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Ciência básica, fonte de inovação para o Brasil
O papel da ciência básica e, principalmente, da física como indutoras de inovação no mundo é inquestionável. Entender como a física pode contribuir para a competitividade industrial é da maior relevância para o Brasil. No entanto, o tema segue sem ser explorado em todo o seu potencial.
Ciência básica, indutora de inovação?
Desde a segunda metade do século XX, as instituições de pesquisas vêm desempenhando funções complementares à realização de pesquisas básica. O conhecimento resultante da pesquisa tem sido, muitas vezes, de grande importância econômica. Exemplo são os instrumentos científicos que, frequentemente, transformam-se num “produto” de mercado não intencional e, de certa forma, em uma extensão da pesquisa básica. Projetados para darem resposta a requisitos de pesquisa específicos, após seu desenvolvimento muitas vezes fica evidente o potencial para uso desses equipamentos em outras áreas, mesmo que exigindo adaptações e modificações. As aplicações por vezes ocorrem em disciplinas e setores muito distantes daqueles do uso original da pesquisa ou do instrumento.
A pesquisa básica em física está no cerne de muitos destes instrumentos inovadores. Ela é central, por exemplo, para o desenvolvimento recente do computador quântico, instrumento que promete revolucionar praticamente todas as áreas da vida moderna em futuro próximo. O desenvolvimento do computador quântico – e de outros instrumentos que nascem para atender à ciência, mas que terminam por serem usados em outras áreas – mostra como teorias físicas e inovação tecnológica avançam em rotas que se retroalimentam, com novos conhecimentos gerando novos produtos e técnicas que, por sua vez, levam a novos desenvolvimentos no campo teórico.
Portanto, cabe perguntar: o que fazer para que a física brasileira, reconhecida mundialmente pela participação em projetos internacionais de fronteira e por publicações nas mais bem estabelecidas revistas da área, contribua efetivamente para a inovação no Brasil?
Projetos estratégicos
Uma forma de aumentar a inovação com ciência agregada é promover maior participação das empresas nos grandes projetos científicos nacionais e internacionais, pois neles, com muita frequência, se desenvolvem protótipos de novos instrumentos bastante avançados. Instituições de física como o CBPF podem ter papel importante nesse sentido.
O CBPF participa de vários projetos científicos, nacionais e internacionais, e pode ser um articulador de demanda para a indústria por desenvolvimento de tecnologias e instrumentos científicos avançados para uso nesses experimentos. Os pesquisadores e tecnologistas do CBPF têm possibilidade de articular, com as empresas, desafios científicos que impulsionem o desenvolvimento da inovação em diversos setores. Tais desenvolvimentos podem ser utilizados depois, pela indústria, para ganhar competitividade no mercado.
Existem também outras iniciativas nesta relação entre a academia e a indústria para as quais é importante dar atenção, como por exemplo onde a ciência pode encomendar projetos à indústria. A ciência pode induzir a inovação por meio de parcerias nas quais empresas geram novos produtos de alto valor agregado e ganham mercados por participarem de grandes desafios científicos em escala mundial.
Formação de quadros inovadores
A pesquisa de vanguarda requer diferentes habilidades, o que significa que profissionais com perfis diversos devem ser formados e estimulados a cooperar para sua realização. Mas, é preciso uma mudança do paradigma na formação desses profissionais, quando pensamos em sua atuação no setor produtivo. É necessário identificar aqueles pós-graduandos interessados na aplicação da ciência na indústria e oferecer a eles conhecimentos que permitam fazer a ponte entre estes dois mundos. Empreendedorismo, metodologias inovadoras, entendimento do que é o ecossistema de inovação devem constar da formação que prepare verdadeiramente para a atuação na inovação de base científica.
Uma vez formados, estes profissionais poderão não só atuar em empresas que têm conhecida demanda por quadros qualificados, mas também criar seus próprios negócios de base científica. É sabido que pequenas e médias empresas são motores da inovação na atualidade. Há inúmeros casos de jovens empresas de base tecnológica – startups e spin-offs acadêmicas – adquiridas por grupos maiores, graças à inovação que trazem para seus setores.
Nesse contexto é importante também que as instituições de ensino e pesquisa em ciência e tecnologia fortaleçam os mecanismos institucionais que estreitam laços entre academia e indústria. Além de promoverem o interesse e a formação para atuação na inovação com base científica, é importante que incorporem ambientes propícios para as empresas nascentes – como incubadoras e espaços de coworking –, tirem máximo proveito dos núcleos de inovação (NITs) e fortaleçam programas que permitam a profissionais das empresas realizarem projetos específicos nas instituições mediante contrapartidas ou bolsas de incentivo à inovação.
É imprescindível que o diálogo entre os ambientes acadêmico e empresarial deixe de ser tabu, que o assunto seja discutido de forma franca para que traga benefícios mútuos. É preciso igualmente comunicar aos jovens pesquisadores que a inovação com ciência agregada é opção de carreira e não algo inexequível no contexto brasileiro.
Futuro
Há casos de sucesso na participação de empresas brasileiras em projetos internacionais, na colaboração entre pesquisadores e profissionais das indústrias e mesmo de empresas de base científica criadas por jovens doutores saídos das universidades e institutos de pesquisa. É preciso, agora, que deixem de ser casos pontuais. É fundamental que as instituições fortaleçam mecanismos promotores da inovação e que mais pesquisadores compreendam a complexidade do processo de inovação, de modo que a ciência, especificamente a física, exerça plenamente seu potencial de contribuição para o desenvolvimento do país.