Notícias
Boletim de Impactos de Extremos de Origem Hidro-Geo-Climático em Atividades Estratégicas para o Brasil – 11/03/2022 ANO 05 Nº 40
SUMÁRIO
A presente edição do Boletim Mensal de Impactos de Extremos de Origem Hidro-Geo-Climático em Atividades Estratégicas para o Brasil , elaborado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), unidade de pesquisa do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), apresenta: (a) a avaliação das ocorrências e alertas para desastres naturais de origem hidro-geo-climático (inundações, enxurradas e movimento de massa) para o mês de fevereiro de 2022, e (b) o diagnóstico e cenários dos extremos pluviométricos (secas e inundações) e seus impactos em diferentes setores econômicos do Brasil para o trimestre de março a maio de 2022 (MAM).
No mês de fevereiro de 2022, foram enviados pela Sala de Situação do Cemaden 538 alertas, com 143 ocorrências registradas em municípios monitorados, sendo 84 de origem hidrológica e 59 de origem geológica.
Na porção norte da Região Norte, grande parte do Nordeste e oeste do Centro Oeste do Brasil, a maioria das estações hidrológicas disponíveis registraram níveis dos rios acima ou muito acima da média climatológica para o período. Nos estados de Minas e Rio de Janeiro várias estações apresentam níveis muito acima da média. No oeste da Região Norte, sul do Centro-Oeste e Região Sul do País os rios permanecem com níveis abaixo da média. A previsão sazonal para o trimestre MAM indica tendência de vazões superiores à média nos rios localizados na porção nordeste da Região Norte, no estado da Bahia e também no norte de Minas Gerais, vazões abaixo ou muito abaixo da média na porção sul das Regiões Centro-Oeste e Sudeste e em toda a Região Sul, e vazões dentro da média nas demais áreas do Brasil.
O Índice Integrado de Seca (IIS) para o mês de fevereiro, quando comparado ao do mês de janeiro, aponta permanência de seca moderada a extrema em Mato Grosso do Sul e Região Sul, além de seca fraca no Mato Grosso, São Paulo, Goiás, Minas Gerais e em vários estados do Nordeste. Os cenários de IIS para o mês de março (com chuvas 30% abaixo ou 30% acima da média) apresentam condições de seca fraca em grande parte do país, com condição de seca modera à extrema, principalmente nos estados do Mato Grosso do Sul e da Região Sul do país.
Os impactos da seca nos recursos hídricos mostram que no Sistema Cantareira e as Usinas Hidrelétricas (UHEs) Três Marias (rio São Francisco), Furnas (rio Grande) e Serra da Mesa (rio Tocantins), atingiram valores de 43%, 92%, 78% e 56%, respectivamente, no final de fevereiro, representando um aumento no volume útil armazenado, devido às chuvas próximo a acima da média histórica do período. Considerando um cenário hipotético de chuvas na média histórica, a projeção de vazão afluente média de acordo com o modelo hidrológico, no trimestre MAM, seria de 87%, 114%, 96% e 137% da média histórica, e armazenamento em torno de 46%, 100%, 92%, e 74%, respectivamente. As bacias hidrográficas das UHEs Itaipu, Segredo, Barra Grande e Passo Real, apresentaram no mês de fevereiro vazão de 84%, 39%, 15% e 21% em relação à média histórica, e armazenamento de 58%, 19% e 31%, respectivamente, para Segredo, Barra Grande e Passo Real. Destaque para a UHE de Barra Grande que apresentou valor de vazão, no mês de fevereiro, abaixo do mínimo absoluto do histórico.
SÍNTESE DO ENVIO DE ALERTAS E REGISTRO DE OCORRÊNCIAS
No mês de fevereiro de 2022 foram enviados pela Sala de Situação do Cemaden um total de 538 alertas para municípios monitorados (Tabela 1), com destaque para a Região Sudeste (444 alertas, ou 82,5% do total)[1] . E m relação às ocorrências registradas para o período, estas também se concentraram na Região Sudeste, com 75 eventos de risco hidrológico, e 54 eventos de risco geológico.
Tabela 1 – Alertas enviados e ocorrências registradas nas diferentes regiões do Brasil no mês de fevereiro de 2022.
[1] Informações adicionais sobre o envio de alertas e o registro de ocorrências são apresentadas no Boletim Trimestral da Sala de Situação, disponível em https://www.gov.br/cemaden/pt-br .
RISCO HIDROLÓGICO: Situação atual e previsão
Figura 1 – Situação dos níveis dos rios no Brasil em 09 de março de 2022 em relação a climatologia da estação hidrológica de medição.
