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EDITORIAL - Desafios em ciência e tecnologia: Institutos de Pesquisas para o desenvolvimento humano e sustentável
EDITORIAL
DESAFIOS EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA: Institutos de Pesquisas para o desenvolvimento humano e sustentável
Quando se comparam as estruturas dedicadas à ciência e tecnologia em grande parte dos países ditos avançados com aquelas do Brasil, fica flagrante uma diferença muito acentuada: em todos aquelas nações, há uma infraestrutura de institutos de pesquisas científica e tecnológica bastante significativa, com número de cientistas, engenheiros e técnicos comparável ao das universidades.
No Brasil, há grande desequilíbrio na relação que acabamos de mencionar: o número de pesquisadores nas universidades é, pelo menos, dez vezes maior do que aquele nos institutos de pesquisas. Essa discrepância ‒ praticamente inexistente nos países desenvolvidos ‒ revela-se aqui não só extraordinária, mas também preocupante, pois não se pode dizer que há um número excessivo de pesquisadores em nossas universidades.
Tipicamente, os institutos de pesquisas têm missões bem definidas, associadas a grandes desafios científicos e tecnológicos dos países. É um trabalho complementar ao realizado pelas universidades.
Também está na lista de missões dos institutos: i) o desenvolvimento de novas tecnologias necessárias para resolver desafios científicos ‒ as quais, em geral, não estão comercialmente disponíveis; ii) dar acesso a pesquisadores externos ‒ por meio dos chamados laboratórios multiusuários ‒ a equipamentos cujo porte está além das possibilidades das universidades e cuja operação eficiente exige pessoal especializado e bem treinado.
Enfatize-se que a operação de equipamentos científicos de grande porte e complexidade é uma excelente oportunidade de treinamento para jovens pesquisadores e engenheiros, ao serem expostos ao rigor da pesquisa antes de entrarem no mercado de trabalho corporativo. Esse ambiente é também fecundo ao surgimento de ideias que podem se tornar inovações para a sociedade e o mundo empresarial.
Institutos de pesquisas, assim como as universidades, são instâncias indutoras de inovações, como mostra a experiência de países desenvolvidos. Mas não são ‒ é importante ressaltar ‒ o ambiente em que essas inovações irão se realizar ‒ exceto quando necessárias para o próprio avanço científico.
Neste momento, os institutos de pesquisas brasileiros passam por dificuldades significativas, tanto pela falta de recursos quanto (e mais importante) pelo envelhecimento e encolhimento de seus quadros. Tomo a liberdade de me fixar aqui ao exemplo do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro (RJ). Esse instituto, mesmo submetido a tais limitações, bateu, ano passado e este ano, seu recorde de produção científica. E, antes que se chegue a uma conclusão (errônea) de que menos é mais, a pergunta procedente aqui não é “O que o CBPF fez este ano?”, mas, sim, “O que o CBPF poderia ter feito com recursos e pessoal adequados?”.
A instalação de um novo governo sempre traz a possibilidade de novas políticas públicas. Nesse sentido, ousamos sugerir aqui a formação de um grupo de trabalho para delinear os desafios científicos e tecnológicos que os institutos de pesquisas deveriam abordar. A função desse grupo seria traçar um roteiro que permita ao país adequar, de modo satisfatório, sua infraestrutura científica e tecnológica até 2022, quando o Brasil irá comemorar o bicentenário de sua Independência.
Claramente, um processo dessa natureza se alimenta das dezenas de estudos já realizados pela comunidade científica e tecnológica brasileira. No entanto, inclui um elemento novo na questão do desenvolvimento científico e tecnológico deste país: a responsabilidade estratégica do Estado em relação a temas vitais para a sociedade e para os quais a infraestrutura e expertise dos institutos de pesquisas são cruciais.
Ronald Cintra Shellard
Diretor
CBPF