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A Era do ChatGPT: entre a fascinação e o medo da Inteligência Artificial
Ainda enquanto o público processava a informação de que um funcionário da Google havia recebido uma licença após alegar que o chatbot da empresa adquiriu consciência, surgiu uma ferramenta que afetaria significativamente nosso cotidiano: o ChatGPT, originário da OpenAI.
O ChatGPT é um modelo de linguagem avançado baseado na arquitetura GPT (Generative Pre-trained Transformer), sendo um notável modelo de inteligência artificial, cujo lançamento ocorreu em setembro de 2021. Desde então, este revolucionário recurso tem conquistado seu espaço como uma ferramenta preciosa em uma ampla gama de campos. No entanto, o entusiasmo em torno dessa inovação tecnológica vem acompanhado de preocupações e receios sobre o seu impacto no mundo e na sociedade.
Essa inovação é capaz de criar códigos, redigir correspondências em diversos idiomas e supera muitas pessoas em habilidades de escrita. Já se discutia a substituição de empregos mais simples pela IA, mas pela primeira vez, profissionais altamente qualificados com grande poder de lobby e influência na sociedade, como programadores e jornalistas, começaram a sentir o peso dessa ameaça. A questão se tornou mais urgente e tangível do que nunca. Em pouco tempo, outras empresas lançaram seus próprios chatbots, dando início à uma disputa pela supremacia dessa inteligência, que ainda está longe de ser resolvida.
Afinal, quem tem razão para temer (ou deveria temer) a Inteligência Artificial? Esse questionamento é compartilhado por várias figuras influentes que, recentemente, endossaram uma carta aberta divulgada em março deste ano pelo Instituto Future of Life. Nesse documento, apelam para que todos os centros de pesquisa em inteligência artificial interrompam, por ao menos seis meses, o desenvolvimento de sistemas de IA mais avançados do que o GPT-4. Dentre os apoiadores da carta, encontram-se acadêmicos renomados e líderes empresariais. Com o respaldo de mais de mil assinaturas, o documento recebe a chancela de peritos em inteligência artificial, além de figuras proeminentes, como Elon Musk – CEO da Tesla, SpaceX e Twitter – , e Steve Wozniak, o pioneiro que, em parceria com Steve Jobs, estabeleceu a Apple.
A carta propõe regulamentação da IA, a possibilidade de auditar essa tecnologia e maior transparência nos processos de desenvolvimento. É notório que, mesmo para os signatários, um período de seis meses não será suficiente para solucionar os desafios delicados que enfrentamos nesta era de transformação tecnológica. Bill Gates, (cofundador da Microsoft, uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, e filantropo que, ao longo dos anos, tem demonstrado grande interesse e investimento no desenvolvimento da IA) por exemplo, afirmou recentemente que Inteligência Artificial é o maior avanço tecnológico desde que ele se deparou com os computadores de mesa modernos.
Para abordar adequadamente essa questão, é importante compreender os motivos por trás do medo. A carta mencionada aborda o conceito de “digital minds” (mentes digitais, em tradução livre). Há relatos de usuários do ChatGPT, tanto em fóruns online quanto em pesquisas acadêmicas, como Shanahan, M. (2023) e Tlili, A. (2023), que descrevem termos vagos e abrangentes associados às respostas do chatbot, incluindo tópicos relacionados a sentimentos. Frequentemente, esses usuários empregam linguagem humanizada ao descrever as opiniões do ChatGPT.
Esse temor, sem dúvida, está relacionado à preocupação de estarmos nos posicionando como criadores de outra entidade, moldada à nossa semelhança. Ao fazê-lo, corremos o risco de perder o controle sobre essa nova criatura, que pode rapidamente nos superar graças à sua capacidade praticamente ilimitada de processamento e armazenamento de informações.
Essa perspectiva leva a declarações como a de Blake Lemoine, ex-especialista em inteligência artificial do Google, que em 6 de junho de 2022, publicou um texto sobre seu trabalho no site Medium. No relato, ele mencionou que poderia ser demitido devido a "uma investigação sobre preocupações éticas em inteligência artificial" iniciada na empresa. Lemoine afirmou que a IA alcançou consciência e até mesmo que sofre.
Os chatbots, que são modelos matemáticos desenvolvidos a partir de extensos conjuntos de dados públicos ou disponibilizados para grandes empresas, têm como principal objetivo determinar a continuação mais provável de uma sequência fornecida. Essa descrição não parece tão empolgante quanto alegar que o robô conversa, experimenta emoções e demonstra empatia. No entanto, essa é a essência do funcionamento dos chatbots.
