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CLAF comemora 60 anos
O Centro Latino-Americano de Física (CLAF) – com sede localizada no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro – completou, no último dia 26/03, 60 anos de sua criação.
O CLAF é um organismo internacional que promove e coordena o desenvolvimento da pesquisa em física na América Latina, através da promoção de colaborações e intercâmbios entre instituições e indivíduos de países latino-americanos e caribenhos, priorizando a formação de recursos humanos, o apoio às escolas, cursos e eventos na região e a aquisição dos recursos financeiros necessários para tal fim.
Um traço que distingue o CLAF é sua visibilidade por intermédio da formação de recursos humanos, que busca ampliar atividades de pós-graduação, através da assinatura de convênios para concessão de bolsas de doutorado, projetos de colaboração e doutorado cooperativo, bem como promover estudos sobre temas científicos e tecnológicos de interesse para a América Latina.
Ao longo de seus 60 anos, a visão do CLAF foi contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico com fins pacíficos e para a integração dos países latino-americanos e caribenhos através da educação e pesquisa em Física e nas ciências afins.
Para o diretor, Luís Huerta, o CLAF é uma instituição com história. Tem sido relevante para o desenvolvimento da Física na região, pois tem desempenhado um papel fundamental na promoção do intercâmbio intrarregional. “Na América Latina da década de 1960 (criação do CLAF) existia cerca de 1.300 físicos; na atualidade são cerca de 23 mil”, contextualizou Huerta.
A HISTÓRIA DO CLAF
Criação
A partir do pós-guerra, nos anos 1950, havia uma efervescência da Física no mundo, em meio à qual se considerava que a ciência automaticamente produziria o desenvolvimento da sociedade. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) repercutiu esta tendência mundial, dando apoio à criação de centros e laboratórios regionais para empreendimentos científicos cujo desenvolvimento não seria possível de acontecer nos países sem a parceria deste Centro.
A criação do CLAF se deu nesse contexto. Ainda em 1956, depois de uma Escola de Verão realizada na Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM), os físicos ali reunidos resolveram transformá-la em uma Escola Latino-Americana de Física (ELAF), que devia ter lugar cada ano em um país diferente. A primeira ELAF foi organizada por Marcos Moshinski no México, em 1959; a segunda, por José Leite Lopes no Brasil, em 1960; e a terceira, por Juan José Giambiagi na Argentina, em 1961.
Graças ao empenho desse trio de físicos, as três primeiras edições da ELAF tiveram grande êxito, o que impulsionou a ideia de criação de um Centro Latino-Americano de Física. Em 1961, no Rio de Janeiro, foi realizada uma reunião de especialistas e, sob os auspícios da UNESCO, elaborou-se o projeto de criação do CLAF.
Finalmente, em 26 de março de 1962, foi assinado o acordo que instituiu o CLAF, em uma reunião promovida pela UNESCO e pelo governo brasileiro, no Rio de Janeiro. Estiveram presentes representantes de 20 países latino-americanos: Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Chile, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.
Propósito
Na década de 1960, o CLAF priorizou a formação acadêmica, graças ao ativo programa de bolsas que favoreceu países menos desenvolvidos em Física. No final da década e nos anos 1970, quando já se havia estabelecido a capacidade de formação própria nos diversos países, o CLAF apoiou o intercâmbio de físicos, a criação de escolas, grupos de trabalho e conferências latino-americanas. Cabe salientar a realização da ELAF em Oaxtepec, México, em 1968, verdadeiro marco para a Física latino-americana, dada a expressiva participação da maioria dos físicos da região.
Já nos anos 1980, a atenção do CLAF voltou-se para atividades interdisciplinares de interesse regional, visando maior integração da Física e dos físicos com especialistas de outras áreas. Assim, buscou-se ampliar os horizontes de trabalho para físicos e, paralelamente, demonstrar na prática a importância da ciência e da tecnologia para o desenvolvimento das sociedades latino-americanas, através da solução de problemas concretos de impacto econômico e social.
Nos anos 1990 se estabeleceram programas de longo prazo com tendência à utilização das facilidades experimentais existentes ou projetadas na América Latina. Ao mesmo tempo, estimulou-se um programa de formação de recursos humanos como uma forma de favorecer a colaboração em investigação entre distintos países da região.
Nos anos 2000, há uma expansão das colaborações entre países da América Latina e a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN). Mais precisamente em 2005, o projeto “HELEN” permitiu a circulação de pesquisadores, técnicos e estudantes europeus e latino-americanos, não somente relacionados às experiências do CERN, mas também ao Projeto Auger, sediado na Argentina. Anteriormente ao “HELEN”, a participação de todos os países latino-americanos no CERN se limitava a pouco mais de 40 pessoas por ano, na maioria pesquisadores e alguns estudantes. Ao final do projeto em 2009, o número de pessoas trabalhando naquele laboratório, provenientes da América Latina, chegou a 125.
Essa massa crítica qualificada permitiu a inserção e a efetivação de vários latino-americanos em diversos projetos de hardware nos principais detectores que operam com o acelerador de partículas LHC. Além disso, foram implementados com sucesso vários centros de computação em GRID operando em diversos países da América Latina, que hoje funcionam sob a coordenação do CLAF.
