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Ex-diretor do CBPF ganha prêmio da AAAS
O prêmio anual é uma forma de homenagear cientistas, engenheiros ou instituições cujas ações demonstraram liberdade acadêmica e responsabilidade em circunstâncias desafiadoras. No caso de Galvão, isso se deu quando ele – então diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos (SP) – saiu em defesa dos dados sobre desmatamento na floresta amazônica obtidos por pesquisadores e tecnologistas daquela instituição.
Sua manifestação se deu em razão de críticas feitas pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, em 19 de julho de 2019, as quais punham em dúvida a credibilidade dos dados do INPE e sugeriam manipulação política dos resultados para, segundo Bolsonaro, prejudicar a imagem do Brasil no exterior,
A resposta de Galvão dada a um noticiário de TV teve grande repercussão na mídia nacional e internacional, recebendo apoio não só de grande parte da comunidade científica do país, mas também de setores da sociedade civil e movimentos ligados à defesa do meio ambiente, tanto no Brasil quanto no exterior.
Como consequência de sua reação às declarações do presidente da República, Galvão foi exonerado de seu cargo como diretor do INPE em 7 de agosto de 2019, função que ocupava desde 2016.
Mérito estendido
Por sua defesa da ciência contra os ataques do governo federal brasileiro, Galvão foi nomeado pela revista científica Nature como uma das dez pessoas mais importantes de 2019 na ciência.
“Receber [esse prêmio] foi muito significativo, não somente para mim, mas também para muitos colegas cientistas latino-americanos, que, em diferentes ocasiões, têm bravamente lutado contra políticas desastrosas e anticientíficas de políticos poderosos”, escreveu Galvão, em depoimento enviado ao Núcleo de Comunicação Social do CBPF.
“Há exemplos de vários colegas que, mesmo não tendo que enfrentar um embate semelhante ao que tive com o presidente Bolsonaro, têm reagido com firmeza em defesa da metodologia científica e atuado construtivamente pelo desenvolvimento sustentável da floresta Amazônica e, na tribulação atual, pela gestão cientificamente correta da pandemia que nos aflige [...]. Por isso, ao receber este prêmio, estendo o mérito a todos os colegas que tanto têm feito pela defesa da ciência, em benefício da sociedade”, finaliza a nota.
Formado em engenharia de telecomunicações, Galvão é especialista experimental em plasma e fusão controlada, com doutorado nessas áreas pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos EUA. Foi diretor do CBPF entre 2004 e 2011. É professor titular do Instituto de Física da Universidade de São Paulo.
Nascido em 1947, em Itajubá (MG), Galvão foi presidente da Sociedade Brasileira de Física (2013-2016) e membro do Conselho Científico da Sociedade Europeia de Física (2013-2016). É membro da Academia de Ciências do Estado de São Paulo e da Academia Brasileira de Ciências.
Carreiras ou atos
Os tipos de ações valorizadas pelo prêmio são proteção da saúde pública; participação em debates públicos sobre impactos da ciência e tecnologia da sociedade; comportamento exemplar na defesa tanto da responsabilidade social de cientistas e engenheiros quanto da liberdade acadêmica. “Alguns premiados puseram em risco sua liberdade ou até sua integridade física, por causa de suas ações”, segue a descrição do prêmio.
Com início em 1980, o prêmio – cujo nome, em inglês, é AAAS Award for Scientific Freedom and Responsibility – pode ser dado pelo conjunto da obra ou por um ato específico. Candidatos são nomeados por colegas.
Perguntado pelo NCS sobre o que faria com o prêmio em dinheiro, Galvão respondeu: “Ainda não tenho planos, por enquanto”.
Mais informações:
CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/1443260585180322
Wikipédia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ricardo_Galv%C3%A3o
Prêmio: https://www.aaas.org/aaas-awards