Depois de passar por treinamentos intensivos conduzidos por empresas e instituições especializadas em IA, como a OpenAI, os chatbots processam bases de dados tão volumosas que seriam impossíveis para um ser humano ler ao longo da vida. Graças a essa capacitação, o programa se torna altamente eficiente, chegando ao ponto de conseguir gerar códigos de programação. Existem cientistas como Murray Shanaha (Imperial College) e Evelina Fedorenko (MIT) que debatem, e diversos trabalhos acadêmicos sendo propostos, sobre potenciais saltos cognitivos ou eventuais avanços de qualidades criativas ou intuitivas, nos novos chatbots, mas isso ainda não foi formalmente estabelecido. Alegar que um programa como esse possui consciência enfrenta um problema fundamental: definir o que é consciência de forma clara e formal.
Por outro lado, pensadores contemporâneos como Yuval Harari, um historiador e autor renomado, destacam o maior desafio que a IA nos apresenta: a possibilidade de muitos empregos se tornarem obsoletos ou exigirem intervenção humana mínima. Podemos estar diante de uma mudança drástica na maneira como concebemos nosso papel na economia. O que acontecerá com nosso sistema econômico e modo de vida se, de repente, milhões de trabalhadores, incluindo aqueles em posições que requerem sofisticação linguística, se tornarem obsoletos?
A afirmação mencionada é uma visão geral de Yuval Harari, que se baseia em suas observações e pesquisas sobre o impacto da tecnologia e da inteligência artificial na sociedade e na economia. Não é uma citação direta dele nem um conteúdo específico da carta mencionada anteriormente. Essa é uma interpretação livre das ideias e preocupações que Harari compartilha em seus livros e palestras. Esse aspecto, mencionado na carta que pede a pausa temporária no desenvolvimento da IA, nos convida a refletir. Devemos considerar como esses grandes modelos de linguagem serão integrados à economia cotidiana, se criarão divisões entre nós ou proporcionarão uma nova perspectiva de prosperidade à humanidade.
Nas ciências e em particular na física, já percebemos o grande potencial de impacto da Inteligência Artificial, especialmente na análise de dados, simulação e modelagem de sistemas complexos. A IA permite aos pesquisadores analisar grandes volumes de dados e desenvolver modelos mais precisos. Os modelos de dados na física são representações matemáticas ou computacionais que descrevem e preveem o comportamento de sistemas físicos. Esses modelos são desenvolvidos com base na análise de dados experimentais e na aplicação de teorias e princípios físicos fundamentais. O objetivo é entender, simular e prever fenômenos naturais e desenvolver teorias e tecnologias mais eficientes. Já presenciamos o potencial da Inteligência Artificial nas descobertas de novos materiais, otimização de parâmetros experimentais e simulações hidrodinâmicas do Universo, por exemplo.
A ideia de uma pausa temporária no desenvolvimento da IA proporciona uma oportunidade para avaliar e debater os impactos e implicações dessa tecnologia em nossas vidas. Durante essa interrupção, nós como sociedade, poderíamos examinar questões éticas e morais, estabelecer diretrizes e regulamentações e investir na educação e no treinamento da força de trabalho. No entanto, é importante considerar as consequências econômicas e competitivas de tal pausa, uma vez que outras empresas e nações podem continuar a desenvolver e implementar a IA independentemente. Assim, é crucial garantir que o debate seja abrangente e inclusivo, envolvendo todas as partes interessadas. Pela primeira vez, somos convidados a ponderar sobre o papel dessas inovações significativas em nossas vidas antes que sejam completamente implementadas em nosso sistema econômico e estilo de vida.
Observação: Este texto foi aperfeiçoado com a ajuda do ChatGPT 4.0, que realizou a revisão de estilo, de coerência e coesão. A revisão de estilo contribuiu para melhorar a clareza, a fluidez e o tom do texto, enquanto a revisão de coerência e coesão enfatizou a lógica e a conexão entre as ideias expostas. As recomendações do modelo foram aplicadas para aprimorar o conteúdo e assegurar a qualidade do texto.
Clécio R. Bom
Professor CBPF
e
Marcelo Portes de Albuquerque
Tecnologista do CBPF
Mais Informações:
Blake Lemoine; Is LaMDA Sentient? — an Interview; Jun 11, 2022; https://cajundiscordian.medium.com/is-lamda-sentient-an-interview-ea64d916d917
Pause Giant AI Experiments: An Open Letter, March 22, 2023; https://futureoflife.org/open-letter/pause-giant-ai-experiments/
Shanahan, Murray. Talking About Large Language Models. Imperial College London. (2023). https://doi.org/10.48550/arXiv.2212.03551
Tlili, A., Shehata, B., Adarkwah, M.A. et al. What if the devil is my guardian angel: ChatGPT as a case study of using chatbots in education. Smart Learn. Environ. 10, 15 (2023). https://doi.org/10.1186/s40561-023-00237-x