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Doutoranda reflete sobre ser física experimental
Gostaria de ser exemplo para outras meninas
Gostaria de iniciar este texto de forma um pouco pessoal. Queria ser uma física experimental desde a graduação, mas, muitas vezes, no laboratório, eu ouvia “Deixa que eu aperto; é necessário força” ou “Deixe que eu pego; você não vai conseguir segurar”.
Todas essas atitudes dos colegas cavalheiros me impediam de fazer meu trabalho. Uma mulher não poderia fazer física de vácuo se ela precisasse de um homem para fazer o trabalho por ela.
Então, quando saí do interior do Paraná, para ir à grande Rio, eu tinha decidido que queria tentar ser física experimental. E acreditava ter sido muito bem sucedida nisso. Tinha aceitado que nem tudo eu precisava fazer sozinha e que havia coisas que necessitavam mesmo da ajuda dos colegas homens. Afinal, um cilindro de oxigênio é pesado e, na hora da troca, temos que apertar bem roscas etc. para não vazar – ainda mais se for um cilindro de dióxido de carbono.
Eu não poderia estar mais errada.
Estou há um mês em Erlangen (Alemanha). Aqui, tenho como colega de laboratório uma mulher. Já na primeira semana, tivemos que trocar um cilindro de oxigênio. Em dupla, o trabalho não é difícil, e, embora seja preciso ter cuidado, já inventaram chave de boca grande o suficiente para não precisar ser o ‘Hulk’ na hora de instalar.
Em um mês, já abrimos a máquina duas vezes, trocamos flanges pesadas, entre outras tarefas árduas. Mas não precisamos, em momento algum, de outra pessoa, nenhum menino. Aprendi aqui que posso ser sempre independente, capaz e doutora em ultra-alto vácuo.
Fico feliz de ter tido bom exemplo para me inspirar. No futuro, gostaria de ser também um exemplo para outras meninas.
Jade Barreto
Doutoranda,
CBPF