Notícias
Série ‘Desafios da Física’ é usada em pesquisa com alunos do ensino médio
Desde seu lançamento, em 2002, a série 'Desafios da Física', impressa pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro (RJ), cativou a atenção de professores e pesquisadores. por abordar temas da física moderna de maneira simples, descontraída e bem ilustrada. A série acaba de ser usada em uma pesquisa que investigou como textos de divulgação científica são entendidos por alunos do ensino médio.
O trabalho é de autoria de Wagner Moreira da Silva, físico integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Ensino e Aprendizagem de Ciências da Universidade Federal do ABC (UFABC) e professor do Centro Educacional SESI, e de Marcelo Zanotello, pesquisador na mesma universidade. Os resultados foram publicados recentemente na Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências .
O estudo envolveu alunos do terceiro ano de um colégio particular da cidade de São Paulo, que leram e debateram tópicos abordados em textos de divulgação de física. Silva conversou, por email, com o Núcleo de Comunicação Social do CBPF. Segundo ele, um dos principais ganhos do uso de textos de divulgação para a aprendizagem é o contato com temas cujas pesquisas ainda estão em andamento, o que leva a um melhor entendimento do método científico e das polêmicas e incertezas envolvidas na construção do conhecimento. Confira a entrevista completa.
Quando você solicitou o material do Desafios da Física, você já tinha a intenção de trabalhar com ele em sala de aula? Como surgiu a ideia?
Eu tinha a intenção de estudar com meus alunos as principais questões ainda sem solução desenvolvidas pela física, temas que os cientistas ainda estão investigando, não apenas os conteúdos já bem sedimentados na ciência. Quando comecei a dar aulas de física no ensino médio percebi que os alunos tinham muita curiosidade por assuntos que não constavam nos livros. Buracos negros, matéria escura, viagem no tempo e mecânica quântica eram temas que frequentemente geravam discussões na sala de aula, mas não existiam informações mais detalhadas nos livros-textos formatados para o ensino de ciência básica. Sempre gostei de textos como os da revista Ciência Hoje e queria um material com uma linguagem semelhante, para que meus alunos lessem e pudessem ter melhor embasamento teórico, ainda que em nível básico, sobre esses assuntos.
Buracos negros, matéria escura, mecânica quântica eram temas que geravam discussões na sala de aula, mas não estavam detalhadas nos livros-textos
Qual resultado mais o surpreendeu ao longo do trabalho?
O envolvimento e esforço dos alunos para a compreensão das informações contidas nos textos. Ao ministrar aulas de física de maneira tradicional, os procedimentos dificilmente fogem à regra: apresentar a aplicação do conteúdo no cotidiano; demonstrar como o conteúdo se desenvolve matematicamente e estudar exaustivamente as resoluções de problemas. Já com os textos que os alunos escolheram ocorreu um movimento diferente, as dúvidas que apareciam ao longo do processo eram discutidas em grupo e, por se tratar de assuntos que não têm consenso entre os próprios cientistas, os estudantes confrontavam informações de diferentes fontes para a realização das atividades. Ou seja, não havia apenas uma resposta para os problemas levantados nos textos. Achei esse processo bastante enriquecedor pedagogicamente.
Qual foi a reação dos alunos ao material?
Foi realizada uma seleção prévia de textos com temas sobre a física contemporânea. O aluno pode escolher os temas de maior interesse e, após ter feito o primeiro contato com esse texto, podia mudar sua escolha livremente. O fato de poucos alunos mudarem sua escolha pode indicar que a primeira reação foi positiva. Apenas duas exigências foram feitas: que o aluno lesse integralmente o texto e que discutisse com seus colegas a problemática levantada por ele. De acordo com o retorno apresentado no final da atividade, muitos alunos registraram que esse método de leitura foi muito bom, mas que alguns termos técnicos dificultaram bastante a compreensão dos temas. Alguns estudantes sugeriram que algumas palavras constassem em um glossário no final do texto.
Qual sua opinião sobre o uso de material de divulgação científica?
Acredito que o uso dos textos de divulgação científica em sala de aula propicia o contato das pessoas com certas características do mundo científico que podem ser mediadas na escola com vistas a uma educação científica e cidadã. Mas seria equivocado propor essas leituras como se faz com os livros ou manuais didáticos usuais, uma vez que elas mobilizam diferentes interdiscursos e, por isso, propiciam variadas aprendizagens, cada qual com seu valor. Oferecer escolhas aos estudantes no que diz respeito aos textos que serão lidos aparentemente favoreceu a constituição de posicionamentos críticos e autônomos sobre os objetos de estudo. Proceder desse modo se configurou como um passo para a formação de um ambiente de ensino e aprendizagem capaz de conferir maior protagonismo aos estudantes, algo que nos parece indispensável se desejamos formar sujeitos socialmente participativos e inseridos em seu tempo.
Série Desafios da Física tem 16 fôlderes publicados
(Crédito: Divulgação CBPF)
Sobre a série Desafios da Física
A série Desafios da Física foi lançada em 2002 durante a Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), com auxílio financeiro da Fundação Vitae e coordenação de João dos Anjos, então diretor do CBPF. Composta inicialmente de três fôlderes, a tiragem inicial de três mil exemplares esgotou-se rapidamente.
O sucesso levou a iniciativa a ser ampliada: atualmente, há 16 fôlderes, abordando temas como raios cósmicos, partículas elementares, supercordas, sistemas complexos e informação quântica. Ela foi parte do material que deu ao CBPF o ‘Prêmio José Reis de Divulgação Científica' em 2006.
Mais informações:
Artigo 'Discursos sobre Física Contemporânea no Ensino Médio a partir da Leitura de Textos de Divulgação Científica': https://seer.ufmg.br/index.php/rbpec/article/view/2729