Notícias
Conferência Temática debate necessidade de alcançar a autonomia nacional no ciclo do combustível nuclear
Alcançar a autonomia nacional é o requisito para o domínio do ciclo do combustível nuclear e dos minerais estratégicos no Brasil. Esse foi o principal destaque da mesa “Ciclo do combustível, minerais estratégicos”, da Conferência Temática Ciência e Tecnologia Nuclear na manhã de quinta-feira, dia 21. O tema foi debatido por representantes da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), da Indústrias Nucleares Brasileiras (INB), da Marinha do Brasil, do Serviço Geológico do Brasil (SGB) e do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República.
A mediação da mesa foi feita pelo coordenador do GraNioTer - hub tecnológico de materiais avançados e minerais estratégicos, Maximiliano Martins, do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN/CNEN). Ele exemplificou que foi descoberto potencial de extração de elementos terras-raras na região de Poços de Caldas. Com tais reservas, o país poderia deixar de exportá-los apenas como matéria-prima para protagonizar o cenário de minerais estratégicos ao extrair, beneficiar e exportar esses itens, agora com alto valor agregado.
O presidente da INB, Adauto Seixas, empresa pública que atua na cadeia de urânio para suprir Angra 1 e Angra 2, destacou que hoje há forte dependência da Eletronuclear, ainda que existam minas que possam ser exploradas para expandir a capacidade de produção de urânio no país. “A Unidade de Caetité (BA) tem capacidade de produzir 400 toneladas por ano, mas hoje está abaixo da capacidade que possui. Estamos trabalhando para mudar isso”, afirmou. "A finalização do projeto de Angra 3 é importante porque vai demandar mais e gerar receita para o setor. As empresas e instituições da área nuclear estão interligadas e seu fortalecimento traz benefícios múltiplos para o país”, finalizou. Ainda pela INB, Reinaldo Gonzaga e o Contra-Almirante Marcos Fricks apresentaram, respectivamente, o panorama geral da atuação da instituição e o projeto de mineração em Santa Quitéria (CE).
Pela Marinha do Brasil, o Capitão de Mar e Guerra Luís Farina apresentou o Programa Nuclear da Marinha, uma iniciativa de Estado que prevê o desenvolvimento inédito no país, sem contar com assistência técnica do exterior. "Desde a década de 1970, o objetivo estratégico da Marinha é dominar o ciclo do combustível nuclear, cujo objetivo claro é a defesa nacional e em benefício da sociedade", avaliou.
Para impulsionar as reflexões e pontos críticos para a discussão, a mesa contou com o papel dos debatedores. John Forman, ex-presidente da INB e ex-diretor da Nuclebrás, diferenciou o teor industrial da INB e o teor tecnológico da Marinha dentro do Programa Nuclear Brasileiro, mas possuem um desafio em comum. “Temos que acreditar na capacidade do Brasil de desenvolver, dominar e utilizar a tecnologia. Não temos essa capacidade hoje, mas pretendemos atingi-la até 2030. As circunstâncias mundiais estão mudando. É preciso agir para tornar o Brasil um player mundial no mercado, não só de matéria-prima, mas por extrair e enriquecer o urânio”, ponderou.
Em seguida, foi a vez do GSI da Presidência da República repercutir o tema. O Contra-Almirante André Conde garantiu que o tema vem ganhando espaço no Comitê de Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro, fórum que reúne 11 ministros de Estado. Ele destacou, ainda, o papel do GSI como campo neutro para assessorar e promover o diálogo interministerial.
Pelo SGB, o geólogo Hugo Polo explicou que o Brasil possui a 9ª maior reserva mundial de urânio. “As novas tecnologias e dados podem ampliar o conhecimento sobre as reservas de urânio no Brasil. Os mapas servem como uma etapa pré-competitiva para a indústria, para apontar áreas produtivas. Isso vai impactar, certamente, o ciclo do combustível e de minerais estratégicos para o aumento desses insumos”. Polo destacou, ainda, a parceria com a Agência Internacional de Energia Atômica, além da necessidade do país aumentar o número de pesquisadores que se envolvam com o tema.
Preparação para encontro nacional
A mesa “Ciclo do combustível, minerais estratégicos”, da Conferência Temática Ciência e Tecnologia Nuclear, integra a programação preliminar da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (5ª CNCTI).
O evento, organizado pela CNEN, reuniu os atores do setor nuclear brasileiro nos dias 20 e 21 de março, no Rio de Janeiro.
A principal entrega do encontro preparatório é um relatório com os pontos de destaque levantados por representantes da área nuclear do Brasil. O evento nacional será realizado em Brasília, nos dias 4, 5 e 6 de junho de 2024.
Por Deize Paiva
Assessoria de Comunicação do CDTN