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Tamanho e isolamento de climas tropicais favorecem biodiversidade
Marco Túlio Pacheco Coelho é graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG), mestre e doutor em Ecologia e Evolução pela Universidade Federal de Goiás (UFG), mesma instituição na qual cursou o primeiro pós-doutorado. Foi bolsista CAPES no doutorado, com período sanduíche na Universidade Estadual do Colorado, nos Estados Unidos. Desde 2021, está no Instituto Federal Suíço de Pesquisa Florestal, da Neve e da Paisagem (WSL). Na última semana, o pesquisador teve um artigo publicado na Nature, que trouxe novos elementos para explicar a biodiversidade do planeta, em especial nas regiões de clima tropical.
Quais os principais resultados/conclusões do estudo?
Nós concluímos que o clima, juntamente com suas características geográficas, pode explicar quase toda a variação que observamos na diversidade de espécies, em diferentes tipos climáticos do mundo. Surpreendentemente, cerca de um terço dessa variação pode ser atribuído apenas às características geográficas do clima. Além dos fatores habituais de calor e umidade, percebemos que climas maiores e mais isolados promovem uma diversidade de espécies ainda maior. Por serem expansivos e isolados, não só abrigam uma quantidade mais significativa de espécies, como proporcionam um conjunto de vida mais singular. Nossa pesquisa também desafiou a noção tradicional de climas tropicais, indicando que eles se manifestam mais como ilhas fragmentadas em meio a uma vasta diversidade de climas.
Como essas descobertas podem nos ajudar em um contexto de mudanças climáticas?
Diante da ameaça das mudanças climáticas, nossas descobertas se tornam ainda mais relevantes. Com o rápido aquecimento global, climas anteriormente vastos podem vir a sofrer maior fragmentação. Tais alterações podem desafiar diversas espécies, levando-as a se deslocar por territórios desafiadores em busca de habitats propícios. Se os vastos climas que conhecemos hoje começarem a diminuir, o equilíbrio das interações entre espécies pode ser drasticamente alterado. Por isso, entender a relação entre biodiversidade e clima é vital, não apenas do ponto de vista acadêmico, mas também para nos orientar na proteção e valorização da diversidade de vida em nosso mundo em constante mudança.
O que significa para você, enquanto cientista/pesquisador, publicar na Nature?
Publicar na Nature é, sem dúvida, um marco na carreira de qualquer cientista, dado o prestígio e o reconhecimento global associados a esse periódico. Para mim, como pesquisador em início de carreira, tem um significado especial, pois reflete não apenas o reconhecimento do rigor e da relevância da minha pesquisa, mas também o empenho, as discussões, os desafios de apresentar assuntos complexos de forma simplificada e as horas incansáveis de trabalho. Esta pesquisa, em particular, levou cerca de dois anos para chegar à forma como está apresentada atualmente.
A publicação em um periódico de tal prestígio é, de certa forma, uma espécie de cartão de visita, que traz vantagens em algumas situações específicas da carreira de um cientista. Porém, é essencial ressaltar que ter ou não um artigo em revistas de alto prestígio não deve ser visto como a única medida da relevância ou da qualidade dos estudos de um pesquisador. Há trabalhos científicos impactantes publicados também em periódicos específicos da área, assim como há pesquisadores brilhantes que nunca tiveram a oportunidade de publicar em revistas de tão alto impacto.
Outro ponto importante é a discussão sobre as desigualdades no mundo acadêmico. O modo como a ciência está estruturada torna mais difícil para as nações do sul global liderarem artigos em revistas generalistas, uma questão tão ampla que mereceria uma entrevista separada. No final das contas, o que realmente tem valor para mim é a oportunidade que tenho, que considero um privilégio, de exercer o melhor trabalho que poderia desejar.
Qual é a importância da CAPES em sua trajetória?
A CAPES teve um papel fundamental em minha formação acadêmica e trajetória científica. Foi pelo financiamento proporcionado por esta agência que pude realizar meu doutorado no Brasil. Tive a oportunidade inestimável de ser orientado pelos melhores professores do mundo, publicar meus primeiros artigos revisados por pares e me dedicar integralmente à aquisição e ao aprimoramento das ferramentas que, posteriormente, foram essenciais para o desenvolvimento do artigo em questão. Vale ressaltar ainda o imenso investimento da CAPES em proporcionar às universidades do País acesso a artigos científicos publicados em periódicos internacionais*, algo vital para a formação e atualização contínua de pesquisadores e estudantes.
Gostaria, no entanto, de expandir um pouco a visão e destacar a imensa importância do investimento público em educação, em minha trajetória. Durante os anos formativos da minha vida, cursei a maior parte em escolas públicas e, nas universidades públicas, completei tanto minha graduação quanto pós-graduação, todas, sustentadas integralmente por recursos públicos. Todos os professores que contribuíram para a minha formação são funcionários de instituições públicas. Em especial, gostaria de destacar a professora Érica Hasuí, minha mentora durante a graduação, e o professor Thiago Rangel, durante a pós-graduação. Ambos, além de fundamentais para minha formação, são docentes e funcionários de universidades públicas. A educação pública de qualidade não foi somente o alicerce da minha trajetória acadêmica e profissional, mas também representa o pilar para incontáveis histórias de sucesso em nosso País.
*N. da R.: O pesquisador se refere ao Portal de Periódicos da CAPES.
Legenda das imagens:
Banner e Imagem 1: Marco Túlio Pacheco Coelho foi bolsista da CAPES no doutorado em Ecologia e Evolução na Universidade Federal de Goiás (Crédito: Arquivo pessoal de Marco Túlio Pacheco Coelho)
Imagem 2: A floresta tropical da Costa Rica é um exemplo de região quente e rica em recursos naturais geograficamente situada como um bolsão isolado (Crédito: Jan Kronies/Reprodução)
Imagem 3: Já uma floresta de pinheiros coberta com neve é mais fria, tem menor biodiversidade, mas se conecta de forma mais coesa a climas semelhantes ao redor do mundo (Crédito: Ciprian Boiciuc/Reprodução)
Imagem 4: Gráfico ilustrativo da quantidade de anfíbios existentes em todo o mundo ressalta a maior ocorrência em climas tropicais (Crédito: Arquivo pessoal de Marco Túlio Pacheco Coelho)
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) é um órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
(Brasília – Redação CGCOM/CAPES)
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