Notícias
CBPF homenageia, na recém-criada seção 'Prata da Casa', doutorando que faleceu recentemente
Esta seção, ‘Prata da Casa’, foi recém-criada para apresentar alunos que se destacaram durante sua pós-graduação no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro (RJ). Esse objetivo ela cumprirá. No entanto (e infelizmente), ela também será portadora de uma notícia profundamente triste: o doutorando Carlos Eduardo Lopes Ducap morreu ontem (03/10).
A cerimônia de sepultamento ocorrerá amanhã (05/10), às 14h, no Cemitério do Caju, no São Francisco Xavier, na Capela C, com o velório começando a partir das 10h.
Ducap, orientado pelo pesquisador emérito do CBPF Mario Novello, era bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Sua tese (‘Interações do campo eletromagnético e suas geometrias’) estava pronta, mas ele não teve a chance de defendê-la: depois de um transplante de coração recente, ele não resistiu às complicações dessa delicada intervenção cirúrgica. Nascido em 8 de junho de 1988, Ducap tinha 29 anos de idade.
Em 13 de março deste ano, na defesa de seu projeto – fase obrigatória para a obtenção do título de doutor –, Ducap se destacou perante a banca examinadora: recebeu a qualificação mais alta (Excelente) nos quatro quesitos avaliados: ‘Originalidade do tema’, ‘Relevância da proposta’, ‘Domínio do tema pelo aluno’ e ‘Potencial para publicações’. No item ‘Potencial de conclusão no prazo (48 meses)’, também mereceu o adjetivo ‘alto’ (igualmente máximo).
Em informações adicionais, os examinadores escreveram: “O candidato está bastante avançado no seu trabalho de Tese, apresenta um domínio notável do tema, com visão crítica da área. Sua maturidade é a de um colaborador, e não apenas a de um orientando. O candidato planeja defender sua Tese antes do prazo, e acreditamos que ele tenha plenas condições de fazê-lo.”
Carlos Eduardo Lopes Ducap (1988-2017)
“Excelente físico”
Ducap fez seu mestrado com o pesquisador titular (e aposentado) do CBPF José Martins Salim entre 2012 e 2014, com o tema de dissertação ‘Estabilidade de modelos de universo magnético’. Em seguida, foi aprovado para o doutorado. Sua graduação foi em física pela Universidade Federal Fluminense, terminada em 2011.
Muito tocado pelo ocorrido, Novello preparou o seguinte depoimento sobre Ducap:
“Recebi há pouco a notícia de que um de meus melhores alunos de doutorado, Carlos Ducap, faleceu ao realizar um transplante de coração. Ele era uma dessas pessoas maravilhosas que às vezes conhecemos. Extremamente competente e trabalhador; excelente físico. E com uma alegria enorme de trabalhar. Quando nos juntávamos, era só alegria.
Fizemos dois belos artigos juntos – um já publicado e outro já submetido à publicação: ‘The cosmological origins of nonlinear electrodynamics’, que saiu no periódico Gravitation and Cosmology , na edição de abril deste ano (v. 23, n. 2, pp. 128-130), e ‘How can the neutrino interact with the electromagnetic field?’ (sob avaliação de pareceristas).
Eu penso que seria formalmente honesto e digno que o CBPF encontrasse algum mecanismo para que ele pudesse defender sua tese. Uma possibilidade seria eu apresentá-la perante uma banca ou em alguma outra alternativa.
A tese dele estava pronta havia alguns meses, e eu dizia a ele para escrevê-la com calma, pois sua bolsa ainda lhe dava bastante tempo para isso. Foi uma alegria tê-lo como companheiro.”
Ducap deixa também marcas benignas em outros pesquisadores com quem interagiu no CBPF. Um deles foi Felipe Tovar Falciano. “Eu gostava muito dele. Era um cara incrível. Logo a operação que ele considerava sua salvação acabou por levá-lo”, disse. “Ele sempre me serviu de referência de alegria de viver e do prazer que devemos ter no nosso trabalho. Uma pessoa realmente com muita vontade de viver e muita força interna”, completou Falciano, pesquisador associado e, como Novello e Ducap, também cosmólogo.
Para o pesquisador titular João Paulo Sinnecker, coordenador do Programa de Pós-graduação do CBPF, “foi uma perda lastimável. Era um aluno sempre muito presente, participativo e que vinha obtendo excelentes resultados em seu trabalho de pesquisa. Era muito querido pela sua coordenação, a COSMO [Coordenação de Cosmologia, Astrofísica e Interações Fundamentais], bem como por seus colegas e professores da pós-graduação. Sentimos muito a perda de alguém que certamente teria um futuro brilhante, de destaque”, completou Sinnecker.