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Boletim de Impactos de Extremos de Origem Hidro-Geo-Climático em Atividades Estratégicas para o Brasil – 18/08/2022 ANO 05 Nº 45
SUMÁRIO
A presente edição do Boletim Mensal de Impactos de Extremos de Origem Hidro-Geo-Climático em Atividades Estratégicas para o Brasil , elaborado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), unidade de pesquisa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), apresenta: (a) a avaliação das ocorrências e alertas para desastres naturais de origem hidro-geo-climático (inundações, enxurradas e movimento de massa) para o mês de julho de 2022, e (b) o diagnóstico e cenários dos extremos pluviométricos (secas e inundações) e seus impactos em diferentes setores econômicos do Brasil para o trimestre de agosto a outubro de 2022 (ASO).
No mês de julho de 2022, foram enviados pela Sala de Situação do Cemaden 83 alertas, com 38 ocorrências registradas em municípios monitorados, sendo 29 de origem hidrológica e 9 de origem geológica.
Na porção norte da região Norte, porção leste da região Nordeste e grande parte da região Sul do Brasil a maioria das estações hidrológicas registraram níveis dos rios acima ou muito acima da média climatológica para o período. Na região Centro-Oeste e na porção oeste das regiões Norte, Nordeste e Sudeste, várias estações apresentam níveis abaixo ou muito abaixo da média e por fim rios dentro da média nas demais áreas do país. A previsão sazonal para o trimestre ASO indica tendência de vazões superiores à média climatológica nos rios localizados na porção norte da região Norte e porção leste da região Nordeste, entre os estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Bahia, vazões abaixo ou muito abaixo da média em toda a região Centro-Oeste, na porção oeste das regiões Nordeste e Sudeste, e parte da porção leste da região Sudeste e vazões dentro da média nas demais áreas do Brasil.
O Índice Integrado de Seca (IIS) para o mês de julho indica a permanência de seca fraca em todas as regiões do país. Condições de seca moderada a severa foram observadas em todos os estados das regiões Sudeste e Centro-Oeste. Os cenários de IIS para o mês de agosto, considerando cenários de chuvas 30% abaixo e 30% acima da média, indicam a permanência de condições de seca fraca em todo o Brasil. Em ambos os cenários de chuva, é prevista a permanência de condições de seca moderada a severa nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Os impactos da seca nos recursos hídricos mostram que no Sistema Cantareira (São Paulo), a vazão média registrada foi de 43% da média histórica, com volume útil, de 36% do armazenamento total (faixa de operação “Alerta”), em 31 de julho. Considerando um cenário hipotético de chuva na média histórica de acordo com o modelo hidrológico, a projeção de vazão afluente média no trimestre ASO seria de 66% e armazenamento em torno de 27%, em 31 de outubro (faixa de operação “restrição”). Ainda no mês de julho, as UHEs Três Marias e Furnas, na região Sudeste, e UHE Serra da Mesa na região Centro-Oeste, registraram vazões médias respectivas de 105%, 65% e 82% da média histórica. Nestas mesmas bacias, o armazenamento registrado, no final de julho, alcançou cerca de 76%, 73% e 64% da capacidade total, respectivamente. As bacias hidrográficas das UHEs Itaipu, Segredo, Barra Grande e Passo Real, no mês de julho, apresentaram redução na vazão, atingindo 58%, 41%, 58% e 103% em relação à média histórica. Segredo, Barra Grande e Passo Real registraram redução no armazenamento, finalizando o mês com 63%, 84% e 83% da capacidade total, respectivamente. Destaque para UHE Itaipu que, em julho, apresentou valor de vazão próximo ao mínimo absoluto mensal, e vem registrando vazões médias inferiores à média histórica desde dezembro de 2018.
SÍNTESE DO ENVIO DE ALERTAS E REGISTRO DE OCORRÊNCIAS
No mês de julho de 2022 foram enviados pela Sala de Situação do Cemaden um total de 83 alertas para municípios monitorados (Tabela 1), com destaque para a Região Nordeste (78 alertas, ou 94% do total) [1] . Em relação às ocorrências registradas para o período, estas também se concentraram na Região Nordeste, com 9 eventos de risco hidrológico, e 27 eventos de risco geológico.
