Dra. Andriele Ferreira Muri Leite
Área
Educação
Tese
Letramento Científico no Brasil e no Japão a partir dos resultados do PISA
Orientadora
Alicia Maria Catalano de Bonamino
Coorientador
Tufi Machado Soares
Programa
Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC-RIO
Entrevista
Graduada em Biologia pela Universidade do Grande Rio (UniGranRio), participou do Teacher Training Program por um ano e meio no Japão. Fez seu mestrado em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ/FEBF) e doutorado na mesma área pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO). Hoje é professora do curso de Licenciatura em Educação do Campo, na Universidade Federal de Rondônia. Venceu o Grande Prêmio CAPES de Tese, com o trabalho “Letramento Científico no Brasil e no Japão a partir dos resultados do Pisa”.
De onde surgiu o interesse em trabalhar com o tema da sua tese?
O tema da minha tese era meu interesse de estudo já no retorno do Teacher Training Program, no Japão. O curso me ajudou muito a repensar minha prática enquanto professora de Ciências. Eu fiquei, e continuo, apaixonada pelo ensino de Ciências Japonês e queria muito conduzir um estudo comparativo com o Brasil. Levei essa proposta para o mestrado e ela foi aprovada, mas dois anos não dariam conta de abarcar tamanho objeto. Em conversas com minha orientadora na época, decidimos conhecer melhor o ensino de Ciências no Brasil através dos resultados do Pisa (Programme for International Student Assessment (Pisa) – Programa Internacional de Avaliação de Estudantes –, uma iniciativa de avaliação comparada, aplicada de forma amostral a estudantes matriculados a partir do 7º ano do ensino fundamental na faixa etária dos 15 anos, idade em que se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória na maioria dos países). A proposta de um estudo comparativo ficou então para o doutorado.
Como foi o processo de formulação da tese?
Estudamos os itens da prova, acreditávamos que a abissal diferença de desempenho entre Brasil e Japão no PISA podia ser explicada pelo próprio teste. Obviamente, comparamos alunos brasileiros e japoneses de mesma proficiência, mas o teste se mostrou um bom instrumento de comparação entre esses dois países. Os itens, as questões, da prova, de maneira geral, não beneficiavam um grupo em detrimento do outro. Ou seja, não conseguíamos explicar a diferença de desempenho apenas olhando para os dados. Foi então que vimos a necessidade de partir para o campo. Observei escolas no Japão e no Brasil. Escolas associadas às universidades aqui e lá. Observamos o uso do tempo, as ênfases curriculares, a frequência de experimentação, investigação, aplicação e interação nas aulas de ciências dos anos finais do Ensino Fundamental. Aplicamos questionários aos professores para triangular com a observação, entrevistamos especialistas em ensino de ciências no Japão para entender por que os japoneses se saem tão bem nas avaliações educacionais das quais participam, e gestores do PISA no Brasil e no Japão, preocupados principalmente com o uso que fazemos dos resultados desse exame que não custa barato aos cofres públicos.
Qual o impacto social da sua pesquisa?
Minha pesquisa tem impacto direto na educação básica do Brasil, principalmente no Ensino de Ciências que é reconhecidamente uma ferramenta para o desenvolvimento socioeconômico de uma nação. Defendemos o letramento científico no sentido de formamos cidadãos aptos a participarem ativa e criticamente nas discussões cada vez mais presentes na sociedade, principalmente àquelas relacionadas à Ciência e Tecnologia e ao desenvolvimento sustentável do planeta. Minha pesquisa traz contribuições da experiência japonesa. Obviamente que somos um país continental e que não cabe importarmos a metodologia deles, mas há lições a serem aprendidas. Por exemplo, precisamos repensar a cruel política da reprovação; rever a distribuição dos conteúdos de ciências nos anos escolares, principalmente nos iniciais, estar mais atentos ao uso do tempo de aula e a frequência com que usamos a experimentação e a investigação; investir na formação de professores em serviço, usar efetivamente os resultados das avaliações para pensar políticas públicas de melhoria da qualidade da educação e não para fins exclusivos de ranqueamento e responsabilização.
O que representa receber o prêmio CAPES de tese?
Representa reconhecimento. No nosso caso, representa o reconhecimento da pesquisa na área de Educação. É o reconhecimento do necessário financiamento com recursos públicos e da pesquisa que contribui para a elaboração de políticas públicas de melhoria da qualidade da educação do nosso país. Já receber o Grande Prêmio é ganhar o óscar da academia. Guardo minha estatueta com muito orgulho e carinho, dividindo-a com todos aqueles que direta ou indiretamente participaram da pesquisa.
Vídeo
(Brasília – Lucas Brandão para CCS/CAPES)
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