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Emérita do CBPF homenageia Alfredo Marques
Colega de faculdade e amigo de sempre
Conheci Alfredo quando ainda éramos bem jovens. Em fevereiro de 1950, eu, com 18 anos, fiz vestibular para cursar física na antiga Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil. Alfredo fez o mesmo vestibular um ano antes, mas por questões pessoais, só pôde começar a frequentar o curso um ano depois, isto é, quando eu também comecei a frequentá-lo. Cursamos muitos cursos juntos, mas deles, o que mais me lembro, foi o de eletromagnetismo ministrado pelo prof. Jayme Tiomno. Fizemos exame oral juntos para sermos aprovado no curso. O exame ocorreu no pavilhão Mario de Almeida onde o CBPF funcionava logo após sua fundação em 1949, nos fundos do terreno na rua Venceslau Braz 71, Botafogo. Como a maioria dos professores do curso de física trabalhavam no CBPF muitas das aulas eram dadas no CBPF. Tanto eu, como Alfredo estávamos nervosos pois a cadeira de eletromagnetismo lecionada pelo prof. Tiomno era difícil e abrangia temas bem complicados. Mas o final foi feliz e nós dois fomos aprovados.
Alfredo entrou no CBPF em 1953 e eu em 1954. Alfredo sempre foi para mim um ótimo colega e amigo. Eu sempre o admirei pela inteligência, cordialidade, humor que tratava todos os seus amigos e colegas de trabalho. Em particular, ele era o melhor amigo que o prof. César Lattes (1924-2005), primeiro diretor científico e um dos fundadores, teve no CBPF. E eu admirava esta grande amizade entre eles, e Alfredo sabia com muita sabedoria lidar com o Lattes, principalmente quando este entrava em crise de depressão.
Desafio aceito e implementado no CBPF
Quando voltei da minha primeira estadia na Alemanha em 1963, Alfredo me contou que o prof. Cesar Lattes, que na época, tinha se fixado na universidade de São Paulo e iniciado lá uma colaboração com universidades japonesas sobre a investigação da radiação cósmica, procurava alguém para instalar no CBPF esta linha de pesquisa. Aceitei o desafio, e depois de várias viagens a São Paulo, implantei na Divisão de Emulsões do CBPF a linha de pesquisa que já funcionava em São Paulo, com chapas de raio X e emulsões expostas no Monte Chacaltaya, Bolívia.
Depois, em 1967, quando a técnica desta investigação já funcionava muito bem no CBPF, tive que voltar `a Alemanha e passei o comando desta colaboração no CBPF à profª. Neusa Amato (1926-2015). Esta colaboração com universidades japonesas foi durante 30 anos, um trabalho importante do CBPF e muito frutífera, obtendo resultados relevantes, que foram depois testados com o uso de aceleradores.
Alfredo Marques participou da Missão Unesco, em que pesquisadores de vários países vieram ao Brasil para levar ao monte Chacaltaya uma câmara de nuvens, que detectam trajetórias de partículas ionizantes da radiação cósmica que atravessam a câmara.
Em 1970, eu e Alfredo participamos do VI Seminário Interamericano de Raios Cósmicos realizado em La Paz, Bolívia de 19 a 24 de julho. Abaixo uma foto de lembrança deste evento (Figura 1).
Direção do CBPF
De 1970-1975, ele teve sua missão mais importante que foi ser diretor do CBPF. Foi uma época muito difícil e que ele com grande habilidade, inteligência e sagacidade conseguiu contornar com maestria. Devemos muito a ele, a sobrevivência do CBPF depois da crise em que o instituto passou de sociedade civil, na época com escassos recursos financeiros, para ser vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, (MCTI) e, portanto, federal.
Figura 1: Seminário Interamericano de Raios Cósmicos realizado em La Paz,
Bolívia de 19 a 24 de julho de 1970.
A crise que antecipou esta vinculação foi trágica pois não havia dinheiro para pagar os funcionários durante vários meses. Me lembro que nesta época, eu voltei da Europa com a ideia de trabalhar em colaborações internacionais que usavam aceleradores acoplados a detectores denominados Câmara de Bolhas. Para isto, apresentei pedido ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para a compra e instalação de máquinas de medidas dos filmes tirados durante as interações das partículas do feixe do acelerador com o hidrogênio das câmaras de bolha, mas devido a terrível situação financeira que passávamos, recebi a seguinte resposta do Alfredo, então, diretor do CBPF. - “Sinto muito Anna, mas vamos comer suas máquinas de medida”.
Enfim, devemos muito à dedicação, sábia condução do problema e diplomática atenção do Alfredo sobre a difícil situação que o CFBPF passava, que superamos brilhantemente a crise.
Hoje o CBPF é um instituto de excelência internacional não só na área de pesquisa como também na pós-graduação.
Alfredo foi um grande homem com inúmeras qualidades e nunca deve ser esquecido como um grande colaborador do CBPF!
Anna Maria Freire Endler
Pesquisadora emérita
CBPF
Mais informações:
Alfredo Marques é emérito do CBPF: https://www2.cbpf.br/pt-br/cbpf-news/alfredo-marques-e-emerito-do-cbpf-2
Emérito falece aos 90 anos: https://www2.cbpf.br/pt-br/ultimas-noticias/emerito-do-cbpf-falece-aos-91
CBPF publica obituário de Alfredo Marques (23/09/1930-16/09/2021): https://www2.cbpf.br/pt-br/ultimas-noticias/cbpf-publica-obituario-de-alfredo-marques-23-09-1930-16-09-2021