Tabela 1 – Alertas enviados e ocorrências registradas nas diferentes regiões do Brasil no mês de julho de 2022.
[1] Informações adicionais sobre o envio de alertas e o registro de ocorrências são apresentadas no Boletim Trimestral da Sala de Situação, disponível em https://www.gov.br/cemaden/pt-br .
RISCO HIDROLÓGICO: Situação atual e previsão
A situação atual dos níveis dos principais rios do Brasil em relação à média climatológica das estações hidrológicas da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico - ANA, é apresentada na Figura 1a. Observa-se que os rios na porção norte da região Norte, porção leste das regiões Nordeste e Sul do Brasil encontram-se com níveis acima ou muito acima da média climatológica. Na porção sul da região Norte, porção oeste das regiões Nordeste e Sudeste e Centro-Oeste do Brasil os rios permanecem com níveis muito abaixo da climatologia, e dentro da média climatológica nas demais áreas do Brasil.
Figura 1 – Situação dos níveis dos rios no Brasil em 17 de agosto de 2022 em relação a climatologia da estação hidrológica de medição (a) e previsão sazonal de vazão para o trimestre ASO.
A previsão sazonal para o trimestre ASO do modelo Global Flood Awareness System (GloFAS) na Figura 1b, indica a permanência de probabilidade superior a 75% para ocorrência de vazões acima da média nos rios localizados na porção norte da região Norte do Brasil e em parte do Nordeste, principalmente nos Estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Bahia. Na porção sul da região Norte, na região Centro-Oeste e oeste das regiões Nordeste e Sudeste do Brasil, a previsão indica probabilidade acima de 75% para vazões abaixo da média climatológica para o período e vazões dentro da média climatológica nas demais áreas do país.
IMPACTOS DA SECA NA VEGETAÇÃO E NA AGRICULTURA
Índice Integrado de Seca (IIS): observado e cenários para o Brasil
O Índice Integrado de Seca para o mês de julho (Figura 2a) indica a permanência de seca fraca em todas as regiões do país. Condições de seca moderada a severa foram observadas em todos os estados das regiões Sudeste e Centro-Oeste .
Os cenários de IIS para o mês de agosto (Figuras 2a e 2c), considerando cenários de chuvas 30% abaixo e 30% acima da média, indicam a permanência de condições de seca fraca em todo o Brasil. Em ambos os cenários de chuva, é prevista a permanência de condições de seca moderada a severa nas regiões Sudeste e Centro-Oeste.
Figura 2 – Índice Integrado de Seca (IIS-6) para o Brasil, observado no mês de julho (a) e projeções para o mês de agosto de 2022, considerando um cenário de chuvas 30% abaixo (b) e 30% acima da climatologia (c).
A descrição da estimativa do IIS e a avaliação dos impactos de secas a nível nacional e também na agricultura familiar, referente ao mês de junho, podem ser consultados, respectivamente: no Boletim de Monitoramento de Secas e Impactos no Brasil ( https://www.gov.br/cemaden/pt-br/assuntos/monitoramento/monitoramento-de-seca-para-o-brasil/monitoramento-de-secas-e-impactos-no-brasil-2013-julho-2022 ) e Boletim de Monitoramento do Risco de Seca com foco na Agricultura Familiar ( https://www.gov.br/cemaden/pt-br/assuntos/monitoramento/seca-na-agricultura-familiar/risco-de-seca-na-agricultura-familiar-julho-2022 ).
IMPACTOS DA SECA NOS RECURSOS HÍDRICOS
Sistema Cantareira
O Sistema Cantareira – que abastece parte da região metropolitana de São Paulo – atingiu 36% de seu volume útil em 31 de julho de 2022, na faixa de operação “Alerta” (armazenamento entre 30% a 40%). Esse valor representa uma redução de 4% em relação ao mês anterior, e uma situação menos favorável comparado ao volume útil no mesmo período do ano de 2021 (41%). No mês de julho de 2022, os valores de precipitação e de vazão registrados na bacia foram de 8 mm e 11 m 3 /s, o que representa, em termos percentuais, 19% e 43% da média histórica, respectivamente. Ressalta-se que as vazões registradas no Sistema Cantareira se mantêm abaixo da média histórica desde janeiro de 2021 (exceto janeiro/2022, quando foi registrado valor em torno da média).
