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Falece pesquisador da UFRJ especialista em baixas temperaturas
O ano começa com uma perda triste para a comunidade de física brasileira. Faleceu, neste início de fevereiro, o colega Raúl Edgardo Rapp, professor e pesquisador aposentado do Instituto de Física da UFRJ (IF/UFRJ).
Rapp, argentino, graduou-se em física em 1965, no Instituto Balseiro, em Bariloche. Doutorou-se pelo mesma instituição em 1972, com trabalho de tese sobre propriedades do hélio-3 superfluido, feito na Universidade da Califórnia em San Diego (EUA).
Ao saber do falecimento, colegas ressaltaram seu companheirismo, sua dedicação e paixão pelas baixas temperaturas e pela física do estado sólido.
Segundo seu amigo Henri Godfrin, pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), em Grenoble (França), Rapp foi um dos pioneiros no uso de técnicas de baixíssimas temperaturas ainda na Argentina, na década de 1970, as quais trouxe para o Rio de Janeiro, quando decidiu se radicar no Brasil. Ingressou no IF/UFRJ em 1976.
A colaboração com Godfrin rendeu resultados importantes sobre o comportamento ferromagnético nuclear do hélio-3 bidimensional, publicados no prestigioso periódico Physical Review Letters (H. Franco, R. E. Rapp, H. Godfrin, 1986).
Segundo seu colega Luis Ghivelder, pesquisador do IF/UFRJ, o uso de hélio líquido naquele instituto, para realizar experimentos a baixas temperaturas, deve-se, em grande parte, aos esforços de Rapp, ao longo da carreira.
Rapp foi também pioneiro nos processos de automatização dos experimentos com base no uso de computadores, bem como responsável por introduzir o acesso remoto ‒ de fora do IF/UFRJ ‒ que lhe permitia controlar configurações experimentais delicadas e complexas, madrugadas adentro ‒ e isso em tempos de conexões feitas por meio de linhas telefônicas discadas. Seu entusiasmo com a física experimental sempre foi notável.
Rapp junto ao refrigerador de diluição do IF/UFRJ
(Crédito: Arquivo Pessoal)
Maneira alegre
Tive a oportunidade de conhecer Raul mais de perto quando ingressei na carreira de magistério superior em 1998, no IF/UFRJ. Na ocasião, associei-me ao Laboratório de Baixas Temperaturas, chefiado então por ele, que também era o coordenador da Central Criogênica e responsável pela produção e pelo gerenciamento da distribuição de hélio liquido no instituto.
Já o conhecia de vista, dos ‘Encontros Nacionais de Física da Matéria Condensada’, onde sempre circulava com seu inseparável cachimbo. Raúl tinha uma maneira alegre de receber as pessoas e de discutir problemas. Poucas foram as vezes que o vi perdendo esse jeito de tratar a todos, mesmo nos momentos de conflito.
Desde o princípio, ele me apoiou bastante no laboratório, e nos tornamos colegas em diversas disciplinas. Seu forte sotaque era uma marca registrada, o que, à vezes, tonava um pouco complicada a interação com alunos de graduação. Mas sempre os recebia da mesma forma alegre, para resolver dúvidas e questionamentos das disciplinas que ministrava.
Em 2008, quando decidi me candidatar a uma vaga de pesquisador no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), também no Rio de Janeiro (RJ), conversei com Raúl e outros colegas do IF/UFRJ. Ele não só entendeu minhas razões, mas também apoiou, mais uma vez, minha decisão.
Raúl, certamente, fará muita falta. E todos nós que, de alguma forma, tivemos contato com ele, guardaremos conosco, para sempre, uma excelente lembrança tanto do pesquisador quanto da pessoa.
João Paulo Sinnecker
Pesquisador titular
CBPF