípios com áreas agroprodutivas afetadas acima de 40%. Enquanto o Rio Grande do Norte continuou se destacando como o estado que teve o maior número de municípios com impacto da seca superior a 80% da área agroprodutiva.
Com relação aos impactos da seca nos recursos hídricos, na Região Sul destacam-se a usina hidrelétrica (UHE) Itaipu, com vazão de 50% da média histórica. A UHE Segredo, que no início da estação chuvosa de 2020 registrou valores de vazão inferiores aos mínimos absolutos, apresentou uma melhora significativa em dezembro, contudo, a partir de março de 2021 vem registrando valores abaixo da média histórica, e no mês de julho a vazão foi cerca de 38%. Destacam-se também as UHEs Barra Grande e Passo Real, ainda na Região Sul, com vazão de 36% e 52%, respectivamente, da média histórica do mês. Na Região Centro-Oeste, as vazões naturais da UHE Serra da Mesa foram 73% da média, e o nível de armazenamento do reservatório foi 32% no final de julho. Na Região Sudeste, destaque para a UHE Furnas que registrou no mês de julho cerca de 48% da vazão média e o armazenamento no reservatório encerrou o mês com 25% do volume útil. Ainda no Sudeste do país, o reservatório da UHE Três Marias apresenta uma situação menos crítica em termos de volume armazenado no reservatório, com 55% do volume útil. No entanto, a vazão natural ficou em torno de 42% da média do mês de julho. Adicionalmente, no Sistema Cantareira, principal sistema hídrico de abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo, a vazão afluente foi 34% da média, e o armazenamento em torno de 42% do volume útil, situação pior que no mesmo período pré-crise (53,4% no final de julho de 2013).
O ciclo da mais recente La Niña terminou, porém, este episódio muito provavelmente teve influência para compor o cenário crítico de seca no Brasil central. Está previsto que a atual situação de neutralidade (sem La Niña nem El Niño) deva perdurar durante o trimestre agosto-setembro-outubro de 2021 (ASO/2021), mas há chances significativas para o retorno da La Niña durante o verão (novembro/2021 a janeiro/2022), ainda que de fraca intensidade. As previsões sazonais multi-modelo de chuva do International Research Institute e do CPTEC/INMET/FUNCEME (ambas produzidas em julho/2021), e do Centro Europeu (ECMWF), concordam em prever, durante ASO/2021, condições desfavoráveis para chuva nos estados da Região Sudeste e Centro-Oeste. Esta previsão pode estar indicando um início tardio da estação chuvosa no Brasil, que climatologicamente se inicia durante o mês de outubro. As previsões subsazonais (até 4 a semana) indicam, para a Região Sul, uma possibilidade de um período mais chuvoso no final de agosto e início de setembro.
A. ÍNDICE INTEGRADO DE SECA (IIS) PARA O BRASIL: JULHO/2021
Índice Integrado de Seca (IIS) referente ao mês de julho de 2021 nas escalas: 3 meses (IIS-3, esquerda) e 6 meses (IIS-6, direita).
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Saiba mais sobre o Índice Integrado de Seca (IIS)
O Índice Integrado de Seca (IIS) consiste na combinação do Índice de Precipitação Padronizada (SPI), a Água Disponível no Solo (ADS) juntamente com o Índice de Suprimento de Água para a Vegetação (VSWI) ou com o Índice de Saúde da Vegetação (VHI), ambos estimados por sensoriamento remoto. O SPI é um índice amplamente utilizado para detectar a seca meteorológica em diversas escalas e pode ser interpretado como o número de desvios padrões nos quais a observação se afasta da média climatológica. O índice negativo representa condições de déficit hídrico, nas quais a precipitação é inferior à média climatológica. O índice positivo representa condições de excesso hídrico, que indicam precipitação superior à média histórica.