Figura 3 – Histórico e cenários (agosto a outubro) de armazenamento (%) no Sistema Cantareira. As faixas coloridas indicam os limites operacionais estabelecidos na Resolução conjunta ANA/DAEE N° 925.
Em um cenário hipotético de chuvas 25% abaixo, na média e, 25% acima da média histórica, conforme apresentado na Figura 3, o modelo hidrológico PDM/Cemaden[2] projeta um volume útil armazenado, no final de outubro de 2022, de 23%, 27% e 30%, respectivamente, passando da atual faixa de operação “Alerta” para a faixa de operação “Restrição” (armazenamento entre 20% a 30%). Para esses mesmos cenários de chuva, o modelo hidrológico projeta, para o trimestre ASO, uma vazão afluente de 47%, 66% e 85% da média histórica. Portanto, em todos os cenários de chuva, incluindo precipitações 25% acima da média, o modelo hidrológico indica vazões abaixo da média histórica do período.
[2] O PDM/Cemaden é um modelo probabilístico baseado na umidade do solo e utiliza como entradas a precipitação e a evapotranspiração potencial para estimar a vazão.
É importante ressaltar também que nessas simulações foi considerado o aporte médio de 5,13 m³/s (valor abaixo do praticado no mês de julho) proveniente da interligação entre o Sistema Paraíba do Sul e o reservatório Atibainha (reativada no dia 19 de abril de 2022), de acordo com a Resolução ANA Nº 1931. Além disso, também foi considerada vazão defluente (Q jusante) para as bacias do PCJ (rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí) de 10,6 m³/s e 7,0 m³/s para estação seca e chuvosa, respectivamente, valores médios do período de 2020/2021. Para maiores informações, consulte o Relatório da Situação atual e projeção hidrológica para o Sistema Cantareira – julho de 2022 ( https://www.gov.br/cemaden/pt-br/assuntos/monitoramento/monitoramento-hidrologico/relatorio-cantareira/situacao-atual-e-projecao-hidrologica-para-o-sistema-cantareira-04-08-2022-ano-8-no-71 ).
Reservatórios da região Sudeste
Ainda na região Sudeste, no mês de julho, na bacia afluente à Usina Hidrelétrica (UHE) Três Marias, localizada no alto São Francisco (MG), não foi registrado valor significativo de precipitação (média histórica = 9 mm). Adicionalmente, a vazão foi de 252 m³/s, o que representa em termos percentuais, 105% da média histórica do período (Figura 4a). O armazenamento no reservatório atingiu, em 31 de julho, 76% do volume útil, na faixa de operação “Normal” (armazenamento entre 60% a 100%). Este valor é 4% inferior ao volume armazenado no mês de junho e, adicionalmente representa uma situação melhor à registrada no mesmo período de 2021 (55%).
Na bacia afluente à Usina Hidrelétrica (UHE) Furnas, no curso médio do Rio Grande (MG), no mês de julho, tanto a precipitação quanto a vazão registrada foram inferiores à média do período. Foram registrados 5 mm de precipitação e uma vazão média de 296 m³/s (Figura 4b), equivalentes a 28% e 65% da média histórica, respectivamente. Adicionalmente, o armazenamento no reservatório, em 31 de julho, atingiu 73% da capacidade total, redução de 9% quando comparado ao mês anterior, e uma condição significativamente melhor que no mesmo período do ano de 2021 (25%).
Figura 4 – Histórico e projeções (agosto a outubro de 2022) de vazão natural média mensal (m³/s) ao reservatório da UHE Três Marias (a) e ao reservatório da UHE Furnas (b).
Reservatórios da região Centro-Oeste
Na bacia afluente à Usina Hidrelétrica (UHE) Serra da Mesa, no alto Rio Tocantins (GO) não foi registrado valor significativo de precipitação em julho (média histórica = 10 mm). Neste mesmo período, a vazão, de 219 m³/s , manteve-se abaixo da média histórica do mês (82%), como observado na Figura 5. O reservatório operou com 64% de armazenamento da capacidade total em 31 de julho. Esse valor representa uma redução de 1% em relação ao mês anterior, porém, uma situação significativamente melhor em relação ao mesmo período do ano de 2021 (32%).
