Dra. Adriana Stankiewicz Serra
Área
Economia
Tese
Pobreza multidimensional no Brasil rural e urbano
Orientador
Walter Belik
Programa
Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Econômico da UNICAMP
Entrevista
Formada inicialmente em Engenharia Industrial Elétrica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, fez especialização em Gestão Econômica de Negócios, o que a levou à sua segunda graduação: Economia. Com mestrado em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná, começou a dar aulas de economia e foi fazer seu doutorado no Instituto de Economia da Universidade de Campinas, UNICAMP, onde desenvolveu a tese “Pobreza multidimensional no Brasil rural e urbano”, agraciada com o Prêmio CAPES de Tese 2018.
De onde surgiu o interesse em trabalhar com o tema do seu projeto?
Na verdade, a pobreza tem a ver com a minha própria história. Venho de uma família de origem bastante humilde, no interior do Paraná. Desde que comecei a estudar o desenvolvimento socioeconômico e a ler sobre a pobreza, teve um artigo do José Graziano da Silva sobre a fome – que eu li no Valor Econômico –, e o livro “O fim da pobreza”, de Jeffrey Sachs, que foram duas leituras fundamentais para mim. A partir daí eu decidi que era isso que eu queria estudar e me aprofundar. Então, desde a graduação, eu leio bastante sobre pobreza. Passei a ler bastante os relatórios do Banco Mundial, das Nações Unidas, e essa tem sido minha linha de pesquisa tanto no mestrado como no doutorado, chegando à tese.
Como foi o processo de criação da sua tese?
Eu já tinha bastante leitura sobre o tema no Brasil e vi que a maior parte da literatura tratava da pobreza como insuficiência de renda. Entretanto, existe uma literatura internacional muito rica, tratando da pobreza multidimensional, em outras dimensões além da renda. Eu tive uma experiência, graças à CAPES, que foi fundamental para esse resultado: fiz um ano do meu doutorado na Inglaterra, participei do Programa de Doutorado-Sanduiche no exterior, com a bolsa da CAPES, e lá eu tive um orientador que é especialista em medidas de pobreza. Isso foi fundamental para a tese ter chegado a esse resultado.
E qual é o diferencial da sua tese?
Contribuir no sentido de ir além da pobreza de renda. Isso traz uma discussão sobre a metodologia que vem sendo usada internacionalmente, propõe novos indicadores para o acompanhamento e políticas públicas relacionadas à redução da pobreza no Brasil. Além disso, mostra que, embora não tenhamos avançado muito no aspecto da renda ao longo dos anos 2000, avançamos em todos os indicadores de padrão de vida, já relacionados primordialmente a condições de moradia e também de educação. Embora os avanços sejam notáveis, nós ainda temos muitas desigualdades entre o campo e a cidade, então o foco da tese foi justamente mostrar essas disparidades entre as áreas rurais e urbanas. Apesar de termos avançado, principalmente, graças ao programa do governo federal ‘Luz Para Todos’, que expandiu significativamente o acesso à energia elétrica nas áreas rurais, ainda temos muitos desafios, especialmente em saneamento e educação.
Você falou da diferença entre áreas urbanas e rurais, em que âmbito permeia essas diferenças?
Em todos os indicadores sem exceções – sejam indicadores de renda, de condição, de moradia, de saneamento, assistência elétrica e educação –, mas, principalmente, educação da população adulta, acima de 25 anos, a disparidade é muito grande. O saneamento também acaba sendo um problema mais grave nas áreas rurais. Quando eu falo de saneamento, eu falo sobre ter água encanada dentro de casa, ter um banheiro exclusivo do domicílio. Embora os avanços existam, em qualquer indicador que se analise, ainda nas áreas rurais as privações são muito maiores.
Qual o impacto social da sua tese?
Em primeiro lugar, contribui para preencher uma lacuna na literatura, no sentido de contribuir na análise da pobreza em outras dimensões além da renda; também pode contribuir para a elaboração de políticas públicas porque, às vezes, a renda só não é suficiente para a redução da pobreza. Somente a renda não dá conta de resolver outros problemas, como a educação básica.
O que representa receber o prêmio CAPES de tese?
Foi uma grande surpresa, uma grata surpresa. Em primeiro lugar, por se tratar de uma tese na área de economia, mas voltada para o tema da pobreza. Isso foi muito importante. Pessoalmente foi uma realização enorme, porque eu sou a primeira pessoa da minha família a cursar uma universidade, a fazer um doutorado... então, receber esse prêmio foi algo muito especial.
Vídeo
(Brasília – Lucas Brandão para CCS/CAPES)
A reprodução das notícias é autorizada desde que contenha a assinatura CCS/CAPES