Em 2020 o CLAF buscou negociações diretamente com o CERN e em 26 de agosto as duas entidades não governamentais assinaram um acordo formal de cooperação científica. O propósito principal foi reunir esforços para buscar novas fontes internacionais de financiamento, para que a comunidade da América Latina possa dar sequência aos seus trabalhos técnico-científicos nesse grande laboratório.
NOVOS DESAFIOS
Luis Huerta assumiu a direção do CLAF durante a pandemia, o que aumentou o desafio de gestão: desempenhar o controle administrativo e financeiro de um organismo internacional, trabalhando remotamente. Para a equipe administrativa permanente do CLAF, o ritmo foi alterado, a tomada de decisão se retardou, porém, foi tratada como uma oportunidade de avançar para uma gestão diferente, com funções bem estruturadas e distribuídas.
A gestão teve, neste contexto, que incorporar tecnologias de comunicação remota, o que permitiu que o atendimento fosse expandido, mas sempre na medida de uma gestão distribuída e ordenada. “Tem-se um desafio, mas há ferramentas para enfrentá-lo”, analisou Huerta.
Para o diretor, “o desafio mais importante é voltar às atividades normais do CLAF, reiniciar os programas de bolsas, intercâmbio e apoio à atividade científica na região. Este ano é fundamental para isso, e esperamos que nossa celebração de 60 anos (programada para o mês de novembro, no Rio de Janeiro, junto com reunião da Assembleia Geral e Conselho Diretor) nos encontre em pleno andamento e muito mais presentes em nossa comunidade”.
PERSPECTIVAS PARA O FUTURO
Na visão do atual diretor, o CLAF precisa fortalecer a comunidade de Física na região, especialmente fomentando o desenvolvimento dos países que apresentam maior déficit em ciência e, também, visando solucionar a enorme diferença entre o número de homens e mulheres dedicados à Física. Conjuntamente, precisa reposicionar o CLAF na comunidade de pesquisadores e pesquisadoras e ao nível dos tomadores de decisões nos âmbitos público e privado.
Outra importante previsão é contribuir com a vinculação da pesquisa em ciências físicas e da problemática socioeconômica e produtiva da região. Para isto é necessário: desenvolver iniciativas em torno de problemas específicos: meio ambiente e mudanças climáticas; necessidades energéticas e transição a formas renováveis e não poluentes; desenvolvimento de materiais e nanotecnologia; tecnologias em biomedicina; instrumentação; educação; são exemplos de áreas multidisciplinares em que a Física tem um papel muito determinante.
Para uma etapa diferente daquela que tem sido a história do CLAF até agora, é muito importante estabelecer vínculos com outros organismos multilaterais da ciência e de fomento ao desenvolvimento, além de alcançar agências internacionais de financiamento para incrementar recursos.
ORGANIZAÇÃO DO CLAF
Para que possa cumprir sua missão, o CLAF dispõe de dois órgãos administrativos: a Assembleia Geral e o Conselho Diretor. A primeira representa o órgão máximo; reúne-se a cada dois anos e é composta por representantes dos governos dos Países Membros do CLAF e por um representante da UNESCO. Além de determinar o regime interno, as bases orçamentárias e examinar as atividades da instituição, dentre outros encargos, é a Assembleia Geral que elege os membros para o Conselho Diretor e seus suplentes, que devem ser qualificados em ciências físicas.
O Conselho Diretor, por sua vez, é constituído de dez membros de diferentes nacionalidades, 3 entre México, América Central e Caribe; 3 entre Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela; e 4 entre Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. Cada conselheiro tem um suplente. O Conselho se reúne anualmente para analisar e elaborar o programa e o orçamento do CLAF e, a cada 2 anos, os apresenta à Assembleia para aprovação formal. Cabe ao Conselho eleger o Diretor do CLAF, que tem mandato de 4 anos.
Atualmente a direção do CLAF está sob a responsabilidade do Dr. Luis Huerta Torchio (2020-2024). Ao longo de seus 60 anos de existência, o CLAF contou com os seguintes diretores: Gabriel Emiliani Fialho (1962 a 1968); Roberto Bastos da Costa (1969 a 1985); Juan José Giambiagi (1986 a 1993); Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho (1994 a 1998), Luis Masperi (1998 a 2003), Feliciano Sanchez Sinencio (2004 a 2012) e Carlos Luis Trallero-Giner (2012 a 2020).
O Conselho Diretor atual é composto pelos seguintes membros: Santiago Grigera (Argentina); Antônio José Roque da Silva (Brasil); Rolando Ticona Peralta (Bolívia); Gonzalo Gutierrez (Chile); Lela Taliashivilli (Costa Rica); Augusto González (Cuba); Antonio del Río (México); Juan Rodríguez (Perú); Arturo Martí (Uruguay); Arnaldo Donoso (Venezuela).
Ao longo desses 20 anos de parceria, foram concedidas 154 bolsas, sendo 49 de doutorado e 105 de pós-doutorado, envolvendo 15 países da América Latina e Estados Membros do CLAF.
O CLAF mantém relações com vários organismos internacionais: com a UNESCO, em seus escritórios da França e do Uruguai; com o International Centre for Theoretical Physics (ICTP) na Itália; com o Joint Institute of Nuclear Research (JINR), na Rússia, e com o CERN na Suíça.
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