A previsão sazonal para o trimestre MAM do modelo Global Flood Awareness System (GloFAS), indica a permanência de probabilidade superior a 75% para ocorrência de vazões acima da média nos rios localizados no nordeste da Região Norte do Brasil, parte do Nordeste, principalmente no estado da Bahia e norte da região Sudeste. Na porção sul das regiões Centro-Oeste e Sudeste e Sul do Brasil, a previsão indica probabilidade acima de 75% para vazões abaixo da média climatológica para o período e vazões dentro da média climatológica nas demais áreas do país.
IMPACTOS DA SECA NA VEGETAÇÃO E NA AGRICULTURA
Índice Integrado de Seca (IIS): observado e cenários para o Brasil
O Índice Integrado de Seca para o mês de fevereiro (Figura 2a) indica a permanência da seca moderada a extrema no estado do Mato Grosso do Sul e em todos os estados da Região Sul, quando comparado ao IIS de janeiro de 2022. Nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste predominam condições de seca fraca.
Os cenários de IIS para o mês de março (Figuras 2b e 2c), considerando chuvas 30% abaixo e 30% acima da média, indicam a permanência de condições de seca moderada à extrema. No cenário de chuva 30% abaixo da média, é prevista a permanência de condições de seca severa em áreas dos estados do Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Os demais estados do país devem permanecer com seca fraca em grande parte de suas áreas. No cenário de chuva 30% acima da média, observa-se que secas extremas devem se concentrar apenas no extremo noroeste do Rio Grande do Sul mantendo-se as condições de seca moderada à severa em todos os estados da Região Sul.
Figura 2 – Índice Integrado de Seca (IIS-6) para o Brasil, observado no mês de fever eiro (a) e projeções para o mês de março de 2022, considerando um cenário de chuvas 30% abaixo (b) e 30% acima da climatologia (c).
A descrição da estimativa do IIS e a avaliação dos impactos de secas a nível nacional e também na agricultura familiar, referente ao mês de fevereiro, podem ser consultados, respectivamente: no Boletim de Monitoramento de Secas e Impactos no Brasil ( https://www.gov.br/cemaden/pt-br/assuntos/monitoramento/monitoramento-de-seca-para-o-brasil/monitoramento-de-secas-e-impactos-no-brasil-2013-fevereiro-2022-1 ) e Boletim de Monitoramento do Risco de Seca com foco na Agricultura Familiar ( https://www.gov.br/cemaden/pt-br/assuntos/monitoramento/seca-na-agricultura-familiar/risco-de-seca-na-agricultura-familiar-fevereiro-2022 ).
Registro de Impactos na Produção Agrícola
No mês de fevereiro, no estado do Mato Grosso do Sul, 33 municípios foram reconhecidos pelo governo federal em situação de emergência devido à estiagem; o estado também teve uma redução de 24% na produtividade da soja em relação à safra 2020/21. Em Santa Catarina, a agricultura acumulou um prejuízo superior a R$ 3,7 bilhões de perdas verificadas nas lavouras de milho, soja e feijão primeira safra, com redução da produtividade do milho estimada entre 20 a 80%. Por fim, o Rio Grande do Sul, apresentou perdas na agropecuária em mais de 257 mil propriedades rurais para fevereiro. No cultivo de milho houve um acréscimo de 5 mil produtores com perdas na produção, totalizando mais de 98 mil produtores atingidos. O cultivo de soja contabilizou perda superior a 50% em 158 municípios, e estima-se que esse valor possa chegar a 90% de perda nesses municípios. No total, no Rio Grande do Sul, aproximadamente 80 mil produtores foram impactados com a redução na produtividade.
IMPACTOS DA SECA NOS RECURSOS HÍDRICOS
Sistema Cantareira
O Sistema Cantareira – que abastece parte da região metropolitana de São Paulo – atingiu 43% de seu volume útil em 28 de fevereiro de 2022, na faixa de operação “Atenção” (armazenamento entre 40% a 60%). Esse valor representa um aumento de 9% em relação ao mês anterior, porém, uma situação pior quando comparado ao volume útil no mesmo período do ano de 2021 (48%). No mês de fevereiro de 2022, os valores de precipitação e de vazão registrados na bacia foram de 107 mm e 64 m 3 /s, o que representa, em termos percentuais, 54% e 100% da média histórica, respectivamente.
Figura 3 – Histórico e cenários (março a maio de 2022) de armazenamento (%) no Sistema Cantareira. As faixas coloridas indicam os limites operacionais estabelecidos na Resolução conjunta ANA/DAEE N° 925.
