Dr. André Fróes de Borja Reis
Área
Ciências Agrárias I
Tese
Rice performance, water and nitrogen efficiency in different irrigation regimes in tropical lowland
Orientador
José Laércio Favarin
Programa
Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia da USP/ESALQ
Entrevista
Engenheiro agrônomo formado pela Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP). Trabalhou em uma empresa de consultoria, tornando-se responsável por estratégias técnicas do sistema de produção em Tocantins, Maranhão, Piauí e Pará. Cursou seu mestrado em 2011 e, em 2013, iniciou o doutorado, onde construiu a tese “Rice performance, water and nitrogen efficiency in different irrigation regimes in tropical lowland”.
De onde surgiu o interesse em trabalhar com o tema da sua pesquisa?
Como eu era agrônomo atuante na região, desenvolvendo estratégias técnicas, frequentemente me deparava com perguntas para as quais não conseguia encontrar o embasamento literário, por ser uma região única, muito diferente e pouco utilizada para produção agrícola brasileira. Os desafios eram grandes e muitos deles eu conseguia resolver parcialmente com experimentação em campo, mas existia um tema que era a pergunta mais importante e que mais impactava a sustentabilidade, a viabilidade econômica daquele sistema de produção, que era exatamente a relação entre economia de água e como que um dos principais nutrientes da cultura do arroz, que é o nitrogênio, se relacionavam. Eu precisava desenvolver um estudo que propusesse economia de água, mas que não afetasse negativamente a absorção desse nutriente importante para a cultura, além de oferecer um desempenho de cultura superior à que havia naquela época. O que me motivou a buscar esse tema, e foi o alvo da tese, foi a produtividade de água e a produtividade de arroz em razão de diferentes lâminas de irrigação; foi entender que existia um grande problema a ser respondido no sistema de produção. Por esse motivo decidi fazer meu doutorado: para responder a essa pergunta.
Sua hipótese inicial foi aquilo que você obteve no final?
A hipótese foi sim validada. Foi possível economizar água e aumentar a utilização do nutriente pela cultura do nitrogênio, mas tivemos uma grata surpresa de conseguir uma produtividade maior do que a obtida nos sistemas convencionais de irrigação. O sistema gastava muita água e, de certa forma, estava prejudicando o desenvolvimento da planta. Isso era algo difícil de aceitar, porque toda literatura cientifica disponível até aquele momento era de que o melhor sistema de irrigação para a cultura do arroz deveria ser a lâmina contínua, mesmo que ela gastasse muita água. Então, quando se propôs esse sistema de irrigação que economizasse água, mas que não impactasse a produtividade, nós conseguimos a economia de água e o aumento da produção. Nós estávamos no local correto quando formulamos a hipótese, mas o resultado foi ainda melhor do que imaginamos.
Como foi o processo de elaboração da sua tese?
No decorrer do desenvolvimento da tese, durante três anos, foram feitos experimentos de campo com diferentes sistemas de irrigação. Desde o primeiro ano já era perceptível, nos campos experimentais, que o desempenho estava sendo maior com o tratamento que utilizava menos água. Começamos a fazer diversos eventos de transferência de tecnologia de extensão demonstrando, ainda que inicialmente, que aquele sistema de economia de água estava proporcionando uma maior produtividade. No segundo ano nós intensificamos o trabalho: fizemos dias em campo, em parceria com a Embrapa e a entidade local de produtores. Já no terceiro ano, promovemos um encontro com as universidades, com estudantes de agronomia, para verem o quanto aquela técnica estava sendo testada e como que isso estava sendo positivo para o sistema produtivo. Durante o desenvolvimento da tese, houve bastantes dias de campo, eventos de extensão, para já demonstrar os resultados. Após o desenvolvimento da tese, já em fase de conclusão de resultados, houve palestras na região. Eu faço parte do comitê da bacia hidrográfica da região, onde trabalhamos para difundir a técnica às regiões limítrofes, mostrando como essa técnica de irrigação pode ser utilizada em diferentes regiões.
Agora que o seu produto foi bem aceito e é eficaz, quais são os próximos passos?
Eu continuo com a linha de pesquisa em existência do uso de água e nitrogênio; faz parte hoje do meu pós-doutorado. Nós estamos vislumbrando essas relações hídricas para um ganho maior de tipos de solos e climas. É um trabalho que só iniciamos no universo de elucidação de processos e de avanço da ciência, mas a gente conseguiu até agora fazer com que essa informação chegasse ao produtor a ponto de a maioria dos produtores dessa região já usar essa técnica de irrigação com um menor índice de água.
Qual o impacto social do produto da sua tese?
O impacto social é muito grande. O conflito da utilização da água e a demanda social em que os produtores fazem o bom uso de um recurso hídrico existem em muitos lugares do Brasil e do mundo. Todos estão atentos a essa questão da utilização da água e assim fazer um uso mais profissional dela, proporcionando o aumento da produtividade por meio de uma redução do uso deste recurso. É uma técnica que favorece aqueles que dependem do sistema produtivo, mas também à população que está em contato com aquele recurso hídrico. Nós conseguimos projetar benefícios para populações que dependem, por exemplo, de recursos pesqueiros. Economizar água em uma região irrigante proporciona benefícios para toda a cadeia social.
O que representa receber o prêmio CAPES?
Receber o prêmio é um reconhecimento em nível nacional, é o mais importante dos programas de pós-graduação e vem premiar um trabalho que foi reconhecido pela ciência, que foi reconhecido pelos produtores e que agora esta sendo reconhecido pelo ministério que financiou a pesquisa. É o nível de reconhecimento institucional que tem o poder de mostrar para a sociedade o quão importante é o investimento público em pesquisa. É a consagração de que o resultado da pesquisa conseguiu abarcar tanto o avanço da ciência, como desenvolvimento regional e recompensar a sociedade com o investimento realizado.
Vídeo
(Brasília – Lucas Brandão para CCS/CAPES)
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