Dr. Andrey Coatrini Soares
Área
Materiais
Tese
Filmes nanoestruturados aplicados em biossensores para detecção precoce de câncer de pâncreas
Orientador
Osvaldo Novais de Oliveira Junior
Programa
Programa de Pós-Graduação em Ciências e Engenharia de Materiais da USP/SC
Entrevista
Físico formado pelo Instituto de Física de São Carlos, na Universidade de São Paulo (IFSC-USP), com mestrado e doutorado em Ciências e Engenharia de Materiais pela Escola de Engenharia da mesma instituição, iniciou sua carreira acadêmica durante o estágio de iniciação científica (IC), logo no primeiro ano de graduação. Atuou, desde aquela época, no Grupo de Polímeros Bernhard Gross, junto ao Prof. Osvaldo Novais de Oliveira Junior e à Profa. Débora Gonçalves, desenvolvendo filmes nanoestruturados para diversas aplicações, que vão desde a engenharia de tecidos até o uso nos diagnósticos precoces para detecção de diversos tipos de cânceres, como o de mama ou o de cabeça e pescoço, mas, especialmente, o câncer de pâncreas, objeto de estudo da sua tese de doutoramento, cujo título é “Filmes nanoestruturados aplicados em biossensores para detecção precoce de câncer de pâncreas”.
De onde surgiu o interesse em trabalhar com o tema da sua tese?
A principal área do Grupo de Polímeros Bernhard Gross é o desenvolvimento de filmes nanoestruturados para diversas aplicações, dentre elas a eletrônica orgânica, estudo da ação de fármacos/materiais em membranas celulares além de sensores para detecção de doenças e poluentes ambientais. Entretanto, o alto custo de diagnósticos para câncer, aliado à característica silenciosa da doença (ou seja, o tumor só é detectado num estágio avançado), motivou nosso núcleo de pesquisa a aplicar técnicas já utilizadas em outras áreas do mesmo grupo no desenvolvimento de um diagnóstico de câncer de pâncreas miniaturizado, de baixo custo, que rastreasse biomarcadores moleculares em amostras de fluido corporal em cerca de 8 minutos.
Como foi o processo de formulação da tese?
A formulação da tese de doutoramento foi baseada em trabalhos prévios realizados entre o IFSC-USP e o Hospital de Câncer de Barretos, no desenvolvimento de um diagnóstico precoce para a detecção de câncer de mama. A partir do sucesso dos resultados alcançados neste trabalho, do interesse do Hospital de Câncer de Barretos e seus profissionais em trabalhar com outros tipos de biomarcadores e da característica silenciosa do câncer de pâncreas, um grupo de 12 profissionais, de diferentes áreas, atuaram diretamente na formulação do trabalho, explorando principalmente o estudo sobre arquiteturas moleculares poliméricas que pudessem futuramente ser utilizadas em dispositivos implantáveis e que também fossem de fontes naturais, para auxiliar no baixo custo final do diagnóstico.
E qual foi o produto final disso?
Bom, a partir do sucesso dos testes iniciais em amostras sintéticas, amostras de sangue de 25 pacientes do Hospital de Câncer de Barretos foram analisadas em “testes cegos” para validação final do biossensor. Atualmente o biossensor está sendo patenteado, juntamente com outros dispositivos já construídos pelo grupo.
O que sua tese traz de diferente daquilo que já é visto na literatura?
A principal contribuição científica da tese foi o processo de miniaturização dos biossensores e o controle molecular usando caracterização das arquiteturas para assim melhorar as características das unidades de sensoriamento, tais como seletividade, sensibilidade e controle de falsos positivos em amostras de fluidos de pacientes, como sangue, suor e lágrima. O dispositivo construído apresentou sensibilidade suficiente para rastrear os biomarcadores CA 19-9, sem falsos positivos e negativos, permitindo a futura disponibilização dos sensores no sistema público de saúde com transferência de tecnologia.
Qual o impacto social da sua pesquisa?
Com relação ao diagnóstico do câncer de pâncreas, o maior problema é característica silenciosa da doença, ou seja, o tumor só é detectado num estágio avançado. Por isso este tipo de câncer possui a maior taxa de mortalidade, segundo dados da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer, IARC (99,3%). Além disto, o custo atual do diagnóstico comercial aliado ao tempo de detecção do tumor, é um problema para o paciente. Estes foram os principais fatores que induziram a nossa escolha para desenvolvermos um biossensor miniaturizado, de baixo custo e rápida detecção. Algo que pudesse ser disponibilizado para a população e também ser implementado em consultórios e hospitais, permitindo que o corpo clínico, por exemplo, tome decisões relativas ao tratamento do paciente ou analise a eficiência de um processo de quimioterapia, sem a necessidade do uso de diagnósticos invasivos.
O que representa receber o prêmio CAPES de tese?
Dentre tantas teses de excelente qualidade que foram avaliadas, ter o trabalho reconhecido pela CAPES é motivo de orgulho para nosso grupo de pesquisa. Mostra que o trabalho caminha no rumo correto e atesta a excelência da equipe envolvida durante os quatro anos de desenvolvimento da tese. Tal destaque alcançado pelo trabalho é fruto do esforço de todos os profissionais do Grupo de Polímeros Bernhard Gross do IFSC-USP, do Hospital de Câncer de Barretos e do Laboratório de Microfabricação (LNNANO/CNPEM). Somos uma equipe competente e coesa, que busca, de alguma forma, retornar à população o investimento feito em nossa formação, com um produto acessível à sociedade e que auxilie na sobrevida dos pacientes.
Vídeo
(Brasília – Lucas Brandão para CCS/CAPES)
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