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Último dia de evento debate a prática da interdisciplinaridade em grupos de pesquisa
A prática da interdisciplinaridade em grupos e redes de pesquisa no Brasil e no exterior foi o tema do último dia do 3º Encontro Acadêmico Internacional – Interdisciplinaridade nas Universidades Brasileiras – Resultados e Desafios . Uma primeira mesa compartilhou a experiência de grupos de pesquisa no país e em seguida o diretor de Pesquisa do Centro Nacional da Pesquisa Científica da França, Claude Raynaut, ampliou a perspectiva sobre a discussão da interdisciplinaridade na pesquisa. O evento aconteceu no edifício-sede da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em Brasília.
O Secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Carlos Afonso Nobre destacou os esforços do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (
IPCC
) e outras ações de estudo do aquecimento global como a Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas (
Rede Clima
) e do
Painel Brasileiro de Mudanças Cllimáticas
como grandes redes de produção de conhecimento interdisciplinar.
Para Nobre, é importante que a pesquisa que reúne diversas disciplinas para pensar a complexidade dos problemas contemporâneos atue na criação de políticas públicas. "Devemos mudar a maneira de produzir conhecimento, devemos produzi-lo junto aos tomadores de decisão e essa pode ser um dos pontos do desenvolvimento interdisciplinar", explicou.
Ao contar sobre a experiência do grupo de trabalho que atua sobre a problemática da seca no Nordeste brasileiro, Carlos Afonso Nobre, reafirmou as potencialidades do conhecimento interdisciplinar. "A pós-graduação tem que ser ousada, não podemos repetir os mesmos erros. Temos que gerar muitos novos conhecimentos para gerar sustentabilidade e erradicação da pobreza no Nordeste. Precisamos de indução, pesquisas que desafiem o status quo e abram novos caminhos", concluiu.
A experiência com a criação de conhecimento interdisciplinar para estudo das mudanças climáticas também marcou a fala do professor da Universidade da São Paulo (USP), Tercio Ambrizzi, Coordenador Geral do INCLINE (Interdisciplinary Climate Investigation Center). "Os temas ambientais tem que ter esse caráter interdisciplinar por conta de sua complexidade. A multidisciplinaridade permite o estabelecimento de ligações dentro de perspectivas diferentes. Estamos encarando o desafio de que os cientistas das diferentes áreas possam atuar em conjunto para que possamos avançar juntos", ressaltou.
Experiência concreta
Com o título "Interdisciplinaridade, lições de uma experiência concreta", o diretor de pesquisa do Centro Nacional da Pesquisa Científica da França, Claude Raynaut, apresentou uma palestra em que trouxe alguns conceitos para a área. "A interdisciplinaridade começa quando duas disciplinas trabalham juntos para resolver problemas em comum. Não se dá apenas pela aproximação de diferentes disciplinas, mas sim na produção de conhecimentos que não existiam antes, para resolver problemas híbridos, complexos. Não é apenas a transmissão de conhecimentos já estabelecidos por diferentes áreas", definiu.
O antropólogo francês tem longa experiência de cooperação no Brasil, participando inclusive da criação de alguns dos primeiros programas de pós-graduação interdisciplinares no país. Em sua fala, Raynaut enumerou algumas das dificuldades e fez uma defesa do conhecimento interdisciplinar genuíno. "Muitas das barreiras que existem entre as ciências sociais são um pouco artificiais. Compartilhamos objetos e metodologias, as barreiras são mais institucionais e burocráticas do que conceituais. A interdisicplinaridade não pode ser apenas uma bandeira, uma moda ou uma maneira de captar recursos", enfatizou.
Encerramento
Durante a tarde, aconteceu a síntese das discussões, proposições e encaminhamentos dos painéis 1 a 7 e das palestras 1 a 3. Foram apontados como pontos fortes levantados durante as discussões as experiências já existentes em ensino, pesquisa e extensão ligados à área interdisciplinar. Questões como a revisão das normativas da carreira docente, atração de jovens para essas carreiras, a internacionalização da área, a veiculação de trabalhos da área e classificação de periódicos foram assinalados como desafios.
No fim do dia, participaram da palestra de encerramento o diretor de Avaliação da Capes, Lívio Amaral, o pró-reitor adjunto de Pós-graduação da Universidade de São Paulo (USP), Arlindo Philippi Jr., e o pró-reitor de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), Jorge Audy, que trataram sobre questões levantadas no encontro e sobre temas do Plano Nacional de Pós-graduação (PNPG). Finalizando o evento, Arlindo pediu a colaboração de todos para colocarem em prática os debates do evento. "Temos agora o compromisso de implementar as discussões para atingir a internalização da interdisciplinaridade."
(Pedro Arcanjo e Natália Morato)