Em um cenário hipotético de chuvas na média, conforme apresentado na Figura 3, o modelo hidrológico PDM/Cemaden[2] projeta uma vazão afluente de 87% da média histórica para o trimestre MAM (45 m 3 /s). Ainda considerando este mesmo cenário de chuvas, o volume útil armazenado, no final de maio de 2022, poderia atingir 46%, permanecendo na atual faixa de operação de “Atenção” (armazenamento entre 40% a 60%). No entanto, considerando chuvas 25% abaixo da média histórica, o volume útil do reservatório alcançaria, no final do horizonte de projeções, valor de 38%, na faixa de operação “Alerta” (armazenamento entre 30% a 40%).
É importante ressaltar que nessas simulações, foi considerado o aporte de interligação com a bacia do Rio Paraíba do Sul (de acordo com a Resolução ANA Nº 1931), de 5,13 m³/s, bem como a vazão defluente (Q jusante) para as bacias do PCJ (rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí), igual a 8,7 m³/s e 8,0 m³/s para estação seca e chuvosa, respectivamente m³/s. Para maiores informações, consulte o Relatório da Situação atual e projeção hidrológica para o Sistema Cantareira – fevereiro de 2022 ( https://www.gov.br/cemaden/pt-br/assuntos/monitoramento/monitoramento-hidrologico/relatorio-cantareira/situacao-atual-e-projecao-hidrologica-para-o-sistema-cantareira-05-02-2022-ano-8-no-66-2 ).
[2] O PDM/Cemaden é um modelo probabilístico baseado na umidade do solo e utiliza como entradas a precipitação e a evapotranspiração potencial para estimar a vazão.
Reservatório da UHE Três Marias, Bacia do Rio São Francisco
Na bacia afluente à Usina Hidrelétrica (UHE) Três Marias, no alto São Francisco, no mês de fevereiro de 2022, choveu 269 mm, e a vazão foi de 2630 m 3 /s, 53% e 109% acima da média histórica do período, respectivamente. O armazenamento no reservatório atingiu, em 28 de fevereiro, 92% do volume útil, faixa de operação “Normal” (armazenamento entre 60% a 100%). Esse valor é cerca de 4% superior ao mês anterior e, representa uma situação significativamente melhor ao registrado no mesmo período de 2021 (67%).
Figura 4 – Histórico e projeções (março a maio de 2022 ) de vazão natural média mensal (m³/s) ao reservatório da UHE Três Marias.
De acordo com as projeções hidrológicas para o trimestre MAM, apresentadas na Figura 4, considerando cenários hipotéticos de chuvas na média e 25% acima da média, a vazão natural poderá ficar em torno de 14% e 32% acima da média. Para esses mesmos cenários, o reservatório atingiria volume útil de 100%, no final de maio. Considerando um cenário de chuvas 25% abaixo da média, a vazão natural média alcançaria 97% da média histórica do período, e volume útil do reservatório, no final de maio, 98%, na faixa de operação “Normal”.
Com situação de armazenamento classificada como normal, o Boletim da Situação mensal para UHE Três Marias segue temporariamente suspensa – conforme nota técnica ( https://www.gov.br/cemaden/pt-br/assuntos/monitoramento/monitoramento-hidrologico/relatorio-tres-marias/situacao-atual-e-projecao-hidrologica-para-reservatorio-tres-marias-14-03-2022 ).
Reservatório da UHE Furnas, Bacia do Rio Grande
Na bacia afluente à Usina Hidrelétrica (UHE) Furnas, no Rio Grande, no mês de fevereiro de 2022, choveu um acumulado de 217 mm, e a vazão registrada foi de 2135 m 3 /s, o que representa, respectivamente, 10% e 42% acima da média do mês. O armazenamento registrado no reservatório, em 28 de fevereiro, foi de 78% do volume útil, uma condição significativamente melhor se comparado ao mês anterior (56%), bem como ao mesmo período do ano de 2021 (33%).
Figura 5 – Histórico e projeções (março a maio de 2022 ) de vazão natural média mensal (m³/s) ao reservatório da UHE Furnas.
As projeções hidrológicas para o trimestre MAM, apresentadas na Figura 5, nos cenários hipotéticos de chuvas 25% abaixo, na média e 25% acima da média histórica, indicam que a vazão natural, nesta bacia, poderá atingir valores de 83%, 96% e 110% da média histórica, respectivamente. Ainda para esses mesmos cenários, o modelo hidrológico indica que o reservatório estaria, no final do horizonte de projeções, com aproximadamente 86%, 92% e 97% do volume útil armazenado, respectivamente.