O Volume de Energia Armazenada (EAR) no subsistema Sudeste e Centro-Oeste do país reduziu 4% em relação ao mês anterior, finalizando o mês com 61% da capacidade total.
Figura 5 – Histórico e projeções (agosto a outubro de 2022) de vazão natural média mensal (m³/s) ao reservatório da UHE Serra da Mesa.
Reservatórios da região Sul
No mês de julho de 2022, as precipitações ocorreram de modo bastante irregular na região Sul do país. Foi registrado precipitação acima da média na porção sul do estado do Rio Grande do Sul, enquanto as demais áreas mantiveram-se com chuvas variando entre valores na média e abaixo da média. As UHE’s de Itaipu, Segredo, Barra Grande e Passo Real apresentaram vazões médias, de 5.218 m³/s , 417 m³/s , 264 m³/s e 327 m³/s , o que representa valores percentuais de 58%, 41%, 58% e 103% da média histórica, respectivamente. Destaque para UHE Itaipu que vem registrando, consecutivamente, vazões médias inferiores à média histórica desde dezembro de 2018, e em julho de 2022 voltou a apresentar valor próximo ao mínimo absoluto mensal. No que concerne ao armazenamento, nos reservatórios de Segredo, Barra Grande e Passo Real foram registrados volumes de 63%, 85% e 83%, uma redução relativa ao mês anterior, de 33%, 15% e 6%, respectivamente. O Volume de Energia Armazenada (EAR) no subsistema Sul do país exibiu uma redução de 20% em relação ao mês anterior, finalizando julho com 75% da capacidade total.
Reservatórios da região Nordeste
No mês de julho de 2022, os índices pluviométricos mantiveram-se acima da média histórica em parte da região Nordeste do país, incluindo as regiões ao leste dos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. O armazenamento no Reservatório Equivalente do Nordeste - que soma um total de 540 reservatórios (açudes) com volume útil total superior a 10 m³/s - foi de, aproximadamente, 46%. Este valor representa uma redução de 1% em relação ao final do mês anterior e uma situação melhor quando comparada ao mesmo período do ano de 2021 (37%). O Volume de Energia Armazenada (EAR) no subsistema Nordeste do país, registrou queda de 8% em relação ao mês anterior, finalizando o mês com 83% da capacidade total.
IMPACTOS DOS EXTREMOS PLUVIOMÉTRICOS NA AGRICULTURA E HIDROLOGIA: JULHO/2022
[3] A sigla MLT significa Média de Longo Termo ou, em outras palavras, média que representa a situação observada por longo período, geralmente igual ou maior que 30 anos.
IMPACTOS DOS EXTREMOS PLUVIOMÉTRICOS NA AGRICULTURA E HIDROLOGIA: POSSÍVEIS CENÁRIO
Diretor do Cemaden:
Osvaldo Luiz Leal de Moraes
Coordenador Responsável:
José A. Marengo
Revisor Científico desta Edição:
José A. Marengo
Colaboradores:
Adriana Cuartas, Ana Paula Cunha, Elisângela Broedel, Fabiani Bender, Fabiana Bartolemei, Larissa Silva, Lidiane Costa, Marcelo Seluchi, Marcelo Zeri, Márcio Moraes, Rafael Luiz, Vinicius Sperling
NOTAS
IMPORTANTES
:
1.
Os relatórios com informações mais detalhadas sobre a situação atual das principais reservas hídricas e condições de seca em todo o País, bem como as projeções hidrológicas e possíveis cenários de impactos da seca, encontram-se disponíveis e atualizados no Website do Cemaden (
hhttps://www.gov.br/cemaden/pt-br
).
2. As informações/produtos apresentados não podem ser usados para fins comerciais, copiados integral ou parcialmente para a reprodução em meios de divulgação, sem a expressa autorização do Cemaden/MCTI e dos demais órgãos com os quais o Cemaden mantém parcerias. Os usuários deverão sempre mencionar a fonte das informações/dados da instituição como sendo do Cemaden/MCTI. Ressaltamos que a geração e a divulgação das informações/produtos consideram critérios de qualidade e consistência dos dados.
3. Registramos, ainda, que os dados da rede de monitoramento de desastres naturais disponibilizados via Mapa Interativo no website do Cemaden não passaram por nenhum tratamento, portanto poderá haver inconsistências nesses dados.