Para integrar o IIS, o SPI é calculado a partir de dados observacionais de precipitação disponíveis no CEMADEN, no Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e Centros Estaduais de Meteorologia. O SPI é calculado com base na formulação proposta por Mckee et al. (1993) e considerando as escalas de 3, 6 e 12 meses, obtendo como produto final SPI na resolução espacial de 5km. O IIS possui as seguintes classes: condição normal (6), seca fraca (5), seca moderada (4), seca severa (3), seca extrema (2) e seca excepcional (1).
B. VARIAÇÃO MENSAL DO IIS: Julho em relação à junho
C. MONITORAMENTO DOS IMPACTOS DA SECA: VEGETAÇÃO E AGRICULTURA
Mapa de Índice da Saúde da Vegetação (VHI) para o Brasil referente ao mês de julho e gráfico das áreas impactadas pela seca por região (áreas com VHI < 30)
Saiba mais sobre o Índice de Saúde da Vegetação (VHI)
O Índice de Saúde da Vegetação (VHI) da NOAA/NESDIS é calculado a partir de dados do Índice de Vegetação da Diferença Normalizada (NDVI, sigla em inglês) e temperatura de brilho, devidamente calibrados e filtrados, resultando da composição de dois subíndices, o VCI ( Vegetation Condition Index ) e o TCI ( Temperature Condition Index ). O NDVI e a temperatura de brilho apresentam dois sinais ambientais distintos, o de resposta lenta do estado da vegetação (clima, solo, tipo de vegetação) e o de resposta mais rápida relacionado com a alteração das condições atmosféricas (precipitação, temperatura, vento, umidade). Este índice permite identificar o início/fim, área afetada, intensidade e duração da seca e sua relação com os eventuais impactos.
Estimativa das Áreas Agroprodutivas Afetadas por Município: Julho/2021
D. MONITORAMENTO DA UMIDADE DO SOLO
Perdas na produtividade agrícola podem ocorrer devido a períodos prolongados de seca e valores baixos de água disponível no solo, especificamente valores abaixo de 40%. O mapa mostra classes de seca baseadas na fração de água no solo em relação à saturação. Os dados são derivados do satélite SMAP (NASA), que estima a quantidade de água em camadas superficiais do solo. Posteriormente, esses dados são incorporados em um modelo hidrológico, resultando em estimativas da umidade do solo em uma camada de 1 m de solo, onde a maior parte das raízes se localizam. Esse produto final é disponibilizado várias vezes ao longo do mês e tem resolução espacial de aproximadamente 25 km. Os resultados mostrados aqui são referentes a anomalia da umidade do solo disponibilizada no dia 28 de julho.
As classes de seca baseadas na umidade do solo para o mês de julho de 2021 são mostradas na figura a seguir. Os estados mais afetados com seca extrema são Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Adicionalmente, partes dos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Bahia também apresentaram baixos níveis de água no solo e seca severa .
E. MONITORAMENTO DOS IMPACTOS DA SECA: RECURSOS HÍDRICOS
O IIS-6 para a área da bacia afluente ao reservatório da UHE Serra da Mesa (Centro-Oeste) apresenta uma situação de normalidade à seca fraca. Para as bacias das UHEs Três Marias, Furnas e para o Sistema Cantareira (Sudeste), o IIS-6 indica seca variando de normalidade à seca moderada. Para a bacia da UHE Itaipu, o IIS-6 indica uma melhoria da condição de seca em relação ao mês anterior, embora ainda predominem condições de seca fraca à severa. Nas bacias localizadas na Região Sul do país (incluindo as UHE Segredo, Barra Grande e Passo Real), pode ser observada seca fraca à severa, indicando uma piora das condições de seca em relação ao mês anterior .
Em julho de 2021, a vazão afluente no Sistema Cantareira, principal sistema hídrico que abastece a Região Metropolitana de São Paulo, foi 34% da média histórica do mês e os reservatórios fecharam o mês com 42% do volume útil (faixa de operação “Atenção”), representando uma diminuição de aproximadamente 3% em relação ao final do mês anterior. Para o reservatório da UHE Três Marias, a vazão natural foi 42% da média do mês e o reservatório operou, em 31 de julho de 2021, com 55% de seu volume útil (faixa de operação “Normal”), apresentando uma diminuição de 6% em relação ao final do mês anterior. A vazão natural do reservatório da UHE Furnas representou 48% da média do mês, e o armazenamento no reservatório, em 31 de julho, foi 25% do volume útil, representando uma redução de 4% em relação ao final do mês anterior. No reservatório da UHE Serra da Mesa a vazão natural representou 73% da média do mês de julho. O reservatório operou com 32% de seu volume útil, representando uma redução de 3% em relação ao final do mês passado .