Reservatório da UHE Serra da Mesa, Bacia do Rio Tocantins
Na bacia afluente à Usina Hidrelétrica (UHE) Serra da Mesa, no alto do Rio Tocantins, em fevereiro de 2022, choveu 226 mm, e a vazão média natural registrada foi 1936 m 3 /s, o que representa em termos percentuais, cerca de 5% e 45% acima da média histórica do mês, respectivamente. O reservatório operou com 56% de armazenamento em 28 de fevereiro de 2022, ou seja, um aumento de 11% em relação ao mês anterior e de 29% em relação ao mesmo período do ano de 2021.
Figura 6 – Histórico e projeções ( março a maio de 2022 ) de vazão natural média mensal (m³/s) ao reservatório da UHE Serra da Mesa.
As projeções hidrológicas para o trimestre MAM, apresentadas na Figura 6, considerando cenários hipotéticos de chuvas 25% abaixo, na média e 25% acima da média histórica, indicam vazões de 16%, 37% e 60% acima da média histórica para este período e armazenamento de 71%, 74% e 77% no final de maio de 2022, respectivamente.
Região Sul do Brasil
No mês de fevereiro de 2022, as chuvas registradas, ficaram abaixo da média histórica na região Sul do Brasil. As UHE’s de Itaipu, Segredo, Barra Grande e Passo Real apresentaram vazões médias, de 14.956 m 3 /s, 339 m 3 /s, 41 m 3 /s e 30 m 3 /s, o que representa valores percentuais abaixo da média histórica, em todas as bacias (84%, 39%, 15% e 21%, respectivamente). Destaca-se a UHE de Barra Grande, cujo valor de vazão ficou abaixo do mínimo absoluto do histórico (1981-2021) para este período. Para este mesmo período, as UHE’s de Segredo e Passo Real apresentaram vazões naturais muito próximos aos mínimos absolutos mensais. No que concerne ao armazenamento, nos reservatórios de Segredo, Barra Grande e Passo Real foram registrados volumes armazenados de 58%, 19% e 31%. Esses valores representam, em termos percentuais um aumento de 2% (Segredo) bem como reduções de 13% (Barra Grande) e 5% (Passo Real), em relação ao mês anterior.
IMPACTOS DOS EXTREMOS PLUVIOMÉTRICOS NA AGRICULTURA E HIDROLOGIA: FEVEREIRO/2022
[3] A sigla MLT significa Média de Longo Termo ou, em outras palavras, média que representa a situação observada por longo período, geralmente igual ou maior que 30 anos.
IMPACTOS DOS EXTREMOS PLUVIOMÉTRICOS NA AGRICULTURA E HIDROLOGIA: POSSÍVEIS CENÁRIO
Diretor do Cemaden:
Osvaldo Luiz Leal de Moraes
Coordenador Responsável:
José A. Marengo
Revisor Científico desta Edição:
José A. Marengo
Colaboradores:
Adriana Cuartas, Ana Paula Cunha, Elisângela Broedel, Fabiani Bender, Fabiana Bartolemei, Larissa Silva, Lidiane Costa, Marcelo Seluchi, Marcelo Zeri, Márcio Moraes, Rafael Luiz, Vinicius Sperling
NOTAS
IMPORTANTES
:
1.
Os relatórios com informações mais detalhadas sobre a situação atual das principais reservas hídricas e condições de seca em todo o País, bem como as projeções hidrológicas e possíveis cenários de impactos da seca, encontram-se disponíveis e atualizados no Website do Cemaden (
https://www.gov.br/cemaden/pt-br
).
2. As informações/produtos apresentados não podem ser usados para fins comerciais, copiados integral ou parcialmente para a reprodução em meios de divulgação, sem a expressa autorização do Cemaden/MCTI e dos demais órgãos com os quais o Cemaden mantém parcerias. Os usuários deverão sempre mencionar a fonte das informações/dados da instituição como sendo do Cemaden/MCTI. Ressaltamos que a geração e a divulgação das informações/produtos consideram critérios de qualidade e consistência dos dados.
3. Registramos, ainda, que os dados da rede de monitoramento de desastres naturais disponibilizados via Mapa Interativo no website do Cemaden não passaram por nenhum tratamento, portanto poderá haver inconsistências nesses dados.
CLIQUE AQUI E FAÇA O DOWNLOAD DO BOLETIM EM PDF