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“Não precisamos provar que damos conta por ser mulher”
Amenônia Ferreira em sua fala na INAC 2024 (Foto: Deivid Oliveira)
“O único erro que cometi no trabalho de campo foi achar que precisava provar para os colegas que eu era mulher e dava conta”. Foi com esse relato que a Diretora do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), Amenônia Ferreira, finalizou sua fala no fórum “Women in the Nuclear Area: Diversidade na Liderança”. A atividade fez parte da programação da International Nuclear Atlantic Conference (INAC 2024) na quarta-feira, dia 8 de maio. A mesa contou com a experiência de mulheres líderes no setor: Ketrim Souza (INB), Renata Barbeiro (Nuclep) e Ana Beatriz Julião (Eletronuclear).
Amenônia iniciou sua fala destacando três cientistas da obra “Energia nuclear: uma tecnologia feminina”, de Jonathan Tennebaum. São elas: Marie Curie, Ida Noddack e Lise Meitner. Personalidades conhecidas na história da ciência, elas fizeram a descoberta do rádio e polônio, do masúrio (tecnécio) e rênio, e do protactínio, respectivamente. Hoje, sabe-se que mais de nove elementos da Tabela Periódica foram descobertos por mulheres.
“Uma característica que une essas três mulheres cientistas é o amor pelo desconhecido. É preciso encontrar uma solução ou resposta. Você não pode ficar contente com aquilo que te apresentam. E elas atuaram em um ambiente que era totalmente hostil para as mulheres”, comentou Amenônia.
Ao trazer para o contexto da sua trajetória, Amenônia destacou as semelhanças das jornadas de Curie, Noddack e Meitner: o incentivo de familiares, a influência dos mestres e as dificuldades que essas mulheres enfrentaram para se destacar.
Trajetória
“Em 1968, escolhi o Ensino Médio. Não foi uma época fácil. Na minha família, qualquer mulher que chegasse àquela idade seria professora e teria um bom marido. Esse era o máximo que se esperava para uma mulher. Na época, quem me defendeu foi o meu pai, que optou por me mudar de escola para seguir o estudo nas Ciências Exatas e, em seguida, optar pela Engenheira Química.
Em 1977, passei no concurso da Nuclebras – atual, CDTN. De 30 vagas, só eu e mais uma mulher passamos. Quando eu entrei, descobri que não era um ‘lugar para mulher’. Todos os engenheiros faziam trabalho de campo, iam para alto mar, em navios, e uma mulher só ia atrapalhar porque não ia carregar peso. Os marinheiros tinham o mito de que mulher na embarcação trazia azar. Eu era a única candidata para a única vaga que tinha e ainda corri o risco de não atuar neste trabalho. Mas deu certo. Trabalhei no mar, no campo, no barco. O meu erro foi provar que era mulher e dava conta de fazer o que eles faziam. Hoje faria diferente.”
Amenônia começou sua carreira de gestora em 2015. Desde março, ela é a primeira Diretora do CDTN, em 71 anos de instituição.
Dividindo experiências
Ketrim Souza (INB/WiN Nuclear) apresentou dados sobre a legislação brasileira sobre os direitos das mulheres e a autonomia. Até 1968, para elas começarem no mercado de trabalho era necessário o consentimento do marido. “A presença das mulheres em posição de liderança no setor nuclear é crucial para promover a equidade, a diversidade, eficácia e nas políticas e administração”, apresentou.
Já Renata Barbeiro (Nuclep) trouxe alguns dados da instituição. Apesar do aumento de mulheres na liderança, elas ainda são minoria nas chefias das atividades fabris, setor crítico para a Nuclep. Renata também compartilhou suas experiências como mulher, mãe e gestora e como o caminho já foi pavimentado, mas há muito o que melhorar.
Ana Beatriz Julião compartilhou suas experiências individuais e profissionais com a área de Responsabilidade Socioambiental, além da atuação em fóruns de gênero, raça e diversidade.
A mesa foi mediada por Daniele Baêta, engenheira química que chefia o Serviço de Instalações do Ciclo do Combustível da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
O CDTN é uma unidade da CNEN, autarquia federal do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação.
Deize Paiva, jornalista enviada ao Rio de Janeiro
Assessoria de Comunicação do CDTN