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Brasil no CERN: adesão e desenvolvimento nacional
Acaba de ser aceita no último dia 24/9, por unanimidade de seu conselho, a associação do Brasil à Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (CERN). O acordo ainda precisa tramitar pelo Senado Federal para ser ratificado.
Sobre o momento, Ronald Cintra Shellard, diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) disse: “A entrada do Brasil como membro associado vai significar mais regularidade e previsibilidade para os aportes de recursos para a ciência, isso vai ter impacto no desenvolvimento de instrumentação científica e na inovação".
A associação é resultado de uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações intensificada durante todo o ano: no final de maio, o ministro astronauta Marcos Pontes e Manuel Heitor, Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, e Ministro de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal, assinaram três memorandos de entendimento entre Brasil e Portugal, definindo um marco para a participação de pesquisadores em colaborações internacionais. Em junho de 2019, o ministro Marcos Pontes, visitou instalações do centro e em agosto, o ministro e delegação do MCTI se reuniram com diretores do CERN em Genebra, Suíça onde reafirmaram a disposição do Brasil em ser associado à instituição.
Compreendendo o impacto
A Ciência é cada vez mais uma atividade multinacional. A fronteira da Física é explorada por grandes colaborações internacionais, frequentemente associadas a grandes laboratórios, como o CERN, em Genebra, ou o Fermi National Accelerator Laboratory (Fermilab), em Chicago. “Fazer parte das colaborações internacionais, e, sobretudo, associar-se aos grandes laboratórios é estratégico para o desenvolvimento de qualquer país”, explica Alberto Reis, pesquisador do CBPF integrante de um dos grupos de colaboração do CBPF com o CERN.
O CBPF participa de grandes colaborações desde os anos 1980, sempre com a incerteza no financiamento das pesquisas. Com este acordo, surgem novas perspectivas em setores como instrumentação e indústria: “O CERN faz encomendas apenas às indústrias dos países membros. Se fosse membro do CERN, o Brasil, possuidor das maiores jazidas de nióbio, poderia ter produzido boa parte dos magnetos supercondutores usados no LHC, poderia ter produzido uma parte significativa de equipamentos eletrônicos utilizados pelos diversos experimentos, entre outras encomendas”, contextualiza Reis.
CBPF no CERN
O CBPF possui dois grupos atuando diretamente com experimentos do CERN: no âmbito do Compact Muon Solenoid (CMS), o grupo CMS-CBPF, composto pelos pesquisadores Gilvan Alves, Arthur Moraes e Carsten Hensel, e o técnico Fábio Marujo; e no Large Hadron Collider beauty (LHCb), o grupo de pesquisadores Jussara Miranda, Ignacio Bediaga, André Massafferri e Alberto Reis.
O CBPF participa desde 2008 na colaboração CMS no CERN, tendo desenvolvido durante esse tempo projetos em instrumentação científica, incluindo o sistema de aquisição de dados para o Calorímetro Frontal do experimento, além de diversas análises em física com teses de mestrado e doutorado defendidas no CBPF. Alves complementa: “Atualmente, o grupo está envolvido no desenvolvimento do novo sistema de eletrônica de seleção e aquisição de dados para o sistema de Resistive Plate Chambers (câmaras RPC, como é conhecido e câmaras de placas resistivas, em tradução livre) do sistema de múons do CMS”.
Na colaboração LHCb, os pesquisadores do CBPF participam do desenvolvimento das câmaras multifilares para detecção de múons, do desenvolvimento de eletrônica para leitura dos dados brutos vindos do detector, do desenvolvimento de software para aquisição de dados, além de fazemos parte da GRID, uma rede mundial de computadores dedicados ao processamento de dados, além de muita física - trabalhando neste último, pelo CBPF, os técnicos Renato Santana, Eraldo Júnior, Jaime Paixão e Orlana Oliveira. O CBPF participou, também, através do pesquisador André Massafferri, do desenvolvimento do novo detector de trajetórias do LHCb, o 'SciFi', um sofisticado arranjo de fibras óticas que utiliza uma tecnologia bastante inovadora. “Somos responsáveis por uma fração importante das publicações do LHCb”, avalia Reis.
Sobre o CERN
Desenvolvido para a pesquisa em física de altas energias, a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN) é atualmente um dos maiores e mais avançados centros de pesquisa do mundo. A instituição opera o mais potente acelerador de partículas do mundo, o Large Hadron Collider (LHC) e Atlas, o maior experimento de detecção de partículas em funcionamento no planeta.
O CERN conta com 23 países membros e, a partir de 2010, permitiu a associação como membro de países não europeus. Atualmente, cerca de 110 pesquisadores brasileiros, representando Institutos de Pesquisa em diferentes regiões do país, participam de experimentos do CERN.
Mais informações:
CERN: https://home.cern/