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Seção 'Alma Mater' entrevista Alexandre Gerk, ex-aluno de MP do CBPF e atual engenheiro na ESS, Suécia
Mestrado do CBPF decidiu vaga na Suécia
Ano passado, o engenheiro de automação e mestre em física Alexandre Gonçalves Gerk se deparou com anúncio de emprego numa rede social. A vaga, na Suécia, era para um dos maiores projetos científicos da atualidade, a European Spallation Source, que, quando concluída, deve se tornar a mais ‘potente’ fonte de nêutrons do planeta.
Poucos meses antes, Gerk havia terminado o Mestrado Profissional em Física com Ênfase em Instrumentação Científica do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro (RJ), onde trabalhou no Laboratório de Superfícies e Nanoestruturas, sob a orientação do tecnologista sênior do CBPF Alexandre Mello de Paula Silva.
Alexandre Gerk, no European Spallation Source
(Crédito: Roger Eriksson/ESS)
À época, um doutorado era também uma opção. Mas o jovem mestre em física decidiu se inscrever para a vaga na ESS, cujos primeiros resultados científicos estão previstos para 2025. Segundo ele, o processo seletivo foi muito interessante, mas foi o mestrado no CBPF que o fez conseguir o emprego. Para ele, sem essa pós, ele nem teria passado na parte relativa à seleção de currículos.
A seguir, confira a íntegra da entrevista que Gerk deu para a seção ‘Alma Mater’, do portal do CBPF.
Como se deu sua opção pelo Mestrado Profissional em Física do CBPF?
Eu já era pós-graduado em automação industrial, mas queria fazer mestrado. Conversei com meus dois orientadores da graduação em engenharia eletrônica no Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ), no Rio de Janeiro (RJ), antes de decidir qual programa de mestrado cursar.
Um deles, o físico Paulo Borges, me recomendou o Mestrado Profissional em Física com Ênfase em Instrumentação Científica do CBPF e me disse para que eu procurasse lá o tecnologista sênior Alexandre Mello, que se tornaria meu orientador.
Comparei o curso do CBPF com o mestrado acadêmico em engenharia de outras instituições, e optei pelo do CBPF. Para isso, contou tanto a infraestrutura da instituição quanto a proposta do programa.
Os programas de mestrado em engenharia pareciam me oferecer, ainda que de modo mais aprofundado, mais do mesmo. No programa do CBPF, eu teria contato com assuntos que eu desconhecia até então, os quais, portanto, expandiriam não só meu conhecimento, mas também minha área de atuação profissional.
O que você fez no Mestrado Profissional em Física no CBPF? E qual foi a importância dessa formação para seu atual emprego aí na Suécia?
No CBPF, trabalhei no desenvolvimento da instrumentação e automação de um sputtering confocal, sistema que deposita filmes finos multicamadas instalado no Laboratório de Superfícies e Nanoestruturas. Foi um desafio que me proporcionou uma experiência em instrumentação científica que eu jamais teria na indústria.
Na European Spallation Source, ou simplesmente ESS, eu me candidatei ao posto de engenheiro de automação – controle de movimento. A experiência profissional e acadêmica em automação industrial eu já tinha, mas, aquela em instrumentação científica, eu adquiri no CBPF.
Então, posso dizer com a maior certeza, que o Mestrado Profissional em Física do CBPF foi essencial para minha aprovação para a vaga. Sem essa formação, acho que não teria passado nem sequer pela seleção de currículo.
Como você chegou à ESS? Como estão sendo seus primeiros meses aí e no que você está trabalhando?
Eu vinha buscando oportunidades para dar um próximo passo em minha carreira, depois de concluir o mestrado, em meados do ano passado. Comecei procurando por doutorado e, depois, por vagas de emprego em centros de pesquisa. Acabei vendo um anúncio – se não me engano no Linkedin – para a vaga na ESS e me candidatei.
O processo seletivo foi interessantíssimo, muito bem feito – e até emocionante. Em uma das etapas, tive que apresentar solução para um caso real da ESS. A outra foi uma ‘social’ com meus atuais colegas de trabalho. Recebi a aprovação no fim de novembro e, então, comecei uma correria para fazer uma mudança internacional.
