Dr. Lucas Manassi Panitiz
Área
Geografia
Tese
Redes musicais e [re]composições territoriais no Prata: por uma Geografia da Música em contextos multi-localizados
Orientador
Álvaro Luiz Heidrich
Programa
Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRGS
Entrevista
Fez sua carreira acadêmica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), desde o ensino técnico até a conclusão do doutorado. Nesta última etapa de sua formação teve a oportunidade de ficar 12 meses na França, período em que dividiu seu tempo entre a Université Bordeaux 3 e a Université Paris-Sorbonne, onde se aprofundou nos estudos sobre geografia, música e cultura e fez diversos trabalhos em campo, acompanhando músicos brasileiros que vivem no exterior.
Sua tese ”Redes musicais e [re]composições territoriais no Prata: por uma geografia da música em contextos multi-localizados”, lhe rendeu um dos prêmios CAPES de Tese 2018.
De onde surgiu o interesse em trabalhar com o tema da sua tese?
A música é um tema que me acompanha desde a infância, sendo filho de um pai músico. Com o tempo me tornei também músico amador e ao longo da minha formação acadêmica me tornei músico profissional. Sendo algo tão presente na minha vida, sempre foi um interesse unir essas duas paixões - Geografia e Música. Da mesma forma, o objeto de pesquisa da tese reflete uma realidade muito presente no sul do Brasil, que é a conexão com Argentina e Uruguai. Aprofundei meus estudos sobre as relações históricas entre os três países e seus reflexos na cultura, no intuito de responder uma questão muito debatida no ambiente cultural e acadêmico do Rio Grande do sul.
Como foi o processo de formulação da tese?
A pesquisa nasceu como objeto de um trabalho de fim de disciplina. Posteriormente foi realizado o TCC e mantive o tema na dissertação. No momento da qualificação a banca me indicou para mudança de nível ao doutorado. Esta tese, portanto, tem um acúmulo de 10 anos ininterruptos de pesquisa sobre o mesmo tema. Isso, sem dúvida, contribuiu para uma visão ampliada do objeto de estudo e a verticalização da pesquisa.
Qual a importância social da sua pesquisa?
A pesquisa teve dois impactos. Um foi no âmbito acadêmico, pois a dissertação já havia sido premiada em 2011 pela Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Geografia. Da mesma forma, ela foi importante na aproximação dos estudos em Geografia e Música, efeito que é notado pela quantidade considerável de citações em artigos, teses e dissertações.
A outra questão ocorreu no âmbito cultural e musical, com dois desdobramentos importantes: o longa metragem “A Linha Fria do Horizonte” (2014), baseado em partes do meu TCC e dissertação, filme do qual fiz parte da equipe de elaboração do argumento de gravação. Em seguida houve o reconhecimento de alguns artistas da pesquisa, por terem sido motivados pelas reflexões da mesma. Isso transparece na tese de doutorado do compositor brasileiro Richard Serraria e no DVD-Livro do compositor uruguaio Daniel Drexler. Esses desdobramentos ajudaram a colocar em discussão a questão da integração latino-americana por meio da música e o papel dos músicos e produtores culturais nesse processo.
O que representa receber o prêmio CAPES de tese?
Receber o prêmio CAPES tem duas importantes mensagens para mim. A primeira, claro, vem do reconhecimento de uma pesquisa tão longa e com tanto comprometimento acadêmico e pessoal. Sem dúvida isso nos impulsiona agora com mais força para abrirmos novos caminhos de diálogo no âmbito cultural. A segunda diz respeito à minha origem social. Ter nascido no subúrbio de Porto Alegre, filho de pais que não tinham completado o ensino básico, tendo ascendido social e intelectualmente por meio do estudo, tem um significado especial na importância da educação pública da minha vida. Meu percurso se deu inteiramente na escola e na universidade pública e fui beneficiado pelas políticas de assistência estudantil. Depois, como profissional, fui diretamente impactado pelo aumento de vagas docentes em universidades federais, me tornando funcionário público federal na UFPel e depois na UFRGS. Portanto, ganhar esse prêmio é a certeza de que sólidas políticas de investimento público podem impactar diretamente a vida das pessoas que vieram das classes baixas do país. Me sinto orgulhoso por isso, e também porque tributo esse prêmio à rede de relações solidárias e generosas as quais me impulsionaram na trajetória científica.
Vídeo
(Brasília – Lucas Brandão para CCS/CAPES)
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