Dr. André Luiz Nunes Gobatto
Área
Medicina III
Tese
Tese: Avaliação da traqueostomia percutânea guiada por ultrassonografia quando comparada à traqueostomia percutânea guiada por broncoscopia.
Orientador
Luiz Marcelo Sá Malbouisson
Programa
Programa de Pós-Graduação em Anestesiologia da USP
Entrevista
André Luiz Nunes Gobatto, médico intensivista formado na universidade federal da Bahia. Fez residência em clinica medica e medicina intensivista na universidade de São Paulo, com doutorado pela mesma instituição. Com o projeto “Avaliação da traqueostomia percutânea guiada por ultrassonografia quando comparada à traqueostomia percutânea guiada por broncoscopia”, conversamos com o André:
O que é a traqueostomia?
A traqueostomia é um procedimento bem simples, que é realizado às vezes até na beira do leito na UTI. Ajuda os pacientes a sair da respiração mecânica e respiração mecânica prolongada, esse procedimento pode ser feito de três formas, entre elas a técnica clássica que é a traqueostomia cirúrgica, realizada no set cirúrgico pelo cirurgião e a segunda é a traqueostomia percutânea, é uma técnica um pouco mais recente e rápida, pode ser feita a beira do leito e está associada ao menor risco de sangramento e infecção. A traqueostomia percutânea, muitas vezes precisa de uma técnica guia pra ajudar a por o ponto, por se um procedimento as cegas era necessário o auxilio da broncoscopia, que é uma câmera que entra pelo túbulo traqueal, permitindo a visibilidade diretamente. Entretanto todo esse processo demorava muito, porque necessitava de dois médicos para realizar o procedimento, um na broncoscopia e o outro na traqueostomia. Esse paciente demorava uma semana ou até mais pra sair da UTI.
Como surgiu o projeto?
Na época, lá na universidade de são Paulo, percebemos que os pacientes que eram indicados à traqueostomia na UTI demoravam muito tempo pra fazer o procedimento. Então, introduzimos uma nova técnica, com poucos pacientes descritos na literatura. Tivemos inicialmente um trabalho mais observacional com 60 pacientes, sendo 49 com a traqueostomia guiada pelo ultrassom e 11 com a broncoscopia.
Quais foram os resultados?
Os testes mostraram as mesmas taxas de complicação, porém com o tempo reduzido de realização do procedimento, em seguida, programamos um ensaio clínico randomizado, com 102 pacientes, obtendo a resposta de que a traqueostomia percutânea guiada pela ultrassonografia é tão eficaz e segura quanto à traqueostomia percutânea guiada pela broncoscopia. A partir disso, essa técnica passou a ser a técnica padrão utilizada lá no hospital, e não só lá, tivemos contatos com outros lugares do mundo inteiro, como Colômbia, Turquia, Itália e do Brasil.
De onde surgiu o interesse em trabalhar com o tema?
Não era uma pretensão minha fazer doutorado, mas sempre fui um apaixonado em pesquisa. Acho que principalmente para um médico, para ser completo, tem de fazer ensino, realizar uma assistência de boa qualidade e tem que fazer pesquisa. Faz parte do conceito médico, passar conhecimento, ensinar e fazer pesquisa, tá dentro do que eu entendo como esse conceito de medicina.
Durante a residência sempre fui hábito para tentar fazer pesquisa e mudar aquilo que me incomodava ao meu redor, mas mudar isso atrelado à ciência. Uma vez que começamos a fazer a pesquisa, surgiu à oportunidade, de atrelar essa pesquisa a um doutorado, iniciado durante a residência, o que é um fator bem incomum na área médica. Durante a especialização, já fazendo à segunda, que era o doutorado, fique muito feliz, porque eu consegui unir as duas coisas. Ter feito isso durante a residência foi algo que me deixou muito feliz.
Visto que o produto da sua tese é efetivo, quais são os próximos passos?
A gente vem conseguindo implementar no dia a dia. Na verdade, o trabalho nós terminamos em 2015, de lá pra cá essa técnica nova já virou padrão na instituição onde a gente trabalha. Fora as clínicas, tem a universidade de são Paulo e tem sido difundida mundo a fora para implementar uma prática em difusão do conhecimento.
Qual o impacto social da sua tese?
Essa técnica depois da publicação do trabalho passou a ser mais utilizada. O que eu acho mais interessante da tese foi que o próprio hospital percebeu uma mudança de comportamento muito interessante, onde mesmo durante o trabalho os pacientes preferiam fazer a traqueostomia guiada por ultrassonografia, porque poderia ser feito mais rapidamente e só precisa de um médico. Todo o procedimento do ultrassom é muito mais rápido, ele pode ser feito no próprio leito do paciente, também conseguimos perceber que o número de pacientes atendidos aumentou, porque as pessoas não precisavam ficar esperando a traqueostomia, você fazia a traqueostomia, um ou dois dias depois o paciente já estava na enfermaria e outro paciente poderia ser admitido.
A pesquisa do meu trabalho e a técnica nova ajuda não só os pacientes que participaram da pesquisa, mas os pacientes que foram submetidos ao procedimento e quem sabe, milhares de outros pacientes que se beneficiaram dessa maior rotatividade, maior atendimento, maior eficácia nos atendimento dos leitos, nas UTIs e nos sistemas públicos de saúde.
O que representa pra você receber o prêmio CAPES?
Eu encarei isso como uma surpresa. Realmente não esperava, tinha noção que o trabalho tinha sido bem executado e aceito, mas eu não tinha a dimensão que poderia receber um prêmio por isso. Eu fiquei inicialmente muito surpreso e feliz, é uma honra o reconhecimento e todo trabalho que foi realizado, não só por mim, mas por toda equipe que participou do projeto. Penso que esse projeto não teria saído se não tivesse tido o envolvimento de várias pessoas. Então esse prêmio veio pra coroar esse projeto que nasceu comigo, mas que envolveu toda a equipe da UTI do hospital, entre outras pessoas.
(Brasília – Lucas Brandão para CCS/CAPES)
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