Meu primeiro dia de trabalho foi em 1 de fevereiro deste ano. Ainda estou me familiarizando com o país, a língua e o novo emprego. Tenho estudado bastante, para encurtar o tempo de ‘ onboarding’ .
Aqui, na ESS, sou o engenheiro de automação responsável pelo desenvolvimento (do rascunho até a entrega) dos sistemas de controle de movimento de um dos 15 instrumentos da fonte de nêutrons. Também tenho atribuições voltadas para gestão de projeto e equipe, bem como de padronização dos sistemas de automação e controle de movimento de todos os 15 instrumentos.
Fale um pouco sobre a ESS. Que tipo de pesquisa se fará aí?
A ESS é um centro de pesquisa multidisciplinar baseado na fonte de nêutrons mais brilhante do mundo, que está atualmente em construção em Lund (sul da Suécia). Seu centro de software e gestão de dados (DMSC) fica em Copenhagen (Dinamarca).
O brilho sem precedentes dos nêutrons da ESS permitirá fazer experimentos mais complexos – com amostras menores e medições mais rápidas – do que os feitos por fontes similares em atividade hoje.
Isso, inevitavelmente, levará a descobertas e novas aplicações em ampla gama de disciplinas científicas, da física da matéria condensada, química do estado sólido e das ciências dos materiais às ciências da vida, à medicina e ao patrimônio cultural. A ESS é uma infraestrutura de pesquisa com 13 países membros na Europa.
O princípio físico para a produção de nêutrons é a espalação, fenômeno que, na ESS, ocorrerá com o bombardeamento de um alvo de tungstênio por prótons viajando a 96% da velocidade da luz no vácuo – esta última cerca de 300 mil km/s.
Os nêutrons liberados por essas colisões serão usados para pesquisa em 15 instrumentos de medida, empregando diferentes técnicas – em termos técnicos, difratometria, imageamento, refletometria, espectroscopia e espalhamento de nêutrons a baixo ângulo, entre outras. Cada instrumento tem uma particularidade. Por exemplo, um deles tem cinco tipos diferentes de espectroscopia.
Algumas das principais áreas de pesquisa atendidas: energia, materiais, ciências da vida, física fundamental e de partículas, magnetismo, eletrônica, arqueologia e tecnologia da informação.
As aplicações em pesquisa são diversas. Por exemplo, energia solar, células de combustível de hidrogênio, medicamentos, combustíveis e catalisadores, baterias, tecnologia climática, gestão de resíduos, materiais mais fortes e mais leves, aprimoramento de LEDs, computadores mais rápidos, armazenamento de dados, estudo de moléculas orgânicas, tecnologia de alimentos, produtos de higiene pessoal, supercondutores, novos dispositivos eletrônicos, preservação e restauração cultural, pesquisa e desenvolvimento industrial, materiais de construção, engenharia aeroespacial, geomateriais em ciências da terra, desenvolvimento de ligas e tratamentos termomecânicos.
Quais seus planos para o mundo pós-pandemia?
Meu primeiro plano é me familiarizar com a cultura sueca. Estou começando a estudar sueco, mas a integração (neste momento, só virtual) fica prejudicada. Não abandonei o plano de fazer um doutorado, e Lund tem uma das mais importantes universidades do país. Porém, doutorado na Suécia é um emprego – então, vai ter que ficar para depois.
Qual mensagem você gostaria de deixar para um(a) aluno(a) do Mestrado Profissional em Física do CBPF?
Depois que terminei o mestrado, ao procurar emprego, encontrei uma indústria global de pesquisa científica. Esse setor demanda por profissionais com a qualificação que o CBPF oferece. O Brasil tem equipamentos de ponta, como é o caso do Sírius, mas, se você estiver interessado(a) em dar um passo rumo a uma carreira no exterior, o Mestrado Profissional do CBPF te dá a qualificação necessária para disputar por vagas internacionais, com grandes chances de ser aprovado(a).
*O NCS agradece a Cassio Leite Vieira pela compilação das informações e revisão do artigo.