Civilismo
[...] o civilismo é um princípio, é uma doutrina, é uma aspiração moral, é uma antecipação do futuro, é uma clareza do espírito de Deus aberta neste inferno, é alguma coisa que nos fala do bem, da honra e da justiça! (Rui Barbosa)
Aqui você encontra informações sobre a campanha presidencial de 1910, disputada entre Rui Barbosa e marechal Hermes da Fonseca, conhecida como Campanha Civilista.
Nesta seção estão comentados os aspectos políticos mais relevantes da campanha e as principais personalidades envolvidas, descrita a cronologia dos principais momentos do período de 1909 a1910, com indicação dos discursos mais relevantes de Rui Barbosa, e relacionados sites disponíveis sobre o tema.
Campanha Civilista
Considerada a primeira campanha presidencial que contou com a participação de segmentos amplos da sociedade brasileira, a Campanha Civilista, do candidato Rui Barbosa contra o candidato militar apoiado pelo governo – Hermes da Fonseca –, além de representar a luta pela consolidação da ordem civil no Brasil, mostrou o desejo de uma participação política mais efetiva da sociedade naquele contexto de domínio político de tradicionais oligarquias.
De acordo com a avaliação do próprio Rui Barbosa, o movimento tomou proporções incomparáveis, sem paralelo na história do país. Tratava-se de uma comoção vulcânica do povo em São Paulo e no Rio de Janeiro, a propagação da lava por todo o solo de Minas, o estado sísmico da opinião na Bahia, a trepidação geral do Sul... O movimento descrito respondia ao chamado de Rui Barbosa e de seu grupo político em defesa da liberdade e do direito, contra um militarismo renascente que caminhava no sentido de dissimular o arbítrio sob a forma republicana. A hegemonia do poder militar não podia deixar de perturbar as consciências de homens e mulheres que, educados a partir de valores liberais, desejavam que a ordem social estivesse baseada na norma jurídica e no respeito às instituições republicanas.
Nesse sentido, a Campanha Civilista foi significativa como movimento de resistência contra a deturpação da ordem garantida pela liberdade e pelo direito na medida em que mobilizou amplos segmentos sociais que se uniram ao seu programa de protesto.
Lembranças da Campanha
Dois testemunhos emocionados da Campanha por dois escritores mineiros, então meninos, Pedro Nava e Carlos Drummond de Andrade, sobre o clima acirrado da campanha presidencial de 1910.
"Outro assunto que dava pano para mangas era hermismo e civilismo. Já se sabe que o hermista único era meu futuro tio Heitor Modesto, por causa da Escola Militar, mais sua amizade com o Mário Hermes e o Jangote. Dentro do 106 todos, até as crianças usavam o distintivo civilista — o retrato do Conselheiro Rui Barbosa numa espécie de broche de celulóide, redondo e cor de sépia. O Modesto também ostentava o do hermismo, exatamente igual ao dos adversários, só que em vez da face de Rui mostrava a cara do marechal. Com o chapéu emplumado, de dois bicos. Com todos os seus bordados e galões. Com aquele sorriso descuidado de militar feliz de que a caricatura se apossaria para — achatando a cabeça, ampliando a calva, subindo os ombros, engordando nariz e orelhas, levantando sobrancelhas, arreganhando a boca, acentuando a mosca e arrebitando os bigodes — transformar naquela fisionomia lorpa e alvar que as revistas ilustradas divulgariam largamente, num país desmandibulado de gargalhadas.
Meu Pai e tio Salles malhavam a uma no adversário e reproduziam as anedotas que ocorriam sobre o futuro presidente. Nunca, jamais, homem público no Brasil passou por achincalhe igual. Tudo que se podia aplicar aos palermas, aos bocós, aos imbecis, aos idiotas, aos parvos, aos bacocós, era atribuído ao candidato militar. Velhos casos e casos recém-inventados corriam a cidade e o país, fazendo rebolar toda a população. E seria assim até o fim do governo. No princípio poupara-se a família e ninguém fizera uma só pilhéria com Dona Orsina, a primeira esposa do Marechal. Mas quando ele enviuvou e logo depois passou-se a segundas núpcias justamente com a caricaturista que engrossara onda de ridículo que afogara sua campanha e o início do seu quatriênio — a chalaça solta apossou-se também da D. Nair de Tefé e de seu pai, o velho Barão de Tefé, como já tinha tomado conta do Marechal e do mano Jangote." (NAVA, Pedro. Baú de ossos. São Paulo: Ateliê; São Paulo: Giordano, 1999. p. 355)
Rui, naquele tempo (pdf, 30 KB), por Carlos Drummond de Andrade. Crônica em que Drummond tematiza a imagem viva de Rui Barbosa guardada pelo escritor, quando criança em Minas. O narrador ressalta como era unânime a "sensação de força, de bravura e eletricidade moral" de Rui e sua Campanha Civilista, quando todos, inclusive o próprio menino Carlos, eram "civilistas, quer dizer, ruístas" e tinham a esperança de "erigir um Governo civil inspirado na justiça, na liberdade, na representação autêntica, na virtude".
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