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PRÊMIO CAPES DE TESE
Tratamento de lesões da leishmaniose cutânea é tema de pesquisa
O trabalho de Maurício Nascimento venceu a edição de 2024 do Prêmio CAPES de Tese na área de Medicina 1. Doutor pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), o pesquisador, que foi bolsista da Fundação no doutorado, analisou, por meio do reaproveitamento de fármacos, tratamento com forte potencial anti-inflamatório contra lesões provocadas pela leishmaniose cutânea. A tese tem como título “Estudo de vias de regulação da resposta inflamatória de pacientes com leishmaniose cutânea causada por L. braziliensis”.
- Fale da sua trajetória acadêmica, da graduação ao doutorado.
A minha vida acadêmica iniciou em 2011 quando optei cursar Farmácia pelo Centro Universitário Estácio da Bahia. Neste período, trabalhava como auxiliar administrativo de laboratório na Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Estado para poder pagar a faculdade. No trabalho, conheci Patrícia Cisneiros, uma bióloga que tinha acabado de concluir o mestrado e estava iniciando o doutorado em um grupo de pesquisa científica voltada para as leishmanioses. Em 2014, ela me apresentou ao professor Lucas Carvalho que aceitou me orientar como estudante de iniciação científica no Serviço de Imunologia do Hospital das Clínicas de Salvador, onde tive o primeiro contato com a pesquisa científica. Embora, eu tenha conseguido adentrar no meio científico, diversas dificuldades financeiras já vinham distanciando o sonho da graduação. De forma inesperada, o coordenador e professor do curso de farmácia da Estácio, professor Fábio Sanches, me ligou informando que eu teria conseguido uma bolsa remanescente integral do ProUni, permitindo assim que eu pudesse me dedicar por completo a vida acadêmica e científica. No final de 2016, conclui a graduação em Farmácia e fui aprovado no processo seletivo para o mestrado em Ciências da Saúde da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Durante o mestrado fui bolsista da Fapesb e avaliei os efeitos do ômega 3 (EPA/DHA) na regulação da resposta inflamatória de pacientes com leishmaniose cutânea causada pela L. braziliensis. No doutorado, optei em seguir a mesma linha de pesquisa, avaliando sempre as vias de regulação da resposta inflamatória em pacientes com leishmaniose cutânea e buscando sempre descobrir novos alvos terapêuticos que possam contribuir para a cura precoce dos pacientes acometidos por esta doença.
Sobre o que é a sua pesquisa? Explique o conteúdo da sua tese.
A leishmaniose cutânea (LC) é uma doença infecciosa transmitida ao homem através da picada de flebotomíneos (mosquitos) infectados com parasitos do gênero Leishmania. É caracterizada por uma ou mais lesões de bordas elevadas, fundo granulomatoso e um intenso processo inflamatório no local da lesão. Na Bahia, o vilarejo de Corte de Pedra, localizado no distrito de Tancredo Neves, é considerado uma área endêmica para leishmanioses, onde cerca de mil casos são notificados por ano. No trabalho, avaliamos três vias de sinalização celular e que poderiam ter um grande potencial de resolução da inflamação. Inicialmente, analisamos um tipo de sinalização entre as células da resposta imune conhecida pelo nome de Notch. Essa sinalização controla uma série de funções celulares em mamíferos, incluindo o destino celular, a produção de citocinas, a ativação e proliferação celular. Dessa forma, resolvemos investigar como o Notch poderia estar envolvida na regulação da resposta inflamatória de pacientes com LC. Primeiramente, descobrimos que a sinalização por meio do receptor Notch 1 parecia estar associada a proteção dos pacientes contra a resposta inflamatória. Em seguida, mostramos que a utilização do composto chamado JLK6, um inibidor seletivo da gama-secretase que não interfere na sinalização Notch e que foi proposto para o tratamento do Alzhemeier no passado, demonstrou ser capaz de diminuir a resposta inflamatória in vitro, sem alterar o número de leishmanias dentro das células da resposta imune. Depois, vimos alguns estudos demonstraram que medicamentos para tratamento da diabetes mellitus são capazes de modular a resposta imune contra parasitos intracelulares, incluindo a leishmania.
O que vale destacar de mais relevante na sua pesquisa? De que forma a sua pesquisa pode contribuir para a sociedade?
Embora não exista uma vacina e a droga recomendada pelo Ministério da Saúde para o tratamento da LC parece não ser muito eficaz, onde cerca de 50 a 70% dos pacientes falham a terapia, nosso estudo mostrou por meio do reaproveitamento de fármacos que existem substâncias com forte potencial anti-inflamatório e que não implicam na multiplicação e disseminação dos parasitos, podendo contribuir significativamente para o tratamento da LC por meio de uma terapia adjuvante.
Qual a importância para você de sua tese ter sido escolhida a melhor na área?
Ter a minha tese selecionada como a melhor na área de Medicina I foi literalmente algo inesperado, devido ao grande número de trabalhos de excelência desenvolvidos por outros estudantes e em outras instituições, mas também por marcar a minha história acadêmica e científica. O Prêmio CAPES é considerado o Oscar da ciência brasileira e poder deixar o meu nome junto dos melhores é algo que me traz um sentimento de superação, devido a todas as dificuldades que enfrentei até chegar aqui. Acredito que essa minha humilde trajetória na ciência possa encorajar outros estudantes a alcançarem os seus sonhos e um dia poder compartilhar desse momento único e mágico com seus amigos, familiares e principalmente com a sociedade.
De que forma a bolsa da CAPES contribui para sua formação?
Durante o meu doutorado fui bolsista da CAPES e posso dizer com convicção que através dela eu pude participar de outros eventos científicos, divulgando os trabalhos que vínhamos desenvolvendo com leishmaniose, trocando experiências com outros pesquisadores em congressos e assim aperfeiçoando os meus conhecimentos. Adicionalmente, não posso deixar de citar que através da bolsa da CAPES, eu pude tirar o meu sustento e dos meus dois filhos, além de contribuir para a formação educacional deles.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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