Para a Região Sul do país, na bacia hidrográfica da UHE Itaipu, localizada no Rio Paraná – Santa Catarina, uma das maiores hidrelétricas do mundo, a vazão foi 50% da média histórica para o mês de julho. Na bacia de drenagem da UHE Segredo (Gov. Ney Aminthas de Barros Braga), localizada no Rio Iguaçu, a vazão representou 38% da média do mês de julho, e o nível de armazenamento no reservatório atingiu 48%, o que representa um declínio de 29% em relação ao mês anterior. Na bacia afluente à UHE Barra Grande (no rio Uruguai, entre os estados de RS e SC) a vazão representou 36% da média. O nível de armazenamento do reservatório atingiu 62% no final de julho, representando um declínio de 22% em relação ao valor no final de junho. Para a bacia de drenagem da UHE Passo Real, localizada no Rio Jacuí – Rio Grande do Sul, a vazão afluente registrada foi 52% da média, e o armazenamento no reservatório foi 45% do seu volume útil, mantendo a mesmo nível do mês anterior .
F. PREVISÃO SAZONAL E SUB-SAZONAL PARA O BRASIL
Os indicadores atmosféricos em relação ao fenômeno ENOS (El Nino-Oscilação Sul) mostram patamares de neutralidade. Em outras palavras, a última La Niña terminou seu ciclo e tampouco há condições de El Niño. Esta situação de neutralidade deve perdurar durante o trimestre agosto-setembro-outubro de 2021 (ASO/2021), segundo a previsão por consenso entre o Climate Prediction Center e o International Research Institute, ambos dos EUA. Porém, há uma chance (atualmente de 70%) de que uma La Niña fraca possa se formar e atuar durante o verão (Novembro/2021 a Janeiro/2022). O cenário crítico de seca no Brasil central (seca severa a extrema), muito provavelmente se deve à influência da La Niña durante a última estação chuvosa. A La Niña atua no sentido de aumentar a chance para déficit de chuva na Região Sul e no Brasil-Central.
As previsões sazonais multi-modelo de chuva do International Research Institute e do CPTEC/INMET/FUNCEME (ambas produzidas em julho/2021) concordam em prever, durante ASO/2021, condições desfavoráveis para chuva nos estados da Região Sudeste e Centro-Oeste. Esta previsão pode estar indicando um início tardio da estação chuvosa no Brasil, que climatologicamente se inicia durante o mês de outubro. A previsão sazonal do modelo do Centro Europeu (ECMWF), emitida também em julho/2021, indica um cenário de neutralidade (sem condições favoráveis ou desfavoráveis) nesta região. Na Região Sul, as previsões divergem um pouco no posicionamento, mas todas indicam um sinal desfavorável às chuvas. Vale recordar que os estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo e Mato Grosso se encontram em período climatológico de estiagem, durante o qual não ocorre chuva substancial. Este período se prolonga até setembro-outubro, quando é esperado que se inicie a próxima estação chuvosa. Diferentemente, os estados da Região Sul apresentam bons índices pluviométricos durante o trimestre ASO. A fase convectiva da Oscilação de Madden-Julian (OMJ) se encontra sobre o continente Africano. Há poucas chances de que venha afetar as chuvas sobre o Brasil nas próximas semanas. Durante o verão (setembro a março), a OMJ pode ter influência positiva em episódios de chuva no Brasil. As previsões subsazonais (até 4 a semana) indicam, para a Região Sul, uma possibilidade de um período chuvoso no final de agosto e início de setembro.
REGISTRO DE IMPACTOS
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