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Quilombo Vivo: CDTN atua em projeto com comunidades quilombolas do Serro (MG)
Quilombolas realizando a medição do volume de chuva a partir do uso de um dos pluviômetros instalados na Comunidade de Queimadas | Foto: Tiago Geisler/CEDEFES
O projeto Quilombo Vivo busca apoiar e fortalecer as comunidades quilombolas da região do município do Serro (MG). Desde 2019 o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN) tem atuado junto à comunidade quilombola de Queimadas, no município mineiro, em prol da recuperação da disponibilidade hídrica da região através do Eixo 2 do projeto. A iniciativa, implementada pelo Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva (CEDEFES), também conta com a parceria da Federação das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais N'Golo e com a PUC Minas.
Queimadas é caracterizada como uma região de montanhas e vales, nos quais têm sido relatados cenários de escassez hídrica. Em um primeiro momento, o projeto se dedicou a um mapeamento dos mananciais hídricos do local com a ajuda dos(as) quilombolas. Essa metodologia participativa, como menciona a quilombola Christiene Karine Ferreira, foi muito importante para a comunidade: “além de estreitar nossos laços, pudemos difundir os estudos que trabalham questões hidro e socioambientais aqui nas comunidades”, afirma.
Foram instalados equipamentos para monitoramento meteorológico, tais como pluviômetros para medir a quantidade de chuva (quatro, no total), e uma estação meteorológica portátil para avaliar a direção/velocidade do vento e precipitação na região. Para os pesquisadores do CDTN Peter Fleming e Tiago Fernandes, que também são desenvolvedores e gestores dos equipamentos, essas medições e parâmetros são importantes para que as pessoas da comunidade possam registrar dados e interpretá-los a partir do desenvolvimento de suas próprias atuações na região.
Também foram realizados diagnósticos sobre a potabilidade da água já utilizada pela comunidade e captada em nascentes e rios, além de medições da vazão de alguns rios que percorrem a região. Para Claudiana de Paula, atual Primeira Secretária da Associação Quilombola de Queimadas, Conselheira Fiscal da Federação das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais N'Golo e ainda Integrante do Comitê Gestor do Projeto Quilombo Vivo, as ações do projeto já renderam resultados: “Nós já vimos uma diferença na quantidade de água de chuva de uma região para outra”, comenta.
Com o propósito de mobilizar a comunidade e esclarecer dúvidas sobre as ferramentas de medição, as equipes do Serviço de Análise e Meio Ambiente (SEAMA) do CDTN e da empresa homônima de Frederico Augusto Alves Gonçalves, geógrafo e coordenador executivo do Eixo 2, realizaram ainda oficinas e reuniões, a fim de priorizarem a autonomia da comunidade quilombola sobre o seu território. Durante a pandemia de Covid-19, o projeto passou por uma reestruturação a partir de estratégias que respeitaram as medidas sanitárias necessárias.
Além das ferramentas de medição, foi implantada uma amostra de um sistema agroflorestal com o propósito de priorizar as dinâmicas naturais dos terrenos da comunidade, além de fortalecer as atividades ligadas à produção de alimento pelos(as) quilombolas. O projeto também foi responsável por difundir a técnica de tanques de evapotranspiração, uma estrutura importante para o tratamento do esgoto doméstico rural, contribuindo assim com a manutenção da boa qualidade da água na região.
Para Luiz Ladeira, diretor do CDTN, atuar em um projeto social é um ação que também corresponde a um dos principais propósitos do Centro. “Uma meta que foi estabelecida no nosso Plano Diretor é a de que todos os nossos projetos, de alguma forma, possam contribuir para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU, e o projeto Quilombo Vivo também visa isto: oferecer água limpa e saneamento para as pessoas dessas comunidades”, ressalta.
De acordo com a quilombola Christiene Ferreira, o município do Serro-MG conta com seis comunidades quilombolas certificadas, e, para ela, “poder atender as demandas dessas comunidades é muito importante”. Por isso, pretende-se dar continuidade ao Quilombo Vivo nessa região. Segundo Paulo Rodrigues, pesquisador do CDTN, coordenador geral e conselheiro científico do projeto, “a ideia agora é a de alcançar uma maior visibilidade, através das cartilhas e ferramentas que produzimos, e fazer com que os produtos e as ações já realizadas circulem para outras comunidades quilombolas do Serro”.