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Homenagem à Ivette Maria Savelli Sanches do Couto
Homenagem à Ivette Maria Savelli Sanches do Couto
Impossível ver partir a amiga Ivette Maria Savelli sem pensar no lugar onde convivemos por tantos anos: o Setor de Filologia da Casa de Rui Barbosa. Ivette ali chegou em 1975 e permaneceu até junho de 2024, quando se aposentou, pouco antes de completar 50 anos de atividade. Permanência tão longa no serviço público indica seu apego ao que fazia e a consciência de que sua aposentadoria poderia apressar o fim de um trabalho que teve impacto tão decisivo em sua trajetória pessoal e profissional.
Por sua riqueza e diversidade de fazeres, que espelha a da própria língua portuguesa, o Setor de Filologia foi uma escola para tantos que por lá passaram: português medieval, literatura de cordel, lexicografia, crítica genética, preparação de originais para publicação, seminários e exposições. Essa aparente confusão ali encontrava sua lógica e razão de ser e nos ensinava na prática o real significado da palavra filologia, que, cada vez mais ignorada, desperta hoje estranheza e incômodo.
Ouso acreditar que o Setor de Filologia teve influência decisiva na vida de Ivette, como na de todos nós. Lidar com assuntos tão vários e relevantes, com tanta beleza desafiadora, foi fundamental em nossas vidas. Ivette sentiu necessidade de construir paralelamente uma carreira acadêmica na Universidade Federal Fluminense, sem que isso lhe fosse exigido ou cobrado. Crescer e capacitar-se foi resultado dos estímulos recebidos na riqueza de nosso cotidiano de trabalho.
Ao longo desse tempo, Ivette manteve inalterada a amizade com os que lá já estavam e conquistou o carinho e o respeito dos que chegaram com o passar dos anos. De todos eles, até dos mais polêmicos que por ali passaram. Se tivesse de buscar uma explicação para essa unanimidade, apontaria sem hesitação: a simplicidade. Ivette trabalhava muito e bem, dominava os assuntos a que se dedicava, tinha conhecimento e experiência da nossa língua, ajudava a tirar nossas dúvidas, descobria imperfeições e buscava saídas para questões complicadas. Tudo isso sem nenhuma pose, como se fosse algo corriqueiro e banal.
Sua disposição para ajudar era admirável. Revia textos dos colegas, assumia tarefas que exigiam minúcia e paciência, estava sempre disponível, como se colaborar nada lhe custasse. Soube fazer dos colegas de trabalho amigos de verdade, que hoje lhe prestam homenagem pela pessoa discreta e fundamental que foi em nossas vidas.
Rachel Valença
(pesquisadora aposentada da Casa de Rui Barbosa
e ex-diretora do Centro de Pesquisas)