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OPINIÃO: Por que Consciência Negra?
Para, no mínimo, reconhecer um povo que, arrancado à força de sua Terra Natal, separado de suas famílias e bens, foi levado para uma Terra Distante, do outro lado do imenso oceano. Uma Terra Distante que precisava ser construída, cultivada, minerada e trabalhada como um todo. Chegando a essa Terra Distante, esse povo que a construiu em sua quase totalidade não tinha direitos, não era respeitado, sofria castigos cruéis, era uma mercadoria que podia ser vendida ou trocada e sua habitação era das mais degradantes. O tráfico era lucrativo e muitas empresas de “comércio de escravos”, que possuíam vários navios negreiros, foram instituídas para realizar este grande negócio. Já na travessia do oceano, muitos perdiam a vida e eram atirados ao mar. Eram tantos que cardumes de tubarões se acostumaram a seguir esses navios até o seu destino final. No destino final, eram preparados para o leilão, no qual cada peça alcançava melhor valor pela aparência, pela idade e pelo sexo. Sabe-se que, após o início da escravização e até o início do século XIX, para cada europeu que chegava ao continente americano, chegavam quatro africanos escravizados e, pela primeira vez, como afirma Laurentino Gomes, a escravidão se tornou sinônimo da cor da pele negra¹.
Embora os escravizados sofressem um tratamento duro e cruel, a escravidão era legalizada e aceita pela sociedade da época. Porém, houve partidários de movimentos abolicionistas, o que levou à promulgação da Lei 3.353 de 13 maio de 1888, a conhecida “Lei Áurea”. Se, por um lado, a Lei Áurea encerrou a escravidão, por outro lado, ela não deu garantias a um povo que não tinha moradia, não tinha posses, não tinha trabalho e não tinha para onde ir. Isso criou um problema social que até hoje não se resolveu. Apesar de muitos descendentes de escravizados serem geneticamente misturados com outros povos, eles continuam sendo diferenciados pelos fenótipos de nariz, lábios, cabelo, cor da pele, árvore genealógica, local onde moram, etc. Então, a consciência negra precisa ser valorizada, entendida e debatida para que possamos mudar a situação desse povo que, em silêncio e heroicamente, sofreu para edificar os alicerces do nosso país. Até hoje, no seio de nossa sociedade esse povo não é devidamente representado, seja nas casas legislativas, seja nas profissões, seja nas universidades, seja na área nuclear, seja nos meios de comunicação, seja nas artes ou em muitos outros setores da nossa sociedade. Consciência negra não é apenas termos uma data no calendário e sim realizar este debate para apresentar soluções para inserir o negro em nossa sociedade.
¹GOMES, Laurentino. Escravidão. Volume I. Do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2019.
Luiz Leite da Silva e Jefferson